Desafio Livros pelo Mundo | Chile: Retrato em Sépia, de Isabel Allende


Estou com vontade de falar sobre Isabel Allende desde que assisti o mais recente filme da Emma Watson, Colônia. É um filme que fala sobre a realidade do Chile na época da ditadura e, por causa dele, relembrei toda a sensação de "revolução poética" de quando li Allende. E, por isso, escolhi "Retrato em Sépia" para representar o Chile no desafio deste mês.


Isabel Allende é parente de Salvador Allende, cujo governo foi derrubado por um golpe militar nos anos 70. Com isso, ela vivenciou de perto a ditadura chilena, e suas obras contam estes fatos históricos através de seu ponto-de-vista mais feminino e pessoal, incluindo alguns elementos de ficção no meio dos enredos.

"Retrato em Sépia" pode ser visto como uma continuação de "Filha da Fortuna". Neste último, a protagonista era Eliza Sommers e, em "Retrato em Sépia", a protagonista é sua neta, Aurora del Valle.

A primeira parte do livro conta a infância de Aurora. Como todo bom romance latino-americano, o leitor precisa estar preparado para a aparição de diversas personagens que compõem a família do protagonista, em várias gerações (a exemplo de "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Marquez). Assim, sabemos que Aurora é orfã, pois sua mãe morreu no parto e seu pai morreu de sífilis. Criada pelos avós, estes precisam viajar e a deixam com outra parente, Paulina, que conta a verdade de sua história e de sua família apenas quando Aurora já está mais crescida.

Na segunda parte do romance, Aurora torna-se fotógrafa em sua transição da adolescência para a vida adulta. Até então, ela morava nos EUA e, a partir deste momento, sua família muda-se para o Chile, devido ao segundo casamento de Paulina. Aurora, então, precisa acostumar-se ao novo país, o estilo de vida das pessoas que ali residem e a nova dinâmica da sua família. É o momento do romance onde Allende escreve mais momentos subjetivos de Aurora, desenvolvendo seus pensamentos, identidade e sentimentos. Foi a minha parte favorita do livro.

Na terceira e última parte do livro, Aurora já está adulta, se estabelece como fotógrafa e passa pelos dilemas de casar e constituir família. É o momento da narrativa onde ela resolve enfrentar todos os conflitos gerados nas partes anteriores da estória. Aurora, então, tenta organizar os fatos da sua vida - muitos vão sendo descobertos aos poucos, em uma família cheia de segredos e intrigas - e, acima de tudo, tenta descobrir quem ela é. 

Em toda a narrativa, o pano de fundo político do Chile aparece. Não é o primeiro plano da estória, mas serve para contextualizar as dificuldades e os riscos que Aurora vivia. Neste ponto, gosto muito da escrita de Allende, que apresenta eventos históricos e reais de um jeito bastante sútil, sem agredir o enredo, mas, ao mesmo tempo, sem permitir que passe desapercebido. Desta forma, o leitor torce pelo progresso e libertação de Aurora, se envolvendo mais com ela.

Ao mesmo tempo que ele é um romance de época, com uma certa similaridade a Jane Austen, ele é mais político e realista nas questões políticas e governamentais da época. É um livro que vale a pena ser lido e que recomendo!

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