Já Li #82 - Kingdom of Fire, vol. 1: Uma Sombra Ardente e Brilhante, de Jessica Cluess


Recentemente chegou ao Brasil a trilogia de fantasia "Kingdom of Fire", escrita por Jessica Cluess. Nesta resenha, falarei sobre o primeiro volume, "Uma Sombra Ardente e Brilhante".

Jessica Cluess é uma escritora com uma biografia interessante. Ao ler mais sobre sua vida e sua trajetória, senti um quê de "gente como a gente": ela não conheceu ninguém importante que alavancou sua carreira, ela não fez nada digno de destaque na escola, ela não conquistou amigos na faculdade e nem um emprego dos sonhos quando se formou. Ou seja, a vida de Jessica poderia ser a minha (e, quem sabe, a sua) e isso me trouxe uma noção de realidade que me aproximou dela. 

A trilogia "Kingdom of Fire" é, predominantemente, sobre feitiçaria. A premissa de toda a série, que se passa na Inglaterra Vitoriana, é de que o mundo será destruído pelos Ancestrais, sete criaturas horrendas e muito assustadoras (juro! assustadoras mesmo!) que conseguiram romper o selo de proteção dos feiticeiros e espalham morte e terror. Os feiticeiros são considerados a elite da sociedade e são prestigiados pela rainha Vitória, que os tem como a infantaria principal de seu Exército contra os Ancestrais. Contudo, existe uma rixa milenar entre feiticeiros e magos, que são considerados a "escória", junto com as bruxas.

Neste primeiro volume, "Uma Sombra Ardente e Brilhante", conhecemos Henrietta Howel. Claro que gostei dela logo de cara, afinal, ela tem o mesmo nome de uma das personagens do meu livro "Almagesto - Como Chegar às Estrelas"

Henrietta é orfã e, aos dezesseis anos, torna-se professora de História e Matemática no orfanato onde mora, Brimthorn, cujo diretor tem o hábito de assediá-la. Neste ambiente hostil, ela se aproxima de Rook, um garoto também órfão que foi atacado por um dos Ancestrais e, com isso, adquiriu cicatrizes horrendas pelo corpo. As pessoas se afastam de Rook pois ele é um Impuro, ou seja, existe a crença de que todos os Impuros serão transformados em Familiares, os "capangas" dos Ancestrais. Henrietta e Rook são inseparáveis.

Aos poucos, Henrietta descobre que tem um poder especial, o de criar e controlar o fogo. Com medo de ser considerada uma bruxa e, consequentemente, enforcada, ela esconde suas habilidades até a chegada de Agrippa, um velho feiticeiro que viaja pelos quatro cantos da Inglaterra em busca da garota da profecia. Tal garota seria a única pessoa capaz de exterminar os Ancestrais. Ao se deparar com Henrietta, Agrippa tem certeza de que a profecia trata dela e, por isso, a leva consigo para Londres. Feliz por deixar o orfanato para trás, Henrietta apenas exige que Rook a acompanhe.

Chegando em Londres, Henrietta se depara com várias surpresas (algumas boas, outras nem tanto). Ela descobre que apenas meninos são treinados para serem feiticeiros da rainha, o que gera diversas discussões sutilmente feministas (e válidas) ao longo da trama. Ela percebe que os feiticeiros não cuidam dos mais pobres e os deixam à mercê dos Ancestrais, o que a incomoda profundamente. Ela conhece Magnus e Blackwood, que mexem com suas emoções adolescentes e perturbam seu relacionamento com Rook. Mas a maior de todas as surpresas é Hargrove.

Hargrove, um mago, é o único capaz de entendê-la e ajudá-la em seu treinamento de feiticeira. Bêbado, egoísta, miserável e charlatão, ele não é, exatamente, a figura mais heróica da vida de Henrietta mas rapidamente se transforma na mais relevante. Além disso, Hargrove conheceu os pais de Henrietta e revela segredos importantes de sua infância e de suas origens, que mudam completamente o rumo da estória. 

A leitura me prendeu do começo ao fim.
O universo fantástico criado por Jessica Cluess é bastante criativo, apesar de contar com elementos tradicionais da fantasia, como magos e feiticeiros. Cada Ancestral e Familiar me aterrorizou e ela não poupa violência quando é necessário. 
As cenas de ação são bem desenvolvidas e detalhadas e é fácil imaginá-las.
Henrietta foi uma personagem bem construída, bastante real e coesa, daquele tipo de personagem que, quando termina o livro, sentimos que ganhamos uma amiga. Além disso, ela é ótima para ilustrar as dificuldades e os obstáculos que as meninas/mulheres enfrentam quando precisam desempenhar funções ou papéis que são tradicionalmente atribuídos aos homens. Ela sofre muito preconceito e bullying e, por isso, desperta reflexões interessantes.
Há romance e traição, desencadeados por Magnus, Rook e Blackwood. Cada um deles tem seu peso na trama, aflorando determinadas características de Henrietta. Blackwood, especificamente, foi o meu preferido dos três, pois ele traz um lado mais político para o enredo, dando um peso e uma profundidade maiores às questões que envolvem conflito de classes (pobres versus ricos, magos versus feiticeiros, etc.)

Não podemos esquecer que este livro é orientado para a faixa etária entre 12 e 18 anos. Com isso em mente, acho que Jessica Cluess foi muito bem sucedida ao balancear temas profundos com fantasia e problemas adolescentes com questões sociais e éticas. Por tudo isso, é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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