Já Li #103 - Amor Incômodo, de Elena Ferrante


Elena Ferrante, uma das minhas escritoras preferidas, continua me encantando com suas obras. No post de hoje, falarei sobre o sensível romance "Amor Incômodo".

Ferrante me conquistou definitiva e irreversivelmente com sua Série Napolitana, uma quadrilogia que conta a história da vida de Lenu e Lila, de suas infâncias até à velhice. Se você não conhece estes livros, sugiro começar a leitura deles agora mesmo. Abaixo, as resenhas dos quatro volumes para você navegar:
Assim, depois de me apaixonar completamente por Ferrante, o caminho natural foi a curiosidade em ler suas outras obras.

Este livro começou com um conto, entitulado em inglês como "Delia's Elevator", em 2004. O conto falava sobre o retorno de Delia à casa da mãe depois do funeral da mesma. Ferrante viu aqui uma possibilidade de aprofundamento da estória e, assim, dois anos depois, surgiu "Amor Incômodo".

Delia recebe a notícia de que sua mãe, Amalia, foi encontrada afogada no mar, vestindo apenas sutiã de uma marca muito cara e chique de Nápoles. A princípio, não sabemos se a morte foi um assassinato ou m suicídio e, na realidade, a narrativa nem tenta endereçar este mistério. Ferrante foca no relacionamento entre Delia e Amalia.
Durante o funeral, um senhor bem alinhado aparece para se despedir de Amalia, provocando a ira de seu irmão, tio de Delia, Felippe. O senhor, chamado Caserta, logo é identificado como um possível amante de Amalia, já há muito tempo separada do pai de Delia. Delia, assim, fica intrigada, pois ela não consegue conceber que a mulher que ela conhecia fosse capaz de nadar nua no mar, bêbada, no meio da noite, na companhia de um homem desconhecido.
Com isso, Delia resolve vistar o apartamento da mãe para tentar compreendê-la por inteiro.

Além disso, Delia também visita a loja de lingeries de onde veio o sutiã, e lá encontra o filho de Caserta, que é segurança da loja. É através deste encontro que o leitor fica sabendo que Caserta está na vida de Amalia desde que Delia era uma criança e que, um dia, ela viu a mãe e Caserta entrando num porão e contou ao pai. A partir daí, o pai ficou louco de ciúme e começou a bater em Amalia todos os dias, até que ela pegou as filhas (Delia e mais duas irmãs mais novas) e saiu de casa.

Aos poucos, Ferrante vai dando pistas do que realmente aconteceu, e a cada página Amalia ficava mais e mais parecida com a Capitu, de "Dom Casmurro" escrito por Machado de Assis. Assim como não sabemos se Capitu traiu Bentinho, também não sabemos se Caserta era amante de Amalia. Conforme Delia vai se lembrando dos eventos de sua infância, o leitor vai percebendo que a história da família é muito diferente do que pensávamos no princípio do livro, uma vez que Delia reprimira vários eventos traumáticos de sua infância.

Sendo o primeiro livro publicado de Ferrante, é possível ver aqui o início do que se transformará em sua marca registrada, o estilo de escrita fluido, até mesmo apressado, com fluxos de consciência crus e realistas sobre a natureza humana, e os cenários decadentes da Itália. Ferrante não romantiza nem suaviza nada, e o leitor deve estar ciente disso antes de embarcar em seu mundo.
Não é o melhor trabalho de Ferrante, mas ainda assim é um livro bom que merece sua atenção.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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