Já Li #150 | Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, de Marçal Aquino

 

A resenha de hoje é o livro brasileiro "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", de Marçal Aquino que ficou comigo por muito tempo, o que não necessariamente é algo bom. 

Marçal Aquino, jornalista, trabalhou muitos anos cobrindo crimes, influência que fica visível em muitas de suas obras. Ele também escreve poesia, roteiros para televisão e para o cinema, o que faz com que seja um dos autores brasileiros contemporâneos mais populares da atualidade. 

"Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", publicado em 2005, é narrado pelo fotógrafo Cauby.  Ele relembra os últimos meses de sua vida enquanto toma café na varanda de uma pensão no interior do Pará. Esta cidade vive o auge da exploração do ouro e sofre com a pobreza e a violência que chegaram com as grandes mineradoras. Cauby viajou de São Paulo para o Pará com o objetivo de fotografar as prostitutas da região, mas acabou ficando na cidade depois de conhecer Lavínia.
Enquanto narra os flashbacks, o leitor começa a entender todo o contexto da cidadezinha: há Chang, um comerciante local que foi morto por pedofilia; Viktor Laurence, um escritor local que sofre perseguição por ser homossexual; Ernani, o pastor evangélico marido de Lavínia; além dos moradores da pensão. 

Mas vamos falar um pouco de Lavínia. Ela é a personagem central da história, que desestrutura Cauby com sua intensidade, sexualidade e dualidade. Lavínia ora é uma mulher tremendamente sexual e libidinosa, ora é consumida pela culpa e recato, e Cauby se vê entre ambas tentando compreendê-la por inteiro. Aos poucos, Cauby descobre que Lavínia foi abusada pelo padrastro, abandonada pela mãe e pelo pai, que seus irmãos eram traficantes e criminosos e que ela já foi prostituta e viciada em drogas, até que Ernani a salvou das ruas. 
Eu tenho uma ressalva: achei a construção da Lavínia misógina e machista. A concepção de Marçal Aqui da "mulher perfeita" (representada pela paixão cega de Cauby) é uma mulher que só quer saber de sexo selvagem e intenso 24 horas por dia. Quando Lavínia não quer saber de sexo, Cauby sente que há algo de errado com ela. E, além disso, a segunda personalidade de Lavínia, a recatada, é completamente nula, como se não houvesse nada mais a ser explorado em uma mulher. Eu fiquei muito incomodada e precisei abstrair disso tudo para seguir na leitura.
Aliás, na verdade tenho duas ressalvas. A dualidade de Lavínia deveria ter sido explorada de uma maneira mais séria. Há um transtorno mental ali, disso o leitor não tem dúvidas, e, sendo psicóloga, fiquei incomodada com a forma simplista e superficial que ele é retratado. Me parece que Marçal também romantizou essa característica da Lavínia para manter a imagem de mulher perfeita que mencionei acima.

Bom, isso posto, continuemos. Cauby em si parece um coadjuvante e, sinceramente, qualquer homem poderia ser ele na história. Não me conectei a ele, mas fiquei curiosa por saber o desenvolvimento da história. No começo, sabemos que o romance entre ele e Lavínia deu errado, mas não sabemos nem como e nem porquê, e esse é o gancho que deixa o leitor preso na narrativa. Conforme a história avança, e os outros personagens da cidadezinha aparecem, o mistério fica ainda maior e eu gostei de ler. 
Também gostei de todo o ambiente que Marçal criou para a história, com o pano de fundo das mineradoras, a cidadezinha no Pará, as descrições das cenas e os diálogos. Fiquei realmente imersa no universo da história e lembro que tive dificuldades de "voltar para o mundo real" quando eu parava de ler. 

Para mim, estes pontos que mencionei sobre Lavínia impediram que este livro fosse uma Sugestão de Leitura aqui no Perplexidade e Silêncio. Uma leitura escreveu uma resenha no Goodreads que define 100% minha opinião sobre a obra e, por isso, segue créditos a ela - obrigada Gabriela por ler meus pensamentos:



Recomendo a leitura desde que haja analíse crítica por parte do leitor.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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