Este post também faz parte do Rory Gilmore Book Challenge.
De origem judaica, Julie Orringer é uma escritora que aborda assuntos profundos com uma mão leve. Normalmente sob o ponto-de-vista de personagens femininas, Julie fala sobre família, abuso, religião e morte, com várias referências autobiográficas ao longo das estórias, como o próprio judaísmo e o câncer, que vitimou sua mãe.
Em "Como Respirar Debaixo D'Água", publicado em 2007, foram reunidos nove contos da autora publicados em diversas revistas. O ponto comum de todos os contos é que eles tratam da vida de crianças e adolescentes que lidam com complexas relações familiares e sociais, todos narrados na perspectiva das meninas.
Quando falo sobre uma coletânea de contos, gosto de separar os meus favoritos e, por isso, abaixo estão os meus escolhidos.
Quando ela for velha e eu famosa
Mira é uma adolescente italiana, residente em Florença, que não é reconhecida por ser bonita nem por ser simpática. Ela almeja ser uma pintora profissional, para o que estuda longas horas, diariamente. Quando sua prima Aïda, modelo, vem passar férias em sua casa, Mira fica transtornada. Gorda e desajeitada, ela se ressente da atenção que Aïda chama por onde quer que passa.
Narrado em primeira pessoa por Mira, ela é uma protagonista sarcástica e carismática e me identifiquei com ela logo nas primeiras linhas. Suas férias ao lado de Aïda lhe permitem uma redenção ao final do conto, quando Mira parece fazer as pazes não apenas com a prima, mas consigo mesma.
O peixe Isabel
Este conto tem a citação que dá nome ao livro: "Esta noite, pela primeira vez, vou começar a aprender o que meus peixes sempre souberam: como respirar debaixo d'água". Maddy, uma jovem por volta dos 14 anos, tem um irmão mais velho, Sage, de 16. A namorada dele, Isabel, morreu em um acidente de carro quando estava indo para o lago com Maddy. Sage acredita que Maddy é a responsável pela morte de Isabel e, como punição, mata os peixes que Maddy criava para um projeto científico. Ao mesmo tempo que lida com o ódio de Sage, Maddy precisa lidar com a pressão de seus pais para perder o medo da água, decorrente do trauma do acidente. Este conto fala, predominantemente, das relações familiares e da dificuldade de verbalizar os sentimentos negativos existentes. Narrado em primeira pessoa, Maddy é uma adolescente tímida e melancólica.
Responsabilidade
Tessa é uma viciada em drogas que fica com a responsabilidade de cuidar de sua sobrinha, Olivia. Sua irmã, Gayle, é o oposto de Tessa, impecável e ordeira, casada com Henry, um pai de família correto e sereno. Tessa tenta mostrar à irmã, através do dia em que passa com Olívia, que pode ser tão responsável quanto ela. No entanto, a fissura pelas drogas (que carrega no bolso do casaco) logo ganha força e ela acaba perdendo Olívia no Píer 39, um ponto turístico lotado e caótico. Narrado em terceira pessoa, o conto relata todas as dificuldades de Tessa em sua tentativa de "ser normal", desde as bolhas nos pés até o roubo de um bichinho de pelúcia.
O que nós guardamos
Este foi o conto mais triste de toda a coletânea, na minha opinião.
Helena, sua irmã Margot e sua mãe Nancy vão à Disney em uma viagem de férias. O cenário de diversão torna-se opressor por causa do desconforto de Helena ao ver sua mãe, doente terminal de câncer, tentar agir como se nada de grave estivesse acontecendo. A situação piora quando Helena percebe que elas foram até a Disney para que sua mãe encontrasse seu namorado da adolescência, Brian, em uma espécie de despedida trágica. O filho de Brian tenta abusar de Helena em um brinquedo do parque, mas Helena não tem coragem de contar à mãe, uma vez que ela luta para viver.
Julie Orringer desmistifica a noção de que a infância é fase mais "fácil" da vida, mostrando como é um período cheio de mágoas e confusões, assim como a adolescência traz uma série de angústias e emoções negativas decorrentes do início da sexualidade. É um livro cujo tom principal é a tristeza, mas que permite reflexão e crescimento ao final de cada estória.
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