8 fatos sobre a Era Vitoriana que me deixaram puta


Quem acessa o blog com frequência sabe que, por aqui, nunca escrevi palavrões. Mas hoje abri uma exceção porque não há outra forma de reagir a certos fatos que descobri recentemente sobre a Era Vitoriana, quando estudava para escrever um novo conto. Fiquei puta e você também deveria ficar.

Lendo os fatos abaixo, não será difícil perceber que muitos deles ainda tem implicações e consequências nos dias de hoje. Embora a Era Vitoriana tenha, oficialmente, terminado em 1901, ainda lutamos contra seus machismos e paradigmas mais de 100 anos depois. 

A convidada mais do que especial deste blog, Deborah Mundin, também ficou indignada com algumas descobertas e contribuiu com os itens 2, 3, 5 e 6 deste post. Por isso, venha ficar puta junto conosco!


1. As mulheres não tinham direito ao voto ou à propriedade

As sufragistas, mulheres que lutaram ativa e incansavelmente, conseguiram o direito ao voto na Inglaterra em 1918 e, depois, outros países também começaram a adotar a prática. No Brasil, as mulheres só ganharam o direito ao voto em 1932. 
Isso significa que, na Era Vitoriana, a mulher não tinha autorização para opinar na economia, na sociedade ou na política. O fato das mulheres não votarem significa, em outras palavras, que elas não eram vistas como seres pensantes, com necessidades e anseios. 
Além disso, as mulheres não podiam acumular bens e propriedades, pois não eram vistas como parte da economia e da sociedade. Assim, elas não podiam ter dinheiro, poupança, casa, nem mesmo um cavalo. Isso me lembrou “O Conto da Aia”, de Margaret Atwood, onde as mulheres são destituídas de suas posses e suas contas bancárias, que passam a ser controladas pelos maridos ou parente homem mais próximo.

2. A esposa era mais uma propriedade do marido

Nos contratos de casamento da Era Vitoriana, a mulher era elencada como mais uma propriedade do marido, ao lado de casas, terrenos, cavalos e o que mais o marido tivesse. Afinal, como vimos acima, a mulher tinha um caráter de “objeto”, não de “sujeito”, e era tratada como tal. Casamentos eram contratos e a mulher era o produto. 

3. A função da mulher era obedecer 

Na época a mulher era educada para obedecer. Uma boa mulher era educada, fina, silenciosa e principalmente, obediente. Primeiro, obedecia ao seu pai, se fosse uma família de posses, seu pai lhe arranjaria um bom casamento, nada dessa coisa de gostar, amar ou sentimentalismos, era um arranjo comercial. O pai avisava a “felizarda” sobre isso, que, obviamente, aceitava. Casada a mulher agora obedecia ao marido. Na casa de seus pais e na sociedade ela não possuía voz, na casa de seu marido ela não possuía nem o próprio corpo. Mulher precisava gerar filhos. E era isso que ela fazia. Orientação sobre sexo? Assunto tabu até nas rodas de conversa entre amigas. Prazer ou orgasmo? Aqui não. Era uma obrigação ela se deitar com o marido e gerar seus filhos e ponto. Essa regra sobre obediência e submissão era tão grande que as governantas (mulheres que possuíam educação porém não o dinheiro para o dote para conseguir casar e trabalhavam dentro das casas como uma professora/babá/educadora/segunda mãe) eram vistas com receio, pois poderiam dar ideias de uma vida de liberdade para suas meninas. 

4. Bater em mulher não era violência

Até aqui, aprendemos que a mulher da Era Vitoriana não tem voz, não tem direitos, não tem dinheiro nem bens (e, por isso, não pode ir para lugar nenhum, sendo completamente dependente do marido) e não é vista como um sujeito. Não é muito difícil prever os desdobramentos disso: o marido pode usar e abusar a violência (psicológica, emocional, física) contra a mulher. Vemos isso até hoje em dia: quando uma mulher apanha, a sociedade enxerga como culpa dela, não do homem.
A primeira lei contra violência às mulheres veio no tratado de proteção animal. Isso mesmo, você leu certo. Depois, revisaram o tratado e escreveram outro, que dizia que os maridos podiam bater nas mulheres, mas não outros homens. 
Mas, ainda assim, apenas as mulheres pobres eram investigadas em casos de violência doméstica, e elas tinham que provar que tinham sido espancadas sem merecer. Se alguém julgasse que era “merecido”, eles retiravam a acusação. Além disso, as classes média e alta nunca sofriam investigações, pois dizia-se que somente as mulheres das classes baixas eram mundanas a ponto de apanharem. Sororidade mandou lembranças.

5. Mulheres só podiam ter um parceiro sexual, enquanto os homens poderiam ter várias.

Na real, a época vitoriana era bem pudica quando se tratava de sexo. A rainha Vitória passou 40 anos guardando luto, só teve um único homem em sua vida, então não era aprovado homens ou mulheres terem muitos parceiros sexuais, mas , obviamente, os homens sempre ganham umas regalias nesse quesito. 
A sociedade não via com bons olhos, porém a prostituição era bem comum.Tão comum e tão abundante que era encarada como um trabalho sedutor para as mulheres de classe baixa que morriam dentro das fábricas. 
Mulheres tinham que casar puras, porém essas regras não se aplicavam aos homens. O atrativo da pureza feminina era tão grande que homens pagavam para desvirginar jovens, e jovens eu quero dizer meninas de 12/13 anos. 
Não era aceito o adultério, porém era de conhecimento geral que homens casados frequentam bordéis e havia uma casta entre as prostitutas, das que atendiam os proletários até as que recebiam homens da alta classe, às vezes como cliente único e viviam como a segunda esposa. 
Alguns conceitos parecem familiares? Pois é, não estamos tão evoluídos nessa questão, não é mesmo?!

6. Histeria e masturbação

A maior parte das mulheres doentes eram diagnosticadas com “histeria”, saúde feminina era algo bem complicado na época já que as autópsias do corpo feminino não eram permitidas e durante um bom tempo os médicos não podiam tocar nas partes dos corpos que eram usualmente cobertas então não havia muito conhecimento técnico da anatomia das mulheres. Então generalizavam as doenças como histeria, quase todos os males do corpo eram sintomas para essa doença que tinha como foco a insatisfação sexual das mulheres. - Aqui vale um grande parentes, a era vitoriana era uma loucura cheia de paradoxos e meio que ninguém ligava. As mulheres eram vistas como seres existentes apenas para satisfazer o luxúria masculina, impossível de sentirem prazer, mas a doença mais famosa da época advém da insatisfação sexual, que obviamente não era culpa dos homens, pois era impossível satisfazê-las - Como cura, os médicos realizavam a massagem pélvica até que a mulher passasse por “paroxismo histérico”, trocando em miúdos, eles masturbavam as mulheres até elas atingirem o orgasmo. 
Vou dar uns segundos para você absorver essa informação. 
Pense nisso juntamente com a obediência e submissão da mulher. 
Feio esse cenário, não?!

7. O excesso de pudor

Se, no Verão, você coloca um shortinho embaixo da saia ou do vestido com medo de que a roupa esteja muito curta, saiba que este excesso de pudor começou na Era Vitoriana. Naquela época, as mulheres não podiam falar sobre o corpo feminino e daí surgiram muitos tabus que ainda temos em nossa sociedade como, por exemplo, falar de menstruação. E também não é difícil perceber que prazer sexual e consciência corporal eram coisas completamente fora de cogitação. O pudor de estendia aos nomes dados a calcinhas e sutiãs, além dos itens de higiene íntima. Lembre-se disso quando você sentir vergonha de sair do mercado com um monte de pacotes de absorvente - estamos no século 21.

8. Mulher não podia fazer atividade física

Sei que essa é uma questão muito pequena quando comparamos ao que foi mencionado acima, mas é só pensarmos nas repercussões disso para vermos que não é algo assim tão simples. A mulher não podia fazer esportes e, consequentemente, não podia competir, expandir o círculo social, fazer amizades, participar de torneios de forma ativa (e não como uma espectadora ou uma torcedora). A atividade física permite consciência corporal, superação, motivação e objetivos e, claro, nada disso era permitido à mulher. Além disso, havia a questão do suor, relacionada ao item anterior, que era considerado “feio” para as mulheres, que deviam estar sempre limpas, arrumadas e perfumadas. 

Agora, imagine um dia típico seu.

Você estuda, trabalha, tem uma conta bancária, vai à academia (ou joga futebol, ou faz natação, ou fez aulas de dança, etc.), sai com seus amigos, vota, quer casar ou não, quer ter filhos ou não, faz sexo, pode ter bens (carro, casa, bicicleta, um par de tênis, um financiamento bancário) e está aqui lendo este post. 
Por isso, da próxima vez que você se pegar pensando “eu queria ter nascido em outra época” - principalmente depois daquele cenário romantizado de “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen - repense: não, amiga, você não queria. 

Aproveite as oportunidades que centenas de mulheres lutaram por séculos para te dar.
E reflita o que você pode fazer pelas mulheres que virão.

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