Finitude

 

Este blog começou como um espaço para eu depositar meus textos autorais mas, num dado momento, fiz uma escolha por dedicá-lo mais à literatura do que a mim, o que me trouxe mais contentamento. Fiquei surpresa quando, hoje, quase oito anos depois do meu último texto autoral, eu ter sentido vontade de vir aqui, de deixar pensamentos que ficaram grandes demais dentro de mim. Houve uma época em que eu fazia Retrospectivas no mês de Dezembro, como as principais leituras do ano, mas dessa vez a retrospectiva sou eu.

Tudo começou com este post: Impermanências, de 2013.

Sempre pensei a respeito da impermanência da vida: que nada fica por muito tempo, seja bom ou ruim, e que temos sorte quando o bom resolve nos escolher. Esses altos e baixos me são difíceis de navegar, eu que acho, desde pequena, que sou feita de uma matéria diferente, uma que não se encaixa ao ritmo inconstante de todas as coisas. Daí me aterro com ainda mais força, em um chão ilusório que não contém firmeza nenhuma. E sempre retorno a este estado de raiz, porque é a única capaz de acalmar um coração que espera pelo pior.

Mas aí estou refletindo sobre a finitude desta vida impermanente, e finitude é a palavra que entrou no meu vocabulário, mas ainda não achou casa dentro dos meus pensamentos. Tento evitá-la, finjo que não existe, não penso nela mas penso o tempo todo. Coisas como: e não é que tudo termina? E não é que as pessoas também se vão? E não é que o fim chega, e nos esquecemos disso com frequência? E não é que agora olho para quem amo e sinto medo? E antecipo lutos. E me preparo para tristezas. E não é que me percebo fraca ante a estes cenários que construo?

A finitude, a impermanência. E como viver nisso tudo?

Pois descobri recentemente, tão recentemente que a palavra ainda é verde, sobre presença. A presença é o antídoto, é o que permite minhas raízes não morrerem secas, e a única palavra capaz de trazer ao meu coração a paz perdida. A presença no que acontece agora - um agora literal, neste segundo - de que agora estou aqui escrevendo, e agora você está lendo, e que agora, este agora, é a única coisa que importa.

E quando a presença for embora, o que fica? O que fica. A pergunta e a resposta são angústia e esperança. Nem tudo vai, nem tudo se esvazia, nem tudo esfarela. Há o que fica, e permanece presente.

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