Já Li #135 - A Ilha, de Aldous Huxley

 

Há muitos anos atrás, eu estava na praça de alimentação da minha faculdade lendo um livro (como sempre), quando uma mulher sentou ao meu lado e me perguntou se eu já tinha lido "A Ilha" de Aldous Huxley. Respondi que não, ao que ela comentou que tinha sido uma das melhores leituras de sua vida, e depois disso foi embora. Fiquei com essa recomendação na cabeça por muito tempo e, finalmente, li a utopia escrita por Huxley. No post de hoje, vou falar sobre o que achei desse livro.

Se você quer saber mais sobre Aldous Huxley, dê uma olhadinha nesses posts:

"A Ilha" foi escrito e publicado em 1962 e é seu último livro. Ao escrever este livro, a idéia de Huxley foi a de criar uma obra que fosse, ao mesmo tempo, o oposto e o complemento de sua famosa distopia "Admirável Mundo Novo".

O protagonista da história é Will Farnaby, um jornalista que encontra a ilha de Pala depois de um naufrágio. Ele próprio provocou o naufrágio com o objetivo de encontrar a famosa ilha e escrever uma matéria sobre ela, o que certamente o tornaria um jornalista de renome. Além disso, Farnaby tem um interesse secundário em chegar à ilha pois, em um acordo que fez com o dono do jornal para o qual trabalha, se ele conseguisse que a rainha da Ilha aprovasse um determinado contrato de petróleo, tanto ele quanto seu chefe ganhariam muito dinheiro. 
A ilha é governada pela rainha Rani mas o Coronel Dipa está armando um golpe de Estado nos bastidores, golpe este que o chefe de Farnaby sabe e encoraja. E ele mesmo só conseguirá o dinheiro do acordo do petróleo se o Coronel subir ao poder.

Ao chegar na ilha de Pala, Farnaby logo percebe porque se trata de um lugar tão carregado de mistério. A estrutura da sociedade é diferente de tudo o que ele já viu antes - e vários aspectos de Pala me lembraram de "Herland - A Terra das Mulheres" de Charlotte Perkins Gilman. Cada capítulo do livro é dedicado a um personagem (ou um grupo de personagens) de Pala que ensinam a Farnaby uma lição sobre algum assunto específico, como, por exemplo, religião, moral, economia, sexo, amor, família, e assim por diante. Enquanto aprende sobre a ilha, Farnaby se vê envolvido com as pessoas e tenta não se desviar de seu propósito maior ali, o tal contrato de petróleo.

Rani e o Coronel Dipa representam dois opostos. Rani acredita que a felicidade só será possível com as condições morais e éticas existentes na ilha, enquanto o Coronel quer militarizar e modernizar Pala através da indústria, da abertura da economia e da extração do petróleo. E, embora seja classificada como uma utopia, o enredo torna-se uma distopia da metade para o final.

Algumas das ideias apresentadas são interessantes e ainda podem ser relacionadas ao que acontece hoje em dia. Não posso dizer que concordo ou discordo de tudo o que foi apresentado, mas definitivamente fornece um pouco de reflexão. Na época do lançamento (anos 1960), muitos dos ideais discutidos soam como se apelassem diretamente à contracultura que se opõe à Segunda Guerra Mundial sobre sexo, religião, controle de natalidade, consumismo, política, dinheiro, educação, guerra, racismo, drogas, cuidados de saúde, morte, amor, vida após a morte, etc. 

Minha experiência de leitura não foi das melhores. A única razão pela qual continuei lendo esse livro (além de lembrar da recomendação da mulher da praça de alimentação da minha faculdade) foi por respeito a Huxley e, também, pelos fragmentos ocasionais de sabedoria ao longo da narrativa. Mas o livro em si é chatíssimo, parece uma interminável aula de Filosofia e nada realmente acontece ao longo da história. Não há conflito, tensão, eventos emocionantes, nada - apenas um personagem aparecendo atrás do outro, explicando a Farnaby como Pala resolveu todos os problemas sociais, econômicos e morais da Humanidade. 

Acho que as premissas de Huxley teriam funcionado melhor se o estilo narrativo tivesse caminhado na direção do sarcasmo de Kurt Vonnegut, por exemplo, que consegue estimular a reflexão sobre a sociedade perfeita sem ser maçante. Eu não me apeguei a ninguém desse livro e, consequentemente, quando o Coronel Dipa aparece no desfecho da história, não me importei com o que veio depois, o que tirou o brilho da única coisa que realmente acontece no livro inteiro.
Por tudo isso, e por mais que eu admire muito Huxley, infelizmente não é uma leitura que eu recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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