Sugestão de Leitura | Série Napolitana, vol. 4: História da Menina Perdida, de Elena Ferrante


Estou muito triste com este post, pois ele significa que, infelizmente, terminei de ler a Série Napolitana de Elena Ferrante. De longe, os livros de Ferrante são os melhores romances que já li, e vocês sabem que eu leio muito. Aqui, falarei do último volume, "História da Menina Perdida"

Para ler as resenhas dos três volumes anteriores, clique nos links abaixo:

Antes, um aviso: eu parto do princípio que, se você chegou nesta resenha, é porque já leu os volumes anteriores.

Agora no trecho final de sua narrativa, Lenu e Lila já estão se aproximando da terceira idade. Por isso, naturalmente, o enredo se desloca para as estórias de ambas com seus filhos, os desafios da maternidade, da vida adulta e a evolução do relacionamento entre as duas amigas de infância.

Lenu se divorcia de Pietro, depois do caso extraconjugal com Nino, mas - como era de se esperar - o romance com Nino logo se mostra um pesadelo. Lenu, num dia particularmente difícil para ela, onde a vida doméstica ameaçava esmagá-la, flagra Nino transando com a faxineira, uma mulher "gorda e com mais de cinquenta anos". Depois deste incidente, ela descobre, através de vários relatos, que Nino tinha uma série infindável de amantes e que sua esposa, grávida, sabia de todas elas. 
O relato de Ferrante é realista e cru e, por isso, mostra que Lenu ainda demora até a desvencilhar-se totalmente de Nino mas, eventualmente, ela consegue superá-lo.
Do lado profissional, Lenu está em plena prosperidade com seus livros, viajando por toda a Itália. Com o divórcio, o trabalho e as três filhas, Lenu se muda de volta a Nápoles e vai morar na casa debaixo de Lila, que a ajuda a cuidar das crianças.

Lila, ainda com Enzo, teve uma filha com ele, Tina. Seu filho com Stefano, já adolescente, começa a se envolver com drogas, que é o novo ramo de negócio dos Solara no bairro. A empresa de informática dos dois tem dado lucros e, rapidamente, Lila se torna uma figura de referência em Nápoles, dividindo o poder com os Solara.

Ao morarem tão próximas uma da outra, as vidas de Lila e Lenu se fundem, pouco a pouco, culminando com o filho mais velho de Lila morando com Lenu, uma vez que se apaixonou por uma de suas filhas. A dinâmica entre elas, sempre tão tempestuosa e caótica, aos poucos, ganha uma forma e uma rotina.
Porém, tudo desmorona novamente quando Tina é atropelada por um caminhão e desaparece (a tal "menina perdida" do título do livro).

Além disso, Ferrante deu excelentes fechamentos a todas as personagens que apareceram nos quatro livros. Lamentei muitíssimo o destino de Alfonso, um dos meus preferidos, assim como lamentei pelo final de Enzo (ele merecia mais da vida, o único homem bom do enredo). Os Solara tiveram o que mereciam, na minha opinião, e fiquei aliviada com a morte da mãe de Lenu, sempre tão tóxica que me dava asco. Ferrante endereçou todo mundo: Maria Rosa, Pasquale, as famílias de Lenu e Lila, Stefano, Pietro. 

Há diversos temas centrais neste romance, entre eles: a amizade das mulheres e a moldagem da vida das mulheres por seu meio social, ciúme (sexual e intelectual) e competição dentro destas amizades, a resistência de Lenu e Lila a serem mães, a ascensão de crianças inteligentes fora de ambientes domésticos e sociais violentos e as condições mutáveis ​​das mulheres na década de 1970.

Assim, se eu pudesse resumir, eu diria que não só este livro mas a Série Napolitana como um todo fala da mulher. E é por isso que Ferrante ganhou um espaço no meu coração, porque ela fala da mulher de um jeito realista, sincero, verdadeiro - sem romantizar, sem enfeitar, sem fingir. Me identifico muito com os desafios que Lenu enfrentou no seu casamento, a sua dificuldade de se ver como mãe, a vontade de largar tudo e viajar pelo mundo, a ausência paterna de Nino. Ferrante não parte dos estereótipos nem dos pré-conceitos para falar de Lenu e Lila e é por isso que elas são tão profundas e incríveis.

Mais do que recomendar, a leitura desta série deveria ser obrigatória. Obrigada, Ferrante, por fazer eu me apaixonar pela literatura mais uma vez.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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