Sugestão de Leitura: Os Diários de Virginia Woolf - Volume I - 1915 a 1918


A Editora Nós recentemente publicou uma série de cinco livros dedicados à musa inspiradora deste blog, Virginia Woolf. Todos os livros são compilações de notas, ensaios e entradas de diário da escritora entre os anos 1915-1920, época em que o mundo enfrentava a Segunda Guerra Mundial. Recentemente li "Os Diários - Volume I" e separei as minhas principais impressões sobre a obra neste post.

Antes de seguir adiante, se você quer saber mais sobre Virginia, recomendo você começar por este post: O que ler de Virginia Woolf?

"Os Diários - Volume I" é o primeiro volume dos diários de Virginia, que manteve o hábito de escrever em diários por mais de quarenta anos, registrando momentos do cotidiano que, eventualmente, viravam cenas ou personagens em suas obras. Na época deste primeiro volume, Virginia tinha 33 anos de idade, havia casado recentemente com Leonard, eles moravam em Richmond (uma cidade próxima a Londres) e ainda não havia publicado nenhum de seus livros. Leonard estava começando a montar sua editora e vemos que ela ajudava em uma série de atividades desta editora.
Em paralelo, enquanto escrevia os diários, Virginia tentava encontrar a sua voz como autora e já percebemos, nos registros, muito de sua identidade e sensibilidade e, sobretudo, sua capacidade de transformar o cotidiano em algo poético e profundo. 

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas e amigos que passavam pela vida dela e do marido. Me pareceu que sempre havia uma visita, um passeio ou uma viagem acontecendo e que quase não havia oportunidade para Virginia ficar sozinha, refletir ou descansar. Quando li sobre sua vida, no passado, eu tive a impressão de que ela era uma mulher solitária, e depois de ter acesso a este Diário fiquei me perguntando se não era exatamente esse excesso (de pessoas, de conversas, de eventos) que a desconectavam de si mesma e da realidade. Eu que tenho uma natureza introvertida fiquei cansadíssima enquanto lia os registros e tive a sensação de que nenhum destes relacionamentos (ou poucos deles) eram realmente interessantes e relevantes na vida dela.

A outra coisa que me chamou a atenção foi o pano de fundo da Segunda Guerra Mundial. Cada vez que ela, o marido e as empregadas precisavam se esconder na cozinha, meu coração se apertava. Foi mais ou menos como ler O Diário de Anne Frank, de certa forma. E acho que o fato de eles terem ficado sãos e salvos ao longo desse período, passando apenas por algumas dificuldades relacionadas ao racionamento de comida, mostra como ela tinha um estilo de vida privilegiado.

Me surpreendi (e ao mesmo tempo não) com a amargura que sentimos nela, dependendo da pessoa e da situação que ela relata. Virginia sempre foi perfeita ao descrever as camadas mais profundas de seus personagens, e acho que isso só acontece quando o(a) escritor(a) observa e entende o ser humano - e imagino que não exista uma forma de conhecer o ser humano sem desprezá-lo um pouco. E foram estes momentos de amargura/acidez que me deixaram ainda mais entretida na leitura.
E também fiquei intrigada com a opinião de Virginia sobre Katherine Mansfield, sempre tive a impressão de que elas eram melhores amigas ou algo do tipo.

Como ponto histórico curioso, gostei de ler sobre o processo de impressão dos livros da época. Cada livro, cada simples unidade de um livro, dava um trabalho gigantesco e eu fiquei maravilhada (e aliviada que não seja mais assim). Também gostei de saber que ela lia e resenhava livros, nos primórdios do que seriam nossos blogs literários de hoje em dia.

Mas acho que o que mais chama a atenção é o que não está escrito. Há alguns períodos de hiato entre as entradas de diários que coincidem com períodos em que hoje sabemos que Virginia sofreu mais com saúde mental. [trigger warning - Se este tema é delicado para você, por favor, sinta-se à vontade para interromper a leitura do post] Para quem não sabe, Viginia cometeu suicídio aos 59 anos de idade e é inevitável não pensar nisso ao longo dos Diários, em uma tentativa de entendermos melhor essa escritora e mulher fantástica. Talvez fantástica demais para o mundo e tempo em que viveu. 

Eu, que sou fã dela desde que era adolescente, me senti honrada por ter essa obra em mãos. Só fiquei me perguntando se ela gostaria de ter sua intimidade assim exposta - talvez não, ou talvez sim, quem sabe. De toda forma, eu queria que ela soubesse que os registros estão em boas mãos, nas mãos dos fãs que a admiram e a respeitam enormemente. E também queria poder abraçá-la. 

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 4/5

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