Retrospectiva Literária (2021, 2022 e 2023)

 

Quando comecei a planejar esta retrospectiva, percebi que não a faço desde 2020, e assim resolvi fazer um compilado dos meus destaques de leitura dos últimos anos. Por conta disso, esta retrospectiva será um pouquinho diferente das anteriores, e trarei as principais recomendações de leitura de 2021 a 2023.

Caso você queira relembrar as leituras das retrospectivas anteriores, veja aqui:
2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | 2019 | 2020

Até 2021, eu conseguia manter uma rotina de publicar dois posts por semana. Durante os nove primeiros anos do Perplexidade e Silêncio, minha rotina de leitura era mais intensa, mas a partir do ano passado já não pude continuar com essa quantidade de posts e leituras. Por isso, em 2021, eu li mais, mas curiosamente poucos livros ficaram na minha memória, e resolvi trazer para esta retrospectiva a Sugestão de Leitura mais impactante.

A Vida Mentirosa dos Adultos, de Elena Ferrante
Resenha completa disponível aqui.
Publicado em 2019, é narrado em primeira pessoa por Giovanna. No início do livro, ela é uma criança/pré-adolescente que, aos poucos, descobre segredos e mentiras de sua família, e tais descobertas a levam para a adolescência e para o início da vida adulta. 
Houve momentos que me identifiquei muito com Giovanna e, em outros, a detestei, mas mesmo assim continuei entretida na leitura, fosse porque eu queria sua redenção ou porque queria que ela se autodestruísse de uma vez.
Além disso, o livro reforça o mérito enorme da Ferrante, que consegue impregnar o leitor com suas palavras e estilo. O que você lê fica grudado em você, como se o leitor fizesse parte da história e causador do sofrimento de todos. É impossível não recomendar Ferrante! Ela é, sem dúvida, uma das maiores escritoras contemporâneas.
Veja também: O Guia de Leitura de Elena Ferrante

Em 2022, comecei uma nova fase do Perplexidade e Silêncio, onde precisei adaptar o meu ritmo de leituras e postagens. Isso, naturalmente, me fez ler menos mas, ao mesmo tempo, fiquei mais seletiva em relação aos livros escolhidos - sobretudo em relação a gênero. De uma certa forma, essa mudança foi libertadora para mim, pois assim vi uma forma de dar continuidade no blog e não deixá-lo esquecido.  Ano passado, a leitura que mais me marcou foi:

Devoradores de Estrelas, de Andy Weir
Resenha completa disponível aqui.
Sem exagero, é um dos melhores livros que já vi na vida.
Publicado em 2021, "Devoradores de Estrelas" é uma história narrada em primeira pessoa por Ryland Grace. Grace acorda de um coma, sem memória, em uma nave interstelar. Quando olha ao seu redor, ele não reconhece onde está, tampouco as outras duas pessoas, já mortas, que estão nas camas ao lado dele. Aos poucos, Grace começa a se lembrar do que aconteceu para que ele estivesse ali, há anos-luz de distância da Terra e viajando em direção ao um outro Sistema Solar. Nestes pontos, o livro introduz flashbacks para o passado de Grace e, aos poucos, junto com o próprio narrador, o leitor fica sabendo que Grace está em uma missão suicida para salvar a Terra.
Essa história não é sobre salvar a Terra. Poderia ter sido uma ficção-especulativa sobre os efeitos da diminuição do Sol para nós, ou mesmo como lidaríamos com a fonte de energia que são os Astrophages, ou ainda o que faríamos com a informação de que fizemos nosso primeiro contato com uma espécie alienígena inteligente. Mas fico muito contente de ver que Weir escapou de todas essas idéias e trouxe uma narrativa mais criativa, que foca no relacionamento maravilhoso entre Grace e Rocky.
Rocky é um dos melhores personagens que eu já li, e sigo apegada nele até hoje.
Veja também: O livro ou o filme? | Perdido em Marte, de Andy Weir

Para este ano, a leitura de maior destaque para mim foi:
Antes que o Café Esfrie, de Toshikazu Kawaguchi
Resenha completa disponível aqui.Publicado em 2015, "Antes que o Café Esfrie" conta a história de um pequeno café, escondido em uma viela, chamado Funiculi Funicula. Conta a lenda urbana de Tóquio que, neste café, é possível viajar no tempo, mas as pessoas logo desistem da ideia quando descobrem as regras desta viagem.
Ao longo do livro, acompanhamos as histórias de diversas personagens que entram no café e decidem viajar no tempo a despeito destas limitações.
A mensagem do livro é clara, e ainda assim impactante. Mesmo que o resultado final não mude (o namoro continua terminado, a irmã de fato morre, Kei não sobrevive ao parto, Fusagi não recupera a memória), os viajantes mudam. Mesmo as pequenas ações, gestos e até mesmo olhares trocados nestas breves experiências no passado/futuro, os modificam, mostrando quão importante é estarmos inteiros no presente.

Destaques & Conquistas

Lancei um livro! 
Minha distopia "Insurgência" - detalhes aqui
Sinopse:
Eric já se acostumou com o silêncio do Apalavramento - e nem poderia ser diferente, já que não consegue comprar palavras com o dinheiro que ganha no campo de construção. Enquanto ajuda sua família a sobreviver ao regime opressor, Eric precisa salvar sua irmã do Alistamento Obrigatório. Ele, então, conhece Agnes e Sarah, amigas de infância que exibem sua riqueza através de uma tagarelice sem fim, e decidem invadir o Alistamento. Eric descobre que faz parte de algo muito maior e, se possível, ainda pior que o Apalavramento. Seu silêncio passa a ser um fardo, quando tudo o que ele quer é gritar por insurgência.
Foi um livro muito desafiador, pois foi a primeira vez que escrevi uma história narrada em primeira pessoa, do ponto-de-vista de um personagem masculino que não é o protagonista do enredo, e sim, um coadjuvante.

O Trem do Caronte e a Alma Perdida, de Deborah Mundin
Resenha completa aqui.
Deborah é especialista em trazer histórias conhecidas da mitologia grega para o nosso mundo contemporâneo. Neste conto de aproximadamente 50 páginas, o mito escolhido foi de Caronte, o barqueiro de Hades, que carrega as almas dos recém-mortos do mundo dos vivos para o mundo dos mortos. Aqui já ressalto um ponto que gostei muito, onde Deborah transforma o barco em trem, trazendo um toque mais moderno para o conto.
O que importa é: super recomendo a leitura. Ela flui muito bem pelo enredo, prende a atenção e é, sobretudo, original. Numa época de histórias requentadas, Deborah entrega autenticidade e muita personalidade. Definitivamente é uma sugestão de leitura.

Este ano, 2023, o Perplexidade e Silêncio completou 11 anos de existência. O blog tem me acompanhado por muito tempo, e aqui é meu espaço seguro, de refúgio, onde posso falar sobre o tema que mais gosto, literatura, e sentir que converso com amigos (talvez imaginários). Há dias que a saúde mental foi para o espaço mas, de alguma maneira, sempre me curo um pouco aqui.

Que venha o próximo!

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