Já Li #77 - Mistborn, Segunda Era, vol. 3: Os Braceletes da Perdição, de Brandon Sanderson


Prosseguindo com a leitura da Segunda Era de Mistborn, escrita pelo incrível Brandon Sanderson, temos a resenha do terceiro volume, intitulado "Os Braceletes da Perdição".

Para navegar pelas resenhas dos volumes anteriores, clique abaixo:

Se você chegou até aqui, vou partir do princípio que já está familiarizado com o sistema mágico que Sanderson criou, com seus fascinantes alomânticos e feruquemistas. Agora, se você é curioso e quer saber mais detalhes sobre Mistborn, sugiro começar da Primeira Era, nos posts abaixo:

Publicado em 2016, "Os Braceletes da Perdição" continuam as aventuras de Waxillium (Wax) e Wayne para defender o mundo das atrocidades cometidas pelo Sr. Elegante, tio de Wax.

A estória começa com um enfoque maior no relacionamento amoroso entre Wax e Steris. A princípio, eles assinaram um contrato de casamento apenas por interesse comercial, pois tal contrato beneficiaria a saúde financeira de ambas as famílias. Ao longo dos volumes anteriores, Steris foi, gradativamente, mostrando seu valor, mas ainda era uma personagem secundária, que ficava à sombra de Marasis, sua meia-irmã. Neste volume, logo no início da trama, Steris descobre várias pistas muito importantes sobre o paradeiro de Sr. Elegante, ajudando Wax nas investigações de forma imprescindível. A partir disso, Wax começa a vê-la com outros olhos, pois ela não é "entediante e chata" como se autoproclama.

Wax e Wayne, então, descobrem que o Sr. Elegante sabe do paradeiro dos Braceletes da Perdição, usados pelo Senhor Soberano (da "Primeira Era" de Mistborn) e que contém um poder com imenso potencial destrutivo se cair nas mãos erradas. Assim, os dois protagonistas e sua comitiva (Steris, Marasi e a kandra MaLeen) seguem para o sul de Scadriall, em terras completamente inexploradas e desconhecidas.

Bom, e aqui começam os meus problemas com este livro. Quem acompanha o blog sabe que sou muito fã de Sanderson e, por isso, minhas críticas virão com muita dor no coração.
Ele escreve mil coisas ao mesmo tempo: esta quadrilogia, "Stormlight Archives", "Os Executores" e "A Roda do Tempo", além de outros livros que, sem dúvida, esqueci de mencionar. Todas estas obras são sagas de fantasia ou Alta Fantasia, ou seja, requerem um trabalho árduo, constante, profundo e complexo. Normalmente, o ritmo frenético e super produtivo de Sanderson não altera a qualidade de seus livros... até agora.

Não sou capaz de explicar como Wax e Wayne chegaram às descobertas sobre os braceletes, tampouco como eles foram parar no sul de Scadriall, e sabem por quê? Porque o enredo deste volume é muito confuso e poluído. Há diversas cenas de ação que, apesar de bem escritas e detalhadas com precisão, não agregam nada à trama, apenas distraem o leitor do eixo principal da narrativa. Há também um doloroso excesso de voz passiva, ou seja, as personagens sofrem as ações, mas não participam ativamente delas. E, para completar o cenário, Sanderson parece ter se perdido na estória, pois os conflitos se sobrepõem e ele deixa escapar alguns buracos do enredo.

E, para piorar, as personagens não evoluem e carecem de clímax. Marasis desenvolve uma resistência maior a assassinatos e parece se conformar que não terá um relacionamento amoroso com Wax, e é só. Steris tenta encontrar seu papel na comitiva. Wax se percebe moderamente apaixonado por Steris. Wayne continua sendo Wayne e MaLeen continua sendo MaLeen - o que, no caso deles, é algo bom, pois eles são minhas personagens preferidas. Mesmo a adição de novas personagens, como a irmã de Wax e os selvagens do Sul, não me cativaram. 

Mas o pior de tudo foi Sanderson se valer do pobríssimo recurso "Deus ex-machina". Para quem não sabe, este é um recurso utilizado para resolver um problema em sua estória, mas é um recurso introduzido repentinamente na trama, algo improvável e absurdo, que resolve sim o problema mas a custo da lógica, da integridade e da imaginação. Cuidado com este spoiler mas, na minha opinião, Wax deveria ter continuado morto. Quando o "Deus ex-machina" apareceu para ressuscitá-lo, quase larguei o livro. 

Só uma coisa não me impediu de desistir da leitura: a noção nova e surpreendente de que o Senhor Soberano não morreu e foi para o sul, ajudar o povo de lá a ter uma vida digna, como uma redenção de todas as mazelas que criou no seu Império de Mil Anos. Surgiram novos metais, novas tecnologias, novos cenários e um novo povo, e todas estas especulações estão coesas com o restante do universo de Mistborn. São estes elementos que mostram o grande escritor que Brandon Sanderson é e me fazem prosseguir na leitura da "Segunda Era", esperançosa de que ele corrija os erros no próximo e último volume.

A sensação que tenho foi de que Sanderson deu um passo maior que a perna. Na ânsia de dar conta de todos os contratos com suas editoras, deixou a desejar no planejamento e no desenvolvimento de uma estória que já é, em si mesma, complexa e intrincada. Mas, ainda assim, confio nele, e estou ansiosa pelo encerramento da quadrilogia, que deve vir somente em 2019.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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