Já Li #76 - Comando Sul, vol. 3: Aceitação, de Jeff VanderMeer


O post de hoje é dedicado ao fechamento da trilogia Comando Sul, de Jeff VanderMeer, com "Aceitação". Representante de um subtipo pouco conhecido da ficção-científica, o new weird, esta resenha também debaterá se a trilogia foi fechada satisfatoriamente ou não.

O new weird se caracteriza por cenários urbanos, de uma realidade alternativa, criando novas sociedades mais complexas. Além disso, não existe romantização e, por isso, as situações e as personagens são cruas e racionais, pois os sentimentos e as emoções não são prioridade aqui. E, por fim, o new weird é caracterizado por prover finais abertos, sem fechamento. Por isso, se você espera que a trilogia "Comando Sul" forneça respostas e esclarecimentos ao final dos três volumes, você certamente irá se frustrar.

Para ler as resenhas dos volumes anteriores da trilogia, navegue:

Ao longo do primeiro volume, "Aniquilação", VanderMeer apresentou a figura do faroleiro, chamado Saul Evans. Em "Aceitação", Saul passa a ser um dos protagonistas do enredo. Nos capítulos dedicados ao seu ponto-de-vista, o leitor descobre qual foi a evolução da natureza e do habitat ao redor do farol durante os eventos que desencadearam a Área X, bem como fica sabendo qual foi o processo de transformação do próprio Saul. 
Saul, a personagem mais interessante depois da bióloga, faz amizade com uma garotinha de nove anos de idade, chamada Gloria, que gosta de explorar a região do farol. Ele também tem um relacionamento com Charlie, que trabalha na cidade e não compreende o estilo de vida isolado e solitário de Saul.
Também descobrimos que Saul, antes de ser faroleiro, era pastor e que ele foi o responsável pelas palavras escritas nas paredes no túnel, descobertas em  "Aniquilação".

Outros capítulos são dedicados à Diretora do Comando Sul, que aparece de forma mais premente no segundo volume, "Autoridade". Uma das grandes surpresas do enredo é que a Diretora de "Autoridade", a psicóloga de "Aniquilação" e Glória são a mesma pessoa. Quando criança, Glória observava algumas expedições que exploravam a região do farol, buscando indícios de paranormalidade ou alienígenas. Quando cresceu, ela decidiu que faria parte do Comando Sul de qualquer maneira, pois precisava descobrir os mistérios daquela região, tão importante na sua infância. Assim, ela é contratada como Diretora, sob a identidade falsa de Cynthia. Ainda não satisfeita, ela decide entrar na área X, pois quer saber o que aconteceu com a natureza e com Saul depois dos eventos extraordinários e, assim, participa da 12ª expedição com o disfarce de psicóloga.

Por fim, o terceiro núcleo da narrativa é composto por Controle e Ave Fantasma, ambos protagonistas de "Autoridade". Através deles, o leitor descobre que o tempo passa muito mais rápido na Área X. As poucas respostas que são fornecidas sobre as forças que desencadearam a Área X são dadas nos capítulos deles mas, como mencionei no início da resenha, muitas perguntas continuam abertas e muitas coisas ficam sem explicação. Por outro lado, fica claro que a Ave Fantasma é um clone da bióloga, clone gerado pela Área X, mas ninguém sabe porque a Área X gera estes clones. Para mim, os capítulos dedicados a eles foram os mais chatos, pois proveram mais confusão do que esclarecimento e não achei que eles agregaram muito à narrativa.

Apesar da ausência de esclarecimentos e de um final estruturado, a leitura flui e prende a atenção. Os elementos de ficção-científica que VanderMeer imaginou continuam assustadores, originais e misteriosos, pois ele se vale de uma ambientação de terror psicológico que funciona. Há um quê de H. P. Lovecraft nas suas descrições e nos monstros que a Área X produz. E, para mim, as partes mais legais foram as do faroleiro, uma personagem muito interessante e que trouxe frescor à trama, que começava a tornar-se repetitiva com a linearidade das demais personagens.

De forma geral, apesar de marcante, não gostei da trilogia. Reconheço seu mérito pela inovação e pelas premissas ousadas mas, como estória, achei fraca. Os três livros poderiam ter sido publicados como volume único, pois a trama, no geral, anda e evolui pouco, assim como o arco das personagens também poderia ser melhor explorado. Fora isso, o estilo de escrita de VanderMeer me cansou em vários momentos, pois ele pareceu priorizar o mistério e a confusão, em vez de escrever com coesão e ritmo. Por isso, recomendo a trilogia para os fãs de ficção-científica pelo marco que VanderMeer produziu no gênero, mas não pelo conteúdo em si.

Caso alguém se interesse, há também este post para ser lido:

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

0 Comments