Greta Gerwig, a diretora da adaptação para os cinemas do clássico "Mulherzinhas" de Louisa May Alcott, conquistou definitivamente meu coração. Com um roteiro extremamente bem adaptado, o filme me deixou emocionada e satisfeita. Neste post, farei uma análise do livro versus o filme de 2019.
Caso você queira saber mais sobre o livro de Louisa May Alcott, clique nos links abaixo. Por causa dos conteúdos destes posts relacionados, vou me dar ao direito de pular as introduções do livro e partir direto para a análise comparativa com o filme.
Publicado em 1868, o livro de Alcott já foi transformado em filme sete vezes. As adaptações mais famosas são as de 1938, com Katherine Hepburn no papel de Jo March, e a de 1994 com Wynona Rider como protagonista. Agora, em 2019, o clássico voltou às prateleiras depois do anúncio que grandes nomes estariam no elenco, como Saoirse Ronan, Emma Watson e Meryl Streep.
Separei as principais diferenças que identifiquei no filme em relação ao livro.
Narrativa não-linear: Greta misturou passado, presente e futuro ao longo do filme, o que, na minha opinião, foi uma ótima idéia. O livro de Alcott, contado cronologicamente, às vezes se tornava tedioso, mas o recurso dos flashbacks de Greta fez com que o roteiro ficasse mais dinâmico e surpreendente.
Meg March: Como o próprio pôster já denunciava, o filme é mais centrado em Jo March, deixando as outras irmãs em segundo plano. No livro de Alcott, cada uma das irmãs March tem seu momento sob o holofote e é exatamente esta combinação de protagonismos que transformou o livro em um clássico. Contudo, não vejo isso como uma grande perda para Amy ou Beth, mas sim para Meg. Por exemplo: no livro, a semana em que Meg viaja e "se finge de rica" é muito mais marcante (para Meg e para o leitor), enquanto que, no filme, a viagem de Meg me pareceu até fora de propósito, uma vez que Greta não se propôs a desenvolvê-la ao longo da trama. A própria atuação fraca de Emma Watson parece reforçar que Meg não seria destacada no filme.
A metamorfose de Amy: Greta e Florence Pugh fizeram um ótimo trabalho com Amy, que era a personagem mais insuportável do livro de Alcott. No filme, Amy se destaca (embora não salte aos olhos como Jo/Saoirse Ronan) e, surpreendentemente, me conquistou. No filme, Amy é mais artística, profunda e determinada do que no livro e me convence que é capaz de ganhar o coração de Laurie.
A relação de Jo com o editor: Como mencionei antes, o foco do roteiro é em Jo e em seu sonho de tornar-se escritora, numa época em que as mulheres eram ainda menos valorizadas e que eram obrigadas a pensar, escrever, desejar e sonhar apenas com casamentos. Greta adicionou ótimas cenas de Jo com seu editor, culminando com uma cena maravilhosa no final onde negocia seus valores e direitos autorais com ele.
Discursos feministas: Muitas críticas do filme reclamaram desta mudança de tom que Greta fez, mas eu amei. E tenho certeza que Alcott amaria também, se estivesse viva. Em vários momentos do filme, Jo, Meg e Amy trazem à tona falas feministas, exigem direitos, reclamam, choram e sofrem, reinvindicando maior independência e/ou empoderamento.
Laurie, Jo e Amy: No livro, a própria Jo sugere para Laurie que Amy seria melhor para ele do que ela. Além disso, Laurie não tem o mesmo rompante apaixonado ao se declarar por Jo, e nem esta demonstra tanta surpresa com a notícia. Assim, no livro, a transição de Laurie de Jo para Amy fez muito mais sentido do que no filme, onde esta transição pareceu atropelada e forçada.
O final: (cuidado com spoilers) O grande trunfo de Greta é o final do filme, que é diferente do final do livro. E quando digo "diferente" quero dizer: melhor, mais inspirado, mais emocionante, lindo, me deixou com lágrimas nos olhos e o coração leve. Dizem que Alcott não pôde dar o final que gostaria ao seu livro por causa do editor, que a obrigou a casar Jo, e que Greta fez o que Alcott faria. Apoiei cem por cento.
O livro ou o filme? Desta vez, vou escolher o filme.
No cinema onde assisti o filme, percebi que havia, predominantemente, dois públicos: senhoras com mais de sessenta anos, que provavelmente leram o clássico na juventude, e adolescentes. Ambas saíram felizes e emocionadas da sessão, em igual medida. O filme conseguiu resgatar o interesse do público jovem em um romance que é, essencialmente, sobre sororidade e empoderamento. Greta conseguiu modernizar uma estória de época, sem perder a essência das personagens e da mensagem de Alcott. Por isso, para quem nunca leu o livro, sugiro começar pelo filme e partir para a obra original em busca de maiores detalhes e aprofundamento.
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