Desafio Livros pelo Mundo | Canadá: Vida Querida, de Alice Munro


Este é o 13º país que passa pelo Desafio Livros pelo Mundo, que tem o objetivo de divulgar a literatura de países fora do eixo Inglaterra - EUA e proporcionar diversidade cultural para os leitores. O Canadá tem excelentes escritores e escolhi a coletânea de contos Vida Querida, de Alice Munro, para representá-lo.


Alice Munro é ganhou um Nobel de Literatura em 2013 pelos seus contos, pela inovação de ir e voltar no tempo ao longo das narrativas deles. De fato, embora os contos tenham uma característica mais sucinta e de recorte do tempo, Alice consegue contar quase uma vida inteira da personagem em apenas poucas páginas, de uma forma profunda e detalhada. Além disso, Alice tem um estilo narrativo descomplicado e contemporâneo, o que faz a leitura fluir ainda mais.

A coletânea reúne 14 contos de Alice Munro, publicados originalmente no The New York Times entre outros jornais. Hoje com 85 anos de idade, a escritora garante que este será seu último livro a ser publicado, e o tom de despedida parece permear todas as estórias nele contidas.

Separei os meus três contos preferidos da coletânea.

Que chegue ao Japão

O conto de abertura da coletânea já dá mostras do que está por vir e me conquistou logo de cara. Conta a estória de Greta que está rumo a Toronto com sua filha, indo ao encontro de seu amante, enquanto o marido está viajando a trabalho. No percurso, ela conhece um jovem ator com quem tem um rápido affair no trem. Além de falar sobre a sexualidade feminina de uma forma descomplicada, poética e sem julgamentos, Alice Munro também traz o questionamento sobre ser mãe. Greta não sente conexão com sua filha, e o fato disso não a incomodar, a incomoda (entendem?). Greta sente que deveria achar errado não sentir-se próxima de sua filha, mas ela não acha errado nem estranho, apenas aceita. Em poucas páginas, Alice inseriu diversas questões extremamente relevantes para a mulher, e o faz isso de forma sutil e melancólica.

Cascalho

Este conto é, basicamente, sobre família e como os relacionamentos que temos com ela na infância irão nos acompanhar para o resto da vida - para o bem ou para o mal. Narrado em primeira pessoa, o leitor não sabe qual é o nome da protagonista, apenas que sua irmã mais velha chama-se Cora. Sua mãe abandonou uma vida no maior estilo american way of life para viver em um trailler com um ator nômade, levando consigo as duas filhas. A protagonista cresce em meio a um ambiente de liberdade (inclusive sexual, onde as filhas agem naturalmente quando vêem que a mãe e o padrasto estão fazendo sexo). Cora exerce uma função de fascínio e, ao mesmo tempo, competição, que culmina com o acontecimento de uma pequena tragédia familiar. O conto avança, no final, muitos anos no tempo e o futuro de todos os membros da família é triste e melancólico.

Com vista para o lago

De todos os 14 contos do livro, este foi o que mais mexeu comigo. Novamente, o leitor não sabe o nome da protagonista, embora o conto seja narrado em terceira pessoa. Ao longo de todo ele, temos os pensamentos da protagonista, narrados em segundo plano. O leitor se depara com uma senhora idosa de idade indefinida, que luta contra a realidade de que está se tornando senil. Ela esquece nomes, endereços e nomes e quando precisa ir a uma cidade próxima para uma consulta médica, acaba se perdendo e não consegue voltar para casa. Até aqui, o conto estava com uma atmosfera triste e solene. Perto do fim, há uma plot twist incrível, que aumenta ainda mais os níveis de tristeza do conto, embora de uma forma poética e sutil.

Como toda coletânea de contos, há aqueles que gostamos mais, outros que gostamos menos, e assim por diante. De qualquer forma, a escrita de Alice Munro foi uma excelente descoberta e suas estórias ficavam na minha mente muito tempo depois de eu terminar de lê-las. Recomendo muito a leitura desta escritora canadense.

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