Já Li # 168 - Seminários dos Ratos, de Lygia Fagundes Telles

 

Seguindo com a minha saga de ler todas as obras da grande Lygia Fagundes Telles, no post de hoje falarei um pouco sobre a coletânea de contos "Seminário dos Ratos".

Aqui no Perplexidade e Silêncio já temos as resenhas de:
Já Li #158 - Antes do Baile Verde, de Lygia Fagundes Telles
Sugestão de Leitura | A Noite Escura e Mais Eu, de Lygia Fagundes Telles

Publicado em 1977, "Seminário dos Ratos" traz 14 contos que misturam realidade e fantasia, onde personagens comuns vivem suas rotinas cotidianas em meio a situações surreais que, para eles, são normais, e essa aparente normalidade deixa o enredo ainda mais estranho para o leitor.

Um ponto sobre este livro é que achei o estilo de Lygia aqui muito truncado. É sabido que Lygia muda um pouco seu estilo ao longo de suas obras, já que ela não tinha medo de experimentar várias formas de escrever até encontrar sua voz. Nesta obra, fiquei com a sensação de que Lygia estava brincando mais com fluxos de consciência - estilo característico de Clarice Lispector e Virginia Woolf, as rainhas do meu coração - onde o escritor joga no papel todos os pensamentos de um personagem, sem ordem, sem pontuação, sem regras rígidas de gramática, exatamente como os pensamentos se apresentam em nossas cabeças. Com isso, vários contos tem parágrafos enormes, às vezes ocupando duas ou três páginas sem interrupção, e talvez isso desanime alguns leitores. É claro que Lygia escreve esses fluxos de consciência de maneira incrível, como tudo o que ela se propõe a fazer, mas pode ser que estes trechos super extensos se tornem cansativos para algumas pessoas.

Também preciso dizer que, diferente de outros livros dela, neste aqui poucos contos me marcaram a memória, mas tentarei fazer um breve resumo destes contos que mais me chamaram a atenção.
As Formigas:  duas amigas se hospedam em um quarto e seus pertences são roubados, todas as noites, por formigas. As formigas parecem estar obedecendo a forças sobrenaturais e, sendo um conto mais curto do livro, é interessante de ler.
Senhor Diretor: lembro deste conto por tê-lo achado chato. Trata-se de uma senhora conservadora de direita que escreve cartas ao Senhor Diretor, algum governante indeterminado, reclamando de diversas coisas que, em sua visão, estão erradas no país. Seria um conto interessante não fossem os parágrafos intermináveis.
A Sauna: um senhor de idade se perde em memórias do seu passado enquanto está numa sauna, e conforme ele precisa se despir, suas memórias se tornam mais íntimas, numa metáfora de sua vulnerabilidade. Eu teria adorado a metáfora não fosse, também, os trechos super longos que me faziam perder a atenção. Além disso, é o conto mais longo do livro, e demorei para passar por ele, quase desistindo do restante da leitura. Mas persisti.
Noturno Amarelo: esse conto eu gostei. Laura encontra a casa onde passou sua infância e reencontra familiares e parentes. Não vou dar spoiler mas, será que ela encontra mesmo? Será que eles realmente estão lá? Os diálogos entre os personagens são incríveis e a forma como Lygia constrói o ambiente é sensacional. Vale a leitura.
Seminário dos Ratos: o conto que dá nome ao livro é o último e é literalmente um seminário onde ratos se reúnem para derrubar o governo, numa metáfora à ditadura do Brasil.

Apesar de não ter sido meu livro preferido de Lygia até agora, não dá para negar sua capacidade incomparável de escrever sobre a podridão da alma humana de uma maneira que nos aproxime dos personagens, e não nos afaste. Lygia segue sendo uma das maiores escritoras que já tivemos e recomendo a leitura deste livro ainda assim.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5

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