O que ler se você gosta de... Narradores não confiáveis

 

Um livro narrado por alguém que não é confiável mantém os leitores em um estado de "suspensão da descrença", que é algo fundamental para um verdadeiro envolvimento com a leitura. Pessoalmente, eu adoro quando sou enganada pelo narrador de um livro e, por isso, separei alguns exemplos muito bons deste estilo de escrita.

"Não me Abandone Jamais", de Kazuo Ishiguro
Hailsham parece um colégio interno inglês agradável, longe das influências da cidade. Seus alunos são bem cuidados, treinados em arte e literatura e tornam-se exatamente o tipo de pessoa que o mundo deseja que sejam. Mas, curiosamente, nada aprendem do mundo exterior e têm pouco contato com ele. Lá, Kathy passa de colegial a jovem, mas só quando ela e seus amigos Ruth e Tommy deixam o terreno seguro da escola (como sempre souberam que fariam) é que percebem toda a verdade sobre o que Hailsham é.
Como a história é narrada em primeira pessoa por Kathy, o leitor sente sua perplexidade, confusão e descobertas da realidade ao mesmo tempo que ela, o que provoca uma sensação de que estamos sempre sendo enganados, ou não enxergando a verdade por trás das coisas. 
É uma leitura que recomendo muitíssimo e você pode acessar a resenha detalhada neste post: O livro ou filme? | Não me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro

"Ilha do Medo", de Dennis Lehane
O ano é 1954. O marechal dos EUA Teddy Daniels e seu novo parceiro, Chuck Aule, vieram para Shutter Island, casa do Hospital Ashecliffe para Criminosos Insanos, para investigar o desaparecimento de um paciente. A assassina múltipla Rachel Solando está perdida em algum lugar desta ilha remota, apesar de ter sido mantida em uma cela trancada sob vigilância constante. Enquanto um furacão mortal os atinge, um estranho caso assume tons ainda mais sombrios e sinistros - com sugestões de experimentação radical, cirurgias horríveis e contra-ataques letais feitos na causa de uma guerra de sombras secreta. Ninguém vai escapar ileso da Ilha Shutter, porque nada no Hospital Ashecliffe é o que parece. Mas Teddy Daniels também não.
Eu adoro o livro (e o filme!) e AMEI ser enganada pelo narrador, numa das melhores plot twists que já li até hoje. Para ver a resenha completa, clique aqui: O livro ou o filme? | A Ilha do Medo, de Dennis Lehane

"O Psicopata Americano", de Bret Easton Ellis
Bateman, o narrador da história, é um empresário da Bolsa de Valores extremamente rico, vive em Manhattan e, além disso, é um perigoso serial killer
Cada capítulo do livro é destinado a uma atividade cotidiana de Bateman, que narra com pormenores maçantes todas as marcas de tudo o que possui. Assim, o leitor deve estar preparado para descrições longas e cansativas das roupas de todas as personagens, incluindo as do próprio Bateman, bem como de todos os objetos de valor existentes na estória e todas as comidas e bebidas chiques que são consumidas. Embora tais descrições sejam chatíssimas, a intenção de Bret é enfatizar uma sociedade viciada em consumo e em imagem, bastante fútil e superficial, que prioriza marcas e glamour. Além disso, tanto Bateman quanto seus colegas ricos menosprezam e maltratam diversos mendigos e homossexuais ao longo do enredo, mostrando o egocentrismo e o preconceito enraizado neles.
Por isso, quando o próprio Bateman descreve suas intenções, sentimentos e pensamentos por trás de cada assassinato violentíssimo que comete, o leitor vai ter reações muito ambíguas. Eu mesma não consegui terminar de ler o livro, tamanho o teor da violência, e você ler mais sobre isso nesse post.

"Reparação", de Ian McEwan
Em um dia quente de verão em 1934, Briony Tallis, de treze anos, testemunha um momento de flerte entre sua irmã mais velha, Cecilia, e Robbie Turner, filho de um servo e amigo de infância de Cecilia. Mas a compreensão incompleta de Briony dos motivos adultos - junto com seus dons literários precoces - traz um crime que mudará todas as suas vidas. Como se segue, as repercussões do crime durante o caos e a carnificina da Segunda Guerra Mundial e no final do século XX, esse livro envolve o leitor em vários níveis, com uma facilidade e autoridade que a caracterizam como uma obra-prima por muitos.
Briony é o tipo de narraradora que, como leitora, eu não sabia se amava ou odiava. Para saber mais sobre esta obra, veja esse post: O livro ou o filme? | Reparação, de Ian McEwan (Desejo e Reparação)

Se você gosta de ser pego de surpresa por uma história, veja também as recomendações que deixei nesse post: Cinco livros para quem gosta de plot twist
Você lembra de mais algum livro que poderia estar aqui nessa listinha? Deixe aqui nos comentários para eu dar uma olhadinha depois!

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