Prosseguindo com a leitura da trilogia de "Comando Sul", de Jeff VanderMeer, o post de hoje é sobre o segundo volume, entitulado "Autoridade". Depois da popularidade que a trilogia ganhou, com direito a filme da Netflix e Natalie Portman como protagonista, veremos se as obras seguintes sustentam o hype.
Caso você prefira ler a resenha do primeiro volume antes, clique aqui:
O Comando Sul que dá nome à trilogia é uma agência secreta que gerencia expedições a uma área da Terra chamada Área X. Nesta área, algum evento bizarro aconteceu, mas ninguém conseguiu obter uma explicação para ele: formou-se uma fronteira invisível, como um campo magnético super potente, e só o Comando Sul possui a fórmula que permite que seres humanos a atravessem. Além disso, a natureza tomou conta do local delimitado pela fronteira, comportando-se de forma atípica e anormal para os padrões terrestres. As pessoas que aceitam participar das expedições se suicidam, assassinam umas às outras ou voltam de lá esvaziadas, sem personalidade e sem sentimentos.
Publicado em 2014, "Autoridade" é centrado no Comando Sul. Se em "Aniquilação" o leitor não possui quase nenhuma informação sobre a agência secreta, este segundo volume tem todo seu enredo ao redor dela e descreve, não apenas suas instalações, como os profissionais que lá trabalham e os processos que utilizam.
Em linhas gerais, o Comando Sul é uma instituição fracassada, que está fadada ao fim e ao controle da Central, que detém o poder e as decisões relevantes sobre a Área X. A credibilidade do Comando Sul decaiu ao longo dos seus trinta anos de existência, pois nenhuma das expedições enviadas fez descobertas sobre a Área X. Suas instalações físicas estão abandonadas, e as pessoas ali trabalham em meio à sujeira, bagunça e depredação. Os próprios profissionais não acreditam mais em suas missões, e tornaram-se apáticos e inúteis.
John Rodriguez, que se autodenomina Controle, foi enviado pela Central para investigar o sumiço da psicóloga. No volume anterior, ela resolve acompanhar a 12ª expedição sem autorização da Central e está desaparecida desde então. As demais integrantes da expedição retornaram, mas no mesmo estado mental alterado e alheio dos homens da 11ª expedição. Só a bióloga parece ter algum resquício de personalidade, mas se recusa a conversar com Controle sobre o que aconteceu na Área X. Ele também enfrenta a resistência de Grace, antiga subordinada da psicóloga que, agora, não quer se subordinar a ele, pois ela acredita que a psicóloga irá voltar.
Aos poucos, Controle encontra diversas pistas, segredos e mistérios sobre a Área X, mas não é capaz de encaixar todas as partes. E é aqui que começa o problema do livro.
Jeff VanderMeer tentou repetir a mesma fórmula narrativa de "Aniquilação" mas, infelizmente, não obteve o mesmo sucesso. Em "Aniquilação", o grande trunfo da estória é a atmosfera misteriosa e incompreensível da Área X, pelo ponto-de-vista da bióloga, e que mantém o leitor preso à trama, querendo entender o que está acontecendo. No entanto, em "Autoridade", a estória não engrena e algo realmente significativo e interessante só acontece nos dois últimos capítulos.
Controle é uma personagem chata, que não tem um arco evolutivo na estória. Ele começa e termina mais ou menos do mesmo jeito. Se o enredo tivesse sido narrado pelo ponto-de-vista de Grace, as coisas seriam mais interessantes. Além disso, VanderMeer solta diversos elementos bizarros ao longo do livro - coelhos brancos, celulares-planta, frases pintadas atrás de portas que dão para paredes - e não há nenhuma amarração entre eles. São só coisas esquisitas jogadas pelo livro, que não fazem sentido e nem tem função.
Por isso, este livro foi uma decepção, ainda mais comparando com o quanto gostei do primeiro. Ainda assim, apenas por causa do último capítulo, pretendo finalizar a leitura da trilogia, na esperança de que a combinação entre Controle e a bióloga o ritmo se recupere.
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