Já Li #161 - Meu corpo, minha casa, de Rupi Kaur

 


Ler os poemas de Rupi Kaur é como conversar com uma amiga de quem você sente saudades. É íntimo, bonito, simples e direto ao ponto, e este livro em particular eu li em quarenta minutos. Hoje falarei um pouco sobre "Meu corpo, minha casa".

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Publicado em 2020, "Meu corpo, minha casa" é um livro de poesia dividido em quatro partes: mente, coração, repouso e despertar. Agora Rupi está mais confortável para falar de suas experiências traumáticas do passado, e o livro já começa mais pesado do que os anteriores, abordando o estupro de sua infância e a depressão ao longo dos anos. Não à toa, a parte mente é a mais intensa, escura e difícil do livro, que depois tende a encontrar caminhos mais claros e esperançosos, terminando em mensagens mais otimistas sobre o futuro e sobre si mesma.
É desta parte que saiu meu poema preferido, inclusive: "eu quero uma passeata / eu quero música / eu quero confete / eu quero uma fanfarra / para quem sobrevive em silêncio / eu quero que aplaudam de pé / cada pessoa que acorda e procura o sol / quando há uma sombra / que a puxa de volta para dentro."
Eu convivo com a depressão desde que sou criança e, na literatura, na maioria das vezes, não encontrei examente um alívio para ela, ou mesmo uma representação. Claro, temos Virginia Woolf, que é e sempre será a rainha-mor do meu coração melancólico, mas sinto que a poesia de Rupi traz uma simplicidade, uma familiaridade ao assunto que me agrada, e que o deixa menos assustador.

A parte denominada coração já não teve o mesmo impacto em mim, mas eu gostei da expansão do tema, que não se limitou a falar do amor romântico. Gostei quando ela trouxe o amor presente nas amizades verdadeiras, que, muitas vezes, é muito maior e muito mais forte do que um amor romântico, mas foram poucos poemas nessa linha. Rupi falou bastante de sexo também nesta parte. De forma geral, foi minha parte menos preferida, e achei os poemas dela pouco originais aqui.

Seguindo para repouso, aqui foi a primeira vez na leitura que senti que eu estava realmente me conectando com a "verdadeira" Rupi. Ela traz a pressão de escrever um novo livro e manter o sucesso que conseguiu ao longo dos anos, sobretudo nas redes sociais, e ela também comenta a crença pessoal de que precisa estar sendo produtiva o tempo todo, ou todas suas conquistas irão desmoronar. Ela também trouxe a perspectiva de imigrante, e conta um pouco a história de vida de seu pai, e esses poemas todos foram interessantes de ler, até por saírem um pouco do clichê que costumamos ver em poesia.

E, por fim, despertar é mais sobre um olhar para dentro, e tem momentos inspirados como: "em mim existem milagres / que esperam sua vez de acontecer." mas terminei a leitura com a sensação esquisita de que Rupi, dessa vez, talvez não tivesse muito mais o que dizer depois dos últimos livros, e isso não é um problema. Ela mesma comenta sobre a arte precisar de tempo para respirar, e não pude deixar de sentir que esse livro foi o resultado final de uma editora pressionando-a pelo contrato. Li muitas resenhas condenando Rupi por isso, mas eu não farei o mesmo. Tenho empatia por ela e imagino como deve ser asfixiante ter que criar arte como se fosse um produto.

Pessoalmente, eu senti falta dos poemas longos dela, que são sua marca registrada. A maioria deles era bem curtinho, e eu fiquei me perguntando se era para ser mais Instagramável, que é onde Rupi tem seu maior público. E, de novo, me parece algo que está sendo forçado em sua direção. Por isso, por gostar dela, eu recomendo a leitura, mesmo sabendo que, infelizmente, não é seu melhor trabalho.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5

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