Sugestão de Leitura | Antes que o Café Esfrie, de Toshikazu Kawaguchi

 

Não há assunto que me fascine mais do que viagem no tempo. Sempre que me deparo com um livro que promete tocar no tema, eu saio correndo para ler. Foi assim que cheguei em "Antes que o Café Esfrie", do autor japonês Toshikazu Kawaguchi.

Aqui no Perplexidade e Silêncio tem bastante conteúdo de literatura sobre viagem no tempo. Caso você também goste desse assunto, dê uma xeretada aqui.

Publicado em 2015, "Antes que o Café Esfrie" conta a história de um pequeno café, escondido em uma viela, chamado Funiculi Funicula. Conta a lenda urbana de Tóquio que, neste café, é possível viajar no tempo, mas as pessoas logo desistem da ideia quando descobrem as regras desta viagem, que são:

- Você pode viajar ao passado, mas nada do que faça lá vai mudar o que acontece no presente, não importa o que o viajante tente.
- Você só pode fazer uma viagem e precisa escolher se ela será para o passado ou para o futuro.
- Você deve sentar em uma cadeira específica do café e você só pode encontrar pessoas, no passado ou no futuro, que já tenham passado pelo café.
- Toda a viagem precisa durar o tempo do café esfriar. Se o café esfriar e você ainda estiver no passado ou no futuro, lá você ficará preso, como um fantasma.
- E há uma mulher de vestido branco ocupando esse assento, há mais de dez anos, pois ela não voltou de sua viagem antes do café esfriar, e agora é um fantasma no café. O viajante precisa esperar ela ir ao banheiro para sentar na cadeira correta e poder viajar.
- Ao viajar para o futuro, você precisa adivinhar corretamente um dia e horário que talvez encontre a pessoa que gostaria de conversar, o que é praticamente impossível.

Ao longo do livro, acompanhamos as histórias de diversas personagens que entram no café e decidem viajar no tempo a despeito destas limitações. 
Kawaguchi começa o livro com uma narrativa mais simples, nos dando a oportunidade de nos acostumarmos com as regras da viagem no tempo e com o cenário da obra. Temos, assim, Fumiko que, de coração partido pelo repentino término de seu relacionamento, deseja voltar no tempo para falar coisas ao seu (agora ex) namorado, coisas que ela se arrepende de não ter dito antes do término. 

Depois, vamos para a história de Fusagi e Kohtake (que me deixou muito emocionada). Fusagi vai todo os dias para o café e fica esperando a mulher de vestido branco ir ao banheiro, pois ele quer voltar ao passado e entregar uma carta à sua esposa. Depois descobrimos que Kohtake é a sua esposa, mas como Fusagi está com Alzheimer, ele não se lembra mais dela. Assim, Kohtake decide que ela vai viajar no tempo para saber o que seu marido tem a dizer, e para se encorajar em ler a carta. 

Há a história de uma moça (desculpem, esqueci o nome da personagem) que se recusa a ter contato com a família, e a irmã a visita com frequência, mas ela se esconde e se esquiva, nunca encontrando com ela. A irmã morre, e ela decide voltar ao passado para acertar os pontos com a irmã.

O livro encerra com uma história linda, que também mexeu bastante comigo, de Kei e Nagare. Kei tem uma doença no coração e sua gravidez a está definhando dia a dia, e ela decide que não se importa de morrer, e irá ter seu filho assim mesmo (eu sei, é um ponto-de-vista controverso). Ela é a única personagem que viaja para o futuro, porque ela quer saber como o filho dela será. Gente, não tem como não chorar. É um final incrível, super poético.

A mensagem do livro é clara, e ainda assim impactante. Mesmo que o resultado final não mude (o namoro continua terminado, a irmã de fato morre, Kei não sobrevive ao parto, Fusagi não recupera a memória), os viajantes mudam. Mesmo as pequenas ações, gestos e até mesmo olhares trocados nestas breves experiências no passado/futuro, os modificam, mostrando quão importante é estarmos inteiros no presente. Sei que parece uma mensagem clichê, mas nem por isso o livro se torna um. Eu gostei muito da leitura - que é rápida e curta - e recomendo este livro.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5

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