Desafio Livros pelo Mundo: Haiti - Socando o Ar, de Ibi Zoboi

 

O Desafio Livros pelo Mundo tem como objetivo divulgar a literatura fora do eixo EUA-Inglaterra e, assim, permitir que mais leitores conheçam novos escritores e novas culturas. No post de hoje, temos o Haiti, com "Socando o Ar" de Ibi Zoboi.

Ibi Zoboi nasceu no Haiti, uma ilha de um arquipélago que engloba também Jamaica, Cuba e Bahamas que já foi colonizada pela Espanha e pela França. Sua família imigrou para os Estados Unidos nos anos 80, fugindo das condições absolutamente miseráveis do país, que é um dos mais pobres do mundo.
Ela conta que, por conta de sua cor e origem, as pessoas assumiam que ela não sabia falar inglês e a excluíam de eventos e oportunidades, e foi por isso que ela encontrou na poesia um refúgio. 
Zoboi também escreveu artigos para jornais e contos, e se formou em Escrita Criativa nos Estados Unidos. Um de seus contos foi publicado depois do enorme terremoto no Haiti de 2010 e foi ele que lhe conferiu popularidade mundial. 


"Socando o Ar" foi publicado em 2020 é um livro de poesia bem diferente do que estamos acostumados a ver. A obra conta a história de Amal Shahid, um menino de dezesseis anos que foi injustamente acusado de um crime, como consequência do racismo. Amal narra sua vida na prisão enquanto lembra de sua infância e do incidente que o levou a ser preso, bem como detalhes de seu julgamento e sua percepção do mundo.

Primeiro, o aspecto mais interessante deste livro é como Zoboi sabe ser lírica, ou seja, ela escreve trechos muito sentimentais, escolhe as palavras certas, e as frases das poesias alcançam um ritmo muito bonito em vários pontos da leitura. Fazia muito tempo que eu não lia uma poesia que me emocionasse ou me tocasse de alguma forma, e Zoboi conseguiu fazer eu genuinamente me importar com Amal.

Ao longo da poesia, através dos pensamentos de Amal, o livro questiona e explora dois pontos muito importantes: o racismo e o sistema prisional atual. Zoboi não afirma diretamente um ponto-de-vista e, sim, abre espaço para que o leitor chegue às suas próprias conclusões, mas uma coisa fica clara: o racismo tem um papel predominante no julgamento e acusação de Amal, e nenhum dos envolvidos em seu processo sequer percebe que está sendo racista - o famoso viés inconsciente. E, além de negro, Amal também é muçulmano, e fica claro que todas as pessoas ao seu redor, da professora de Artes ao seu advogado de defesa, não o vêem como ele é, e sim, através da lente do preconceito que possuem. 

Outra coisa que mexeu comigo foi como Amal tenta se manter fiel à sua essência, mesmo quando todos o julgam ou não o entendem. Amal é um artista, que questiona a sociedade ao seu redor e, ainda assim, vê beleza em um mundo que não lhe confere pertencimento. A sensibilidade de Amal aparece sobretudo quando ele fala da avó e eu, que perdi a minha recentemente, chorei em todos os trechos.

Mas, não vou mentir, achei difícil ler o livro todo no formato de poesia. A poesia de Zoboi é diferente - não sei bem como explicar, mas as frases dela não rimam como uma poesia tradicional. Eu, pessoalmente, preferiria ter lido a história de Amal como prosa, acho que poderia ter sido ainda mais rico e mais profundo, e menos cansativo. De forma alguma eu acho que isso é demérito de Zoboi, pelo contrário, sou eu que não curto muito esse estilo narrativo. 

Para quem tiver paciência, é uma leitura que eu super recomendo. Fiquei pensando no Amal muito tempo depois de ter terminado o livro e a beleza dele continua em mim.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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