Já Li #179 | Magisterium, Vol.1: O Desafio de Ferro, de Holly Black e Cassandra Clare

 

Comecei a ler esta obra certa de que seria uma coleção de clichês de histórias de fantasia, e qual não foi minha surpresa quando me deparei com uma história que me deixou entretida do começo ao fim. No post de hoje, falarei sobre o primeiro volume da série Magistério, "O Desafio de Ferro", de Holly Black e Cassandra Clare.

Caso você goste de Cassandra Clare, recomendo este post: O livro ou o filme? | Instrumentos Mortais, Vol. 1: Cidade dos Ossos, de Cassandra Clare

Publicado em 2014, "O Desafio de Ferro" inaugura a série Magistério, que tem cinco volumes. A premissa desta série não é muito original, pois fala de estudantes de magia que precisam aprender a controlar seus poderes, que estão conectados com os elementos da natureza. O protagonista é Call (Callum Hunt), um menino de doze anos, filho de magos, e portador de uma deficiência na perna. Call perdeu a mãe quando ainda era um bebê, na guerra contra o Inimigo da Morte, e seu pai, Allastair, pede a Call que seja reprovado no Magistério. Allastair teme que seu filho tenha o mesmo destino da mãe, e Call não está nem um pouco animado com a ideia de virar um mago.
É claro que ele muda de ideia assim que passa nos exames do Magistério e começa a fazer amizades com Aaron e Tamara, seus companheiros de aprendizado com o Mestre Rufus. Até aqui, nada muito original no enredo.

A leitura começou a ficar interessante com o cenário criado por Black e Clare. Diferente de todas as escolas de magia que li até hoje (e olha que li muitas!), o Magistério fica dentro de cavernas. É um cenário muito legal de imaginar, com suas passagens secretas, cristais que mudam de cor forrando as paredes, lagos subterrâneos com peixes cegos, estalagmites e coisas do gênero. Achei criativo. 
Também gostei do próprio Call, que tenta, de todos os jeitos, fracassar nos exames de admissão do Magistério para agradar ao pai. Há uma inversão nos padrões aqui que eu gostei bastante, como quando ele fica triste porque entrou no Magistério, enquanto todos ao seu redor estão contentes. Call tem uma personalidade bem definida, e também gostei do toque de inclusão e representatividade de sua deficiência física. 

A manipulação dos elementos (água, fogo, terra e ar) é clichê, mas há a adição de um quinto elemento, o caos, que torna esse universo mágico mais legal. O contraponto do caos é a alma, e há magos que dominam e controlam o caos. Eles não são categorizados como maus nem como vilãos, o que achei também um alívio para os clichês. Na história, o Inimigo da Morte é um mago que tenta controlar o caos para evitar que as pessoas morram, e o Magistério busca o Makar, que seria um mago oposto, capaz de neutralizá-lo e garantir que a ordem natural das coisas seja respeitada (ou seja, o ciclo de vida e morte). Aí, quando tudo levaria a crer que Call seria o tal Makar, ele não é. De novo, Black e Clare revertem as expectativas, levando o enredo para um caminho novo.

Call, na realidade, é o antagonista de todo o universo criado por elas, e é como se nós estivéssemos lendo sobre a origem do vilão - embora vilão não seja a palavra correta aqui, vejam meu artigo sobre A diferença entre Vilão e Antagonista. Gostei muito de mais essa inversão num enredo que, de outra maneira, seria batido e previsível. E não apenas é uma inversão legal de ler, como é coerente com a personalidade de Call, como se fosse o caminho natural para ele. 

Eu, como escritora de Fantasia, sei bem como é difícil criar uma história que seja original e, ao mesmo tempo, relevante. Existem toneladas de livros sobre magos - só aqui no blog, sem pensar muito, lembro de Simon Snow, Ciclo Terramar, Os Seis de Atlas, Kingdom of Fire, entre outros - então é óbvio que haverá semelhanças. Nem acho que Black e Clare queriam reinventar a roda nesta série. Me parece que o objetivo principal delas é mostrar ao público que ainda existem possibilidades a serem exploradas neste tipo de literatura, desde que você esteja disposto a subverter algumas perspectivas tradicionais. 
Só o que posso dizer é que, fiquei entretida, li o primeiro volume em menos de uma semana, e já emendei o segundo. Me divertiu e me surpreendeu, e isso é tudo o que espero de uma obra fantástica. Assim, é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5

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