No post de hoje, falarei sobre a obra "Uma Família Feliz", de Raphael Montes, publicada em 2024 e que já conta com uma adaptação cinematográfica produzida pela Amazon Prime.
Você também pode conferir a resenha de "Dias Perfeitos" de Raphael Montes aqui.
O livro começa pelo fim. Narrado em primeira pessoa, logo nas primeiras páginas a protagonista nos conta que está enterrando uma de suas filhas no quintal e, na sequência, propositadamente causa um acidente de trânsito que mata sua outra filha e a si mesma. Passaremos o resto da leitura tentando entender como é que as coisas chegaram a este ponto, o que achei um ótimo início para a obra.
Eva é a esposa-troféu de Vicente e está grávida do primeiro filho do casal, Lucas. Ela é a madrasta de duas gêmeas (Angela e Sara) do primeiro casamento de Vicente, cuja esposa morreu misteriosamente em um acidente numa lancha. Eles moram em um condomínio de classe média alta no Rio de Janeiro, onde Eva divide seu tempo administrando o lar e cuidando de seu pequeno negócio de bonecas reborn. Se você, assim como eu, não sabe o que são essas bonecas, dê uma olhadinha neste artigo.
Eva é a esposa-troféu de Vicente e está grávida do primeiro filho do casal, Lucas. Ela é a madrasta de duas gêmeas (Angela e Sara) do primeiro casamento de Vicente, cuja esposa morreu misteriosamente em um acidente numa lancha. Eles moram em um condomínio de classe média alta no Rio de Janeiro, onde Eva divide seu tempo administrando o lar e cuidando de seu pequeno negócio de bonecas reborn. Se você, assim como eu, não sabe o que são essas bonecas, dê uma olhadinha neste artigo.
A história começa quando Lucas aparece com um grande hematoma na barriga, dias depois de seu nascimento, no mesmo momento em que Eva tem um "apagão" fruto de um cansaço extremo e uma depressão pós-parto. Alguns dias depois, Angela e Sara também aparecem muito machucadas, com cortes e hematomas super sérios e, a partir disso, a vida de Eva desmorona. Vicente a acusa de violência doméstica, as fotos sã vazadas para todo o condomínio, Eva é linchada pelos vizinhos, perseguida pela mídia, perde seu pequeno negócio de bonecas reborn, não tem dinheiro, e assim por diante. Durante todo a narrativa, não sabemos quem cometeu os crimes, e fiquei dividida entre pensar que era, sim, Eva, durante seus apagões, ou Vicente, que tentava incriminar Eva. Mas, conhecendo o Raphael Montes, fiquei pensando que ele provavelmente teria um plot twist.
E teve mesmo. Porém, algumas pontas soltas me incomodaram na narrativa - cuidado com alguns spoilers:
- A maneira como as gêmeas e o próprio Vicente rapidamente substituíram a mãe das meninas por Eva. Em menos de três anos após a morte da mãe, Angela e Sara já chamam Eva de "mãe" como se nada tivesse acontecido. Acho que Raphael poderia ter feito um trabalho melhor nesta parte que explica o que aconteceu antes dos eventos do livro.
- Deduzimos que Vicente é um homem narcisista que se atrai por mulheres fragilizadas e vulneráveis, de forma a dominá-las e moldá-las. Senti falta de entender mais sobre esse personagem e, sobretudo, sobre seu passado. Acredito que teria deixado o enredo mais rico. Contudo, ao contrário de algumas opiniões que li, gosto da dúvida se ele realmente tinha um caso com Solange, a amiga de Eva, ou não. Eu acho que sim, que eles tinham um caso.
- Se as crianças já tinham aparecido agredidas antes, com a mãe, por que Vicente automaticamente suspeita de Eva, que nem fazia parte da família naquela época? E por que Vicente não denunciou a mãe das gêmeas no primeiro episódio de violência quando elas tinham sete anos de idade?
- Como Angela tinha acesso ao celular e e-mail de Eva para vazar as fotos das gêmeas machucadas?
- Como Angela matou a mãe? Com sete anos de idade, como ela foi capaz de jogar seu corpo no mar, por cima do parapeito da lancha, sobretudo um corpo de uma pessoa adulta que estava completamente sedada? Não consegui comprar essa ideia.
Como o livro começa pelo fim, já sabemos o que Eva faz, o que não tira o interesse pela leitura. Porém, eu achei que ficou faltando um maior desenvolvimento da trama entre o ponto que descobrimos quem cometeu os crimes e a resposta de Eva. Todo o plot twist se resolve com um breve diálogo, que explica a situação de forma superficial, e senti falta de algo mais aprofundado. Achei que foi um salto muito grande e muito rápido, fazendo com que um suspense que foi construído por páginas e mais páginas acabe em um parágrafo. Disso, não gostei.
Apesar de todos esses pontos negativos da história, ainda assim foi uma leitura que gostei. Fiquei bastante presa na leitura, me conectei a Eva (mesmo quando pensei que ela era a culpada), os personagens foram construídos de maneira realista e as cenas foram muito bem escritas. Por isso, é uma leitura que recomendo.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5
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