Sugestão de Leitura | O Trem do Caronte e a Alma Perdida, de Deborah Mundin

 

Se tem uma pessoa que sabe escrever um bom conto, esta pessoa é a Deborah Mundin. Sempre fiquei impressionada com a capacidade que ela tem de, em poucas palavras, expressar tantas ideias, cenários e personagens. Por isso, fiquei muito feliz quando ela resolveu escrever uma história um pouco mais longa do que o seu habitual estilo, e assim hoje sugiro a leitura de "O Trem do Caronte e a Alma Perdida".

A Deborah já participou, algumas vezes, aqui do Perplexidade e Silêncio. Aproveite e dê uma olhadinha nos seus principais posts:
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Deborah é especialista em trazer histórias conhecidas da mitologia grega para o nosso mundo contemporâneo. Neste conto de aproximadamente 50 páginas, o mito escolhido foi de Caronte, o barqueiro de Hades, que carrega as almas dos recém-mortos do mundo dos vivos para o mundo dos mortos. Aqui já ressalto um ponto que gostei muito, onde Deborah transforma o barco em trem, trazendo um toque mais moderno para o conto. 

A protagonista é Agatha, detetive - e sim, a personagem foi inspirada em Agatha Christie. Agatha embarca no trem, ainda tentando entender o que está acontecendo. Ela vagamente percebe que talvez não esteja mais no mundo dos vivos, mas busca respostas sobre o que vem a seguir. Pouco tempo depois, o Bilheteiro aparece, impaciente para terminar com sua tarefa de revisão das almas. Outro ponto alto do conto é a dinâmica entre Agatha e o Bilheteiro. Agatha tem um humor sarcástico maravilhoso, enquanto Bilheteiro faz o tipo sério e formal. Eles realmente se complementam no enredo, e os diálogos entre ambos é excelente.
Inclusive, aqui ressalto, como escritora, que escrever diálogos é muito difícil. O diálogo precisa soar natural, orgânico e, ao mesmo, fazer a história andar. E, além disso, em poucas palavras, também precisamos transmitir a personalidade dos personagens, seu estilo de falar, as palavras que usaria, o ritmo de sua fala. Às vezes, o escritor é ótimo nas partes da prosa, mas peca nos diálogos, e este não é caso de Deborah. Ela escreve diálogos muito bem, e todas as interações são incríveis. 
 
Quando o Bilheteiro está revisando a lista de almas, ele percebe que há um passageiro faltando, e Agatha, sendo detetive, logo se prontifica a ajudá-lo a encontrar esta alma perdida. Através de Agatha, o leitor fica sabendo como funciona o Trem, e que quando a alma ainda tem assuntos não resolvidos no mundo dos vivos, ela pode acabar se perdendo. 
Não entrarei em detalhes sobre quem é a alma perdida, e quais são os assuntos não resolvidos, porque aí seriam spoilers do conto.

O que importa é: super recomendo a leitura. Ela flui muito bem pelo enredo, prende a atenção e é, sobretudo, original. Numa época de histórias requentadas, Deborah entrega autenticidade e muita personalidade. Definitivamente é uma sugestão de leitura.

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Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 5/5

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