Desafio Livros pelo Mundo | República Tcheca: A Brincadeira, de Milan Kundera
O Desafio Livros pelo Mundo tem como objetivo divulgar a literatura de vários cantos do mundo, para sairmos do eixo EUA-Inglaterra. Com isso, já passaram por aqui diversos países: Portugal, Suécia, Colômbia, Escócia, Finlândia, Dinamarca, França e Chile. Agora é a vez da República Tcheca e do escritor Milan Kundera.
O livro mais famoso de Kundera é "A Insustentável Leveza do Ser", que foi sugestão de leitura aqui. Por isso, para o desafio, escolhi outro livro dele, "A Brincadeira".
Kundera nasceu em uma família de classe média e aliou-se, ainda jovem, ao Partido Comunista Tcheco. Depois de um tempo, ele e seu melhor amigo foram expulsos do Partido, por "diferenças de pensamento". Foi este incidente que inspirou o livro "A Brincadeira", publicado em 1967. Além disso, Kundera também fez parte da Primavera de Praga, que foi um movimento que promoveu reformas políticas e sociais no país, querendo disseminar a democracia e os direitos humanos.
"A Brincadeira" é o único livro de Kundera onde ele próprio não é o narrador. Nesta obra, a estória é contada a partir do ponto-de-vista de quatro pessoas, no início de forma alternada e organizada e, no final, de um jeito conturbado e sobreposto, como se a narrativa simulasse um debate ou uma conversa que termina com os ânimos acalorados.
Ludvik, a personagem central deste romance, retorna para a Morávia, cidade onde viveu quando era jovem. Seu retorno à cidade natal tem como objetivo aparar algumas arestas que ele deixou em seu passado. Uma destas arestas diz respeito a uma piada que ele enviou para sua namorada da época, Marketa, ironizando o Partido Comunista. Porém, a piada foi interceptada e Ludvik não pôde se explicar devidamente e, então, foi condenado a trabalhos braçais no Exército por causa da sua suposta traição. O título do livro, no original, é "The Joke", por causa desta piada que Ludvik fez.
Antes deste incidente, Ludvik já era excêntrico e um pouco canastrão. Depois disso, sua personalidade torna-se mais amarga e rancorosa, e ele começa a procurar por vingança. No entanto, o livro não fica concentrado tanto nas questões políticas do Partido Comnunista como pode parecer, e sim, nos relacionamentos deles com os amigos (e inimigos) e com Marketa, dentro deste contexto político.
A troca de narradores ao longo da estória é importante para termos uma visão geral de Ludvik, pois cada narrador o vê e o percebe de uma forma diferente. Um destes narradores é Lucie, uma garota que ele começa a namorar além de Marketa, que ele conheceu no cinema. Ela é uma das personagens mais misteriosas do enredo e há quem discuta se ela realmente existiu ou se foi fruto da imaginação de Ludvik.
É um livro denso e que merece ser lido com calma e empenho. Também é necessário que o leitor compreenda, pelo menos um pouco, do cenário político por trás da estória, pois só assim algumas atitudes e reações das personagens farão sentido. Kundera escreve lindamente sobre sentimentos e relacionamentos e, sem dúvidas, é um escritor que vale a pena conhecer.
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