Já Li #178 - Recursão, de Blake Crouch

 


Eu tentei dar uma segunda chance a Blake Crouch, com "Recursão", mas não valeu a pena. Nesta resenha, explico tudo o que não gostei nessa obra, e porquê não pretendo ler Crouch de novo.

Minha decepção com o autor começou aqui: Já Li #170 - Matéria Escura, de Blake Crouch

Antes de mais nada, eu não conhecia a palavra "recursão" até chegar neste livro, então, caso você também não saiba, "recursão" significa a ação de reajustar e de corrigir (linhas, colunas, páginas), o que basicamente sintetiza a ideia central do enredo.
Barry Sutton, um policial de Nova York, está investigando a Síndrome da Falsa Memória, que tem ganhado mais e mais destaque na mídia nos últimos tempos. Suas investigações o levam a conhecer Helena Smith, uma neurocientista que constrói uma cadeira recuperadora de memórias, motivada por curar sua mãe, com Alzheimer. Contudo, descobre-se que a cadeira vai muito além de recuperar memórias e, na verdade, arremessa a consciência das pessoas de volta ao passado, onde elas teriam uma segunda chance de reescrever sua história. 
O enredo começa com Barry retornando ao dia em que sua filha morre atropelada, impede que o acidente aconteça e revive seus últimos quatorze anos, ao lado da filha e da sua esposa.

A primeira coisa que me incomodou é que, assim como em "Matéria Escura", Crouch não sabe explicar bem as premissas de sua própria ficção-científica. Se em "Matéria Escura", o leitor tem que se satisfazer com uma explicação esdrúxula sobre um líquido que permite viagens entre dimensões, em "Recursão" temos uma série de coisas sem sentido sobre estimulantes cerebrais, viagem no tempo da consciência da pessoa (mas não do corpo dela, que morre na cadeira) e sinapses. Ou o escritor sabe brincar de hard sci-fi, como Andy Weir, ou não sabe, e Crouch não sabe.

Outro ponto terrível deste livro, para mim, foi a confusão. Fiquei me perguntando se Crouch não tinha nenhum editor ou amigo que lhe dissesse que a descrição das dezenas de linhas do tempo estava tremendamente problemática. No enredo, cada vez que alguém volta no tempo através da memória, essa pessoa cria uma linha do tempo morta (ou seja, o mundo onde ela estava quando entrou na cadeira de Helena). Quando a linha do tempo morta se encontra com a nova linha do tempo, as pessoas desta última recuperam todas as suas memórias da linha do tempo morta. E se você não está entendendo minha explicação, te garanto que no livro é muito pior. A experiência de leitura é horrorosa. 
Os editores colocaram datas no início dos capítulos, numa tentativa de situar o leitor, mas não ajuda quase nada. Num determinado momento, são tantas linhas do tempo se entrecruzando nas memórias de Barry e Helena que eu quase desisti de ler.

Também quase desisti de ler quando, numa tentativa de impedir que a cadeira chegue aos Governos (americano, russo e chinês, quanto clichê!), Helena fica re-re-re-reescrevendo sua história, a partir de uma memória dos seus 16 anos. Que chatice sem fim! Me lembrou a leitura maçante de realidades paralelas de "A Biblioteca da Meia-Noite" de Matt Haig. E outro clichê é que, não importa a combinação de fatores, os Governos sempre iniciarão uma guerra por causa da cadeira. Zero interessante.

Não é que a ideia de Crouch seja ruim. Assim como em "Matéria Escura", a premissa do enredo tem seu valor, mas ele peca muito na execução. Falta aprimoramento técnico na escrita, pois Crouch não consegue dar uma voz diferente a cada personagem e também não sabe desenvolver diálogos interessantes. Falta polimento, as cenas carecem de aprofundamento, e a narrativa não é bem construída. Falta antagonistas interessantes, exatamente como acontece em "Matéria Escura", e essa ausência de recursos dele como escritor o empurra para clichês bestas e uma leitura impossível de acompanhar. 

Crouch, deixe a ficção-científica para quem realmente entende do gênero.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 1/5

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