A diferença entre Vilão e Antagonista


Uma das maiores dificuldades ao escrever um livro e pensar em um enredo é saber diferenciar um vilão de um antagonista. Nem toda estória requer um vilão mas, sem dúvidas, toda (boa) estória precisa de um bom antagonista. Este post é sobre o que aprendi sobre o assunto.

A estrutura clássica de uma estória pede um herói e um vilão. Estamos acostumados a sempre ver o herói como o protagonista do enredo e, como consequência, o vilão é um ser maligno que é um poderoso obstáculo em seu caminho. No entanto, esta dinâmica poderia ser invertida, colocando o vilão como protagonista e o herói como uma "pedra no seu caminho". A tradição de contos-de-fada nos trouxe esta visão do herói como protagonista mas, recentemente, o público tem pedido por novas perspectivas, como o caso de Thanos em "Vingadores: Guerra Infinita". Os heróis são protagonistas há séculos, e é natural que o público sinta falta de novas perspectivas e pontos-de-vista diferentes em storytelling, o que faz nós, escritores, sairmos de nossas zonas de conforto.

De forma geral, o que diferencia o vilão na trama são suas intenções maliciosas, que visam prejudicar os demais, cujas ações são deliberadamente calculadas para provocar consequências negativas. A origem do termo vem da palavra "villein" que, no sistema feudal, era um camarada que ficava abaixo dos cavaleiros na hierarquia porque não tinha valores morais nem educação apropriada. Com os vilões, nós não temos dúvidas se eles são bons ou ruins, pois eles são escritos e construídos para serem ruins. É só pensarmos em todos os vilões dos filmes de 007 ou em Sauron, de "O Senhor dos Anéis"

Quando o vilão é mal colocado em uma estória, a trama não ganha força. O vilão não precisa, apenas, ser mal e assustador, ele precisa ser um antagonista decente. Alguns autores (da Literatura e do Cinema) optam por vilões bem cruéis, mas que causam pouco impacto real nos enredos. E, assim como há anti-heróis, há também anti-vilões, que entrariam na categoria "amamos odiar".

Agora, falando nos antagonistas, muitos os confundem com vilões, o que acarreta em estórias clichês, que nos dão a sensação de repetição e de falta de originalidade. Mas, para uma estória funcionar, o autor precisa pensar com cuidado em seu antagonista, pois é ele que fará a trama andar. O antagonista não é, necessariamente, mal. Ele é uma força que vai na contramão do protagonista, com motivações distintas e que toma decisões que atrapalham o curso dos acontecimentos para o protagonista. Assim, é o antagonista que traz conflito e emoção ao enredo e, não é difícil perceber que, se ele for fraco, o enredo também será. 
Um bom exemplo de antagonista não-vilão é Snape, de "Harry Potter". Ele se coloca no caminho de Harry por toda a estória, atrapalhando as intenções do herói, confundindo suas emoções e lhe colocando obstáculos a serem superados. No entanto, como sabemos posteriormente na trama, Snape não é mal. Ele não é o vilão e, sim, o antagonista, ao contrário de Voldemort, cujos objetivos são maléficos e imorais do começo ao fim. 

Um antagonista ruim faz estórias entediantes, que não prendem a atenção do leitor. Para mim, isso aconteceu com "A Viajante no Tempo", primeiro volume de "Outlander", de Diana Gabaldon. Jack Randall, seu sequestrador quando ela viaja ao passado, era fraco e cheio de clichês, que rapidamente me cansaram. Também tive problemas com todos os antagonistas de "A Corrida de Escorpião", de Maggie Stiefvater.

No meu caso, prefiro estórias onde o antagonista não é um vilão. De forma geral, acho os vilões previsíveis, com noções de bem e mal muito definidas e pouco originais. Já um antagonista bem escrito traz fôlego para a narrativa, além de emoção e criatividade. Neste sentido, um dos melhores antagonistas que já li é Crake, de "Oryx e Crake" de Margaret Atwood. Dê uma passadinha pela resenha do livro, pois vale a pena.

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1 Comments

  1. Oi, Ruh, tudo bem? AAAAAA, nossa, eu adorei seu post! Acho que muita gente acaba confundindo os dois elementos mesmo. Acho que eles acabam aparecendo mais em narrativas de fantasia, ou policiais ou de ação, né? Eu tenho lido muito poucas histórias que tenham vilões e/ou antagonistas, porque meu gosto literário mudou bastante depois que me apaixonei pelo gênero autobiográfico e tenho investido nele, assim como um histórias mais "paradas", que não têm plots twists loucos a todo momento, sabe? Tenho gostado mais da realidade mesmo haha.

    Mas eu gostei muito das suas explicações e mais ainda dos seus exemplos. O Snape é, com certeza, um dos antagonistas mais bem elaborados - ele pode ter todos os defeitos, mas a complexidade dele é realmente ótima. Amei! <3

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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