Retrospectiva Literária 2017


Ao longo de 2017, aqui no Perplexidade e Silêncio tivemos nada mais, nada menos do que 92 posts e falamos sobre 132 livros. Este ano, decidi fazer uma retrospectiva literária diferente das anteriores e, por isso, dentre estes 132 potenciais ganhadores do ano, escolhi meus cinco favoritos e também, vou comentar as minhas conquistas.


Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie

Este livro como parte do Desafio Livros Pelo Mundo.
Publicado em 2013, a obra conta a estória de Ifemelu, uma nigeriana igbo que decide mudar-se para os Estados Unidos, não só por causa da perspectiva de obter um estudo melhor e, consequentemente, um bom emprego, como também na tentativa de encontrar um lugar ao qual se sinta pertencente. O livro começa anunciando que Ifemelu, depois de treze morando nos Estados Unidos, decide retornar à Nigéria, a despeito de todo o ceticismo de amigos e familiares próximos, que acreditam ser uma decisão errada. Ela entra em um salão de beleza especializado em cabelos crespos para fazer uma trança e se depara com mulheres desagradáveis e um ambiente sufocante.
A escrita de Chimamanda é incrível, transformando Ifemelu em uma das melhores personagens femininas que li. Escolhi este livro para a retrospectiva pelo seu nível de profundidade: há questões políticas, históricas, geográficas, feministas e psicológicas ao longo de toda a narrativa, tornando-o numa obra-prima dos tempos modernos. É uma leitura que recomendo muitíssimo, pois seu conteúdo tem o poder de transformar a forma de ver o mundo. 
Para ler a resenha completa, clique aqui.

Perdido em Marte, de Andy Weir

Este livro apareceu para a sessão O Livro ou o Filme?
De forma geral, o gênero de ficção-científica tem uma característica de seriedade e racionalidade que afasta alguns leitores. No entanto, "Perdido em Marte" de Andy Weir veio na contramão desta característica, originando um filme incrível e um livro maravilhoso.
Quase toda a estória é narrada através do diário de bordo do astronauta Mark Watney. No ano de 2035, a NASA começou a enviar missões, denominadas Ares, para preparar Marte para a chegada dos seres humanos. A missão Ares III, da qual Watney fazia parte com outros seis astronautas, sofre um acidente decorrente de uma tempestade de areia apenas seis dias depois de terem pousado em Marte. Toda a tripulação precisa sair às pressas do planeta, mas Watney é dado como morto e deixado para trás. No entanto, ele sobreviveu ao acidente e se vê sozinho e abandonado em Marte.
Mark Watney é o que faz esta estória funcionar. Ele é carismático, engraçado e seu humor leve é o contraponto perfeito para sua situação trágica e única. Sem ele, os diversos conceitos científicos e tecnológicos que surgem no enredo seriam insuportáveis.
É um livro que recomendo tanto para os leitores de ficção-científica quanto para aqueles que não gostam do gênero, pois a obra consegue ser abrangente e interessante. Por isso, ele foi escolhido para esta retrospectiva - e porque me apeguei a Mark e quero ser amiga dele.
Para ler o post completo, clique aqui.

O Problema dos Três Corpos, de Cixin Liu

Este livro também fez parte do Desafio Livros Pelo Mundo.
Esta ficção-científica é para os fortes. É um livro intelectualmente muito desafiador que pode assustar alguns leitores.
No início do livro, o leitor é apresentado a Wenjie Ye e à Revolução Cultural da China. O próprio Cixin Liu cresceu na época desta Revolução, que foi um período marcado por extrema violência na China, com guerras civis espocando por todos os lados e uma ideologia de destruição do capitalismo e da burguesia. Milhões de pessoas foram perseguidas e executadas em praça pública por civis partidários da Revolução, sem nenhuma punição ou intervenção do Governo. Assim, a estória começa com o pai de Wenjie Ye, Zhetai Ye, sendo torturado e morto por seis adolescentes em uma praça, depois de ter sido denunciado pela própria esposa, mãe de Wenjie Ye, e pela sua irmã mais velha.
Nesta época, físicos e cientistas eram considerados inimigos da Revolução Cultural, pois acreditava-se que suas idéias e propósitos serviam ao capitalismo e às classes sociais mais fortes e ricas. Por isso, Zhetai Ye foi morto, pois era físico, e Wenjie Ye precisou fugir, pois ela própria também estudava para tornar-se astrofísica.
Este pano de fundo político irá permear toda a narrativa, pois os efeitos da Revolução Cultural na sociedade chinesa repercutiram por muitos anos. É uma boa maneira de aprendermos mais sobre a História deste país e as passagens são muito chocantes. Assim, o livro já começa com um chute no estômago e uma cena de morte violenta e assustadora.
Este livro é muito complexo, então recomendo ler a resenha completa aqui.

Nós, de Yevgeny Zamyatin

Este livro foi Sugestão de Leitura do mês de Julho.
Eu jamais poderia deixar de fora da retrospectiva a primeira distopia escrita.
O cenário de "Nós" é o futuro do século 26. Nesta sociedade, os indivíduos foram despojados de suas identidades, sentimentos e nomes e, por isso, o protagonista da estória é D-503. Todos os edifícios são feitos de vidro, assim como os móveis e utensílios, e os indivíduos tem horas determinadas pelo Governo (chamado de Estado Único) para passear, comer, dormir e fazer sexo. O sexo também é regulamentado, através dos Talões Rosa, e é preciso registrar-se e ser selecionado para ter um(a) parceiro(a) sexual. Não é permitido morar com outras pessoas e não há a noção de família nesta sociedade. Todo o comportamento dos indivíduos é baseado em lógica e raciocínio matemático.
Além disso, o próprio Zamyatin merece uma menção honrosa. Zamyatin causou tantos transtornos e distúrbios que a polícia e o Governo russo da época (União Soviética, ainda) o impediram de continuar escrevendo. Ele chegou a apelar a Stálin para poder exercer a profissão e, como não a obteve, pediu para ser exilado da União Soviética.
Adoro distopias e esta é, de longe, a melhor que já li. Ouso dizer que achei-a melhor que a famosa "Admirável Mundo Novo" de Huxley. Para ler a resenha completa, clique aqui.

O Conto da Aia, de Margaret Atwood

Para quem acompanha o blog, não é nenhuma surpresa que o primeiro lugar da retrospectiva é este livro da Atwood. Ele foi Sugestão de Leitura do mês de Janeiro e suas implicações me acompanharam pelo resto do ano. 
"O Conto da Aia", publicado em 1985 (o ano em que nasci, aliás), é categorizado como distopia e como ficção especulativa. Como pano de fundo da estória, temos uma Nova Inglaterra de um futuro não muito distante ao nosso, onde o Governo é totalitário e teocrata. Ou seja, o sistema político não tem limites nem regulação e detém o poder de ser cruel e opressor; e, além disso, Deus é a fonte de toda a autoridade (e versículos da Bíblia são mencionados com força de Lei). Por conta disso, a região que seria a Nova Inglaterra nos EUA foi renomeada para Gilead, uma cidade bíblica.
Para mim, este livro é uma verdadeira obra-prima. Ele é tão relevante em tantos aspectos que fiz um post dedicado à sua exaltação, chamado "9 motivos que fazem de O Conto da Aia uma obra muito relevante". Para ler, clique aqui.
Para ler a resenha completa, clique aqui.

Além disso, este ano tive o orgulho de participar de duas antologias. Em ambas, participei dos concursos lançados pela editora e fiquei muito feliz por ter sido escolhida.

Antologia Valquírias (Editora Darda)

Em Fevereiro, a Editora Darda lançou a antologia "Valquírias".
As organizadoras Márcia Dantas e Fernanda Castro idealizaram este projeto já faz alguns anos, pois elas - assim qualquer leitor mais atento - perceberam que o gênero da Fantasia era praticamente dominado pelos homens, com algumas exceções. Esta dominação era tanto na produção literária quanto na representação das personagens, afinal, os enredos fantásticos, em sua maioria, são protagonizados por heróis, cavaleiros e reis e publicados por escritores.
Por isso, esta antologia reúne vinte escritoras, e todos os contos são protagonizados por personagens femininas bem badass.
A inspiração para o nome da antologia, claro, veio do mito nórdico das Valquírias, guerreiras e valentes, corajosas e destemidas. Este é o espírito que permeia toda a antologia. O meu conto se chama "A Batalha de Freya" e fala de um momento de ruptura crucial na vida da Rainha das Valquírias.
Para saber mais sobre a antologia, clique aqui.

O Hospício de Muskov (Editora Wish)

Em Outubro, a Editora Wish lançou a antologia "O Hospício de Muskov". 
A antologia reúne 27 contos e, em todos eles, a narrativa acontece dentro do Hospício de Muskov. Por se tratar de uma antologia de época, foi imprescindível que, nós, escritores, fizéssemos um apurado trabalho de pesquisa sobre o tratamento de transtornos psiquiátricos no século 19. Os contos passaram por uma revisão histórica detalhada, para garantir que todos os elementos inseridos nas tramas fossem reais e verossímeis à proposta da antologia.
O fictício Hospício de Muskov foi inaugurado em 1812, na Rússia, e fechado em 1945, após a guerra. Em uma época de pouca tecnologia, buscava-se a cura através de métodos cruéis, utilizados sem restrição.
O meu conto é o terceiro do livro e chama-se "Eugênia e Anatólia", que fala sobre a relação bizarra entre uma enfermeira e uma paciente maníaca do hospício.
Para saber mais sobre a antologia, clique aqui.

E para você, quais foram os destaques literários de 2017? Comente, vou adorar saber!

Caso queira ver as retrospectivas dos anos anteriores, navegue:

2 Comments

  1. Oi, Rubia! Eu finalmente iniciei a leitura de "O conto da aia", passei o ano todo ouvindo todo mundo elogiar, estava bem curiosa. Parece realmente sensacional. To no comecinho ainda mas ja to curtindo bastante. "Nós" esteve no meu carrinho de compras por meses (ainda está lá, na vdd) mas sempre fico em dúvida se levo ou nao. Mas na próxima oportunidade vou levá-lo. Principalmente, depois de vc dizer que o considera ainda melhor que "Admiravel mundo novo"! =D
    Bjos.
    Daniela Tiemi
    leiturasecomidinhas.com.br

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