Sugestão de Leitura | Da Magia à Sedução, de Alice Hoffman


De vez em quando, me deparo com um livro que me relembra o quanto gosto de narrativas envolvendo bruxas e feitiços. Em "Da Magia à Sedução" de Alice Hoffman, ela retoma a bruxaria de um jeito moderno e muito interessante, e falarei mais sobre isso nesta resenha. 

Alice Hoffman, escritora norte-americana, já apareceu aqui no blog antes. Veja mais sobre ela aqui:

Publicado em 1995 (e adaptado para o cinema em 1998, com a maravilhosa Nicole Kidman), "Da Magia à Sedução" fala da família das Owen, uma linhagem antiga de bruxas cujo principal talento é criar feitiços que fazem as pessoas se apaixonarem perdidamente. Gillian e Sally ficaram orfãs ainda quando crianças e foram criadas pelas tias, em uma casa escura e afastada do centro da cidade, com um jardim caótico abarrotado de plantas, temperos e flores que serviam às poções das tias. Dia após dia, Gillian e Sally viam mulheres entrando na casa à procura de um feitiço que lhes garantisse o amor de determinados homens, e ambas as garotas juraram que jamais se apaixonariam por ninguém.

Gillian logo se mostra uma adolescente mais selvagem e impulsiva que sua irmã Sally e, ao completar dezoito anos, decide sair da casa das tias para ganhar liberdade e conhecer o mundo. Sally sente-se deixada para trás, mas prefere a vida doméstica e uma rotina tranquila. Sally se casa, tem duas filhas e, quando o marido morre, ela decide também sair da casa das tias e começar uma nova vida em outro lugar.
Onze anos depois desta mudança, quando as filhas de Sally já estão crescidas (e começando a descobrir que também são bruxas), Gillian bate na porta de sua casa, numa madrugada assustadora e chuvosa, com seu namorado Jimmy morto dentro de um carro. Gillian e Sally o enterram no jardim e tentam seguir suas vidas como se nada tivesse acontecido, fosse o cadáver embaixo do arbusto de liláses ou o fato de que elas não se viam há quase vinte anos.

Em termos de bruxaria, não há encantamentos explícitos nem margaritas à meia-noite com as tias (elas na verdade não desempenham muito papel no livro). O tom "pagão" do livro está mais presente na forma como Hoffman escreve (que é incrível) e na atmosfera das cenas. Se você se lembra do filme, Sally abre uma loja de cosméticos à base de plantas e as irmãs não hesitam em usar seus poderes ou lançar feitiços; no livro, parecia que as irmãs estavam sempre fugindo de quem eram e tentavam, a todo momento, negar suas origens de bruxa.
Outro toque de bruxaria é a presença de Jimmy na casa das Owen. Por causa de seu espírito, ainda vagando pela Terra e querendo acertar as contas com Gillian, coisas muito estranhas começam a acontecer no jardim, na casa e no bairro onde as Owen moram. Embora estórias de fantasma não costumem me assustar, senti um pouco de medo de Jimmy.

Gostei muito do estilo narrativo de Hoffman neste livro. Não há divisão de capítulos e quase não existem diálogos. As cenas mudam de perspectiva o tempo todo, me lembrando aquelas cenas de filme que são gravadas em uma tomada única e contínua, e o espectador assiste a transição da cena de uma personagem para outra, incansavelmente. Assim, Hoffman, em um parágrafo, narra as coisas do ponto-de-vista de Sally e, na frase seguinte, estamos lendo sob a perspectiva de Gillian e, de repente, algumas linhas abaixo, aparecem os pontos-de-vista das filhas de Sally, e assim por diante. Embora às vezes fosse um pouco confuso, gostei de como este estilo tornou o livro dinâmico e interessante.

Em essência, o livro fala das jornadas de Gillian e Sally para se encontrarem e fazerem as pazes com suas identidades, história e família. As filhas de Sally são um contraponto às duas irmãs, ambas estando, desde pequenas, muito confortáveis em suas próprias peles e decisões. Gillian tenta absorver algumas características de Sally, com o objetivo de tornar-se mais equilibrada, e Sally faz o mesmo. As tias aparecem apenas no final da estória, para ajudá-las a resolver o problema do fantasma de Jimmy, e a presença das duas senhoras parece trazer o fechamento que as irmãs Owen precisavam para seguirem em frente.

Eu gostei muito da leitura. Achei que Hoffman foi inteligente em sua abordagem da bruxaria, menos "As Brumas de Avalon" e mais "bruxas modernas dos anos 90". Também me envolvi com cada personagem do enredo, e Hoffman soube construí-los muito bem, dando a cada um seu momento embaixo do holofote. Mesmo Gary, o policial que aparece investigando a morte de Jimmy, apesar de ingênuo e um pouco sonso, foi uma ótima adição à trama. Por isso, é uma leitura que eu recomendo muito.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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