Tempos atrás, ganhei este livro maravilhoso que contém oito livros selecionados de Virgínia Woolf. Faltava apenas um para eu ler e, na resenha de hoje, falarei sobre "Os Três Guinéus".
Virgínia Woolf dispensa introduções, ainda mais para quem está acostumado a acompanhar o Perplexidade e Silêncio e sabe que ela é presença frequente por aqui.
"Os Três Guinéus" foi publicado em 1938, e é a parte não-ficcional derivada de seu livro chamado "Os Anos", o último de sua carreira, antes de cometer suicídio. Nesta obra de ficção, a estória acompanha a vida da família Pargiter de 1880 a 1930 e todas as mudanças sociais e políticas que aconteceram nesta época. Porém, Virgínia e seu editor acharam melhor separar da obra a parte não-ficcional da mesma, referente a algumas cartas que ela escreveu sobre como prevenir a guerra. Assim, estas cartas compõem o livro "Os Três Guinéus".
Nas cartas, Woolf se dirige a um nobre senhor da burguesia que lhe perguntou qual era sua visão para prevenir a iminente Segunda Guerra Mundial, mas o nome deste senhor nunca foi revelado. Há quem acredite que ele é ficcional, apenas como pretexto para Woolf escrever seu manifesto feminista e pacifista sobre o assunto. Guinéu foi uma moeda que existiu de 1663 a 1813 e que era usada no tráfico de escravos, a princípio, e depois entrou no mercado econômico inglês com a equivalência aproximada de 1 libra.
O livro é dividido em três partes, cada uma referente a um guinéu. E, em cada parte, Woolf traz o exemplo real de uma mulher da época que resistiu ao patriarcalismo.
Na primeira parte, Woolf defende que o guinéu - símbolo de investimento do Estado, neste contexto - deve ir para a educação. Naquela época, fazia apenas vinte anos que as mulheres tinham adquirido o direito de votar, através do sufrágio, e dez anos que elas foram autorizadas a trabalhar na Inglaterra. Com isso, Woolf exemplifica que as mulheres não dispunham de condições iguais aos dos homens nem na educação e nem no trabalho, pois os homens ainda as viam como inferiores e subalternas. Mas Woolf ressalta que as mulheres tem uma natureza mais pacífica que a dos homens - talvez por causa da maternidade e seus instintos derivados - e que, ao contrário dos homens, eram incentivadas a cuidar, não a destruir. Woolf defende que homens e mulheres deveriam ser educados para cuidar e construir, desde crianças.
Nesta parte, Woolf traz a figura de Mary Astell. Mary tentou fundar uma escola voltada para as mulheres, na Inglaterra, que as ensinasse profissões tipicamente "masculinas" (marcenaria, contabilidade, construção civil, dentre outras) e que, além disso, as esclarecesse e instruísse, além de apenas alfabetizar. A escola foi proibida de ser fundada pela Igreja.
Na segunda parte, Woolf diz que o segundo guinéu deveria ser destinado ao trabalho. O trabalho engrandece o ser humano e lhe oferece perspectiva e objetivos e, segundo a escritora, deixava as pessoas mais distantes da necessidade de fazer guerra. Afinal, a paz favorece os projetos pessoais e a prosperidade.
O Primeiro Ministro da Inglaterra da época não incentivava que as mulheres trabalhassem pois ele acreditava que as mulheres eram inferiores e não mereciam ter seu próprio dinheiro. Para não deixar dúvidas, Woolf provê todos os dados históricos que comprovam estes fatos. Sophia Jex-Blake, filha de um fazendeiro poderoso da época, foi banida de sua família por querer trabalhar nas fazendas do pai em vez de casar, com aval do Primeiro Ministro. Sophia morreu na miséria e esquecida.
Na terceira e última parte, o guinéu deveria ir para as liberdades individuais e para a cultura. Woolf defendia que, para prevenir a guerra, além da pessoa ter educação e ter um trabalho, ela também deveria ter cultura e liberdade; sem estes últimos, o ser humano jamais seria capaz de compreender o que a guerra tira da sociedade. Nesta parte, ela cita a Sra. Oliphant, uma viúva que, ao herdar a fortuna do marido, resolveu abrir um centro de Cultura na Inglaterra, onde financiaria peças de teatro, artistas locais e escritores. Seu centro foi fechado pelo governo antes mesmo de ser inaugurado, porque ela era mulher e "mulheres não sabem exercer a liberdade", segundo depoimento de um político da época.
Embora a sinopse do livro se concentre na questão de prevenção à guerra, Virgínia, na realidade, fala sobre as discriminações que as mulheres sofriam em sua época. Por isso, acabei gostando da leitura mais do que esperava - embora tenha sentido muita revolta e indignação no decorrer do livro. As notas históricas só serviram para me deixar ainda mais perplexa sobre estas discriminações. Desta forma, é uma leitura que recomendo.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio:
Nas cartas, Woolf se dirige a um nobre senhor da burguesia que lhe perguntou qual era sua visão para prevenir a iminente Segunda Guerra Mundial, mas o nome deste senhor nunca foi revelado. Há quem acredite que ele é ficcional, apenas como pretexto para Woolf escrever seu manifesto feminista e pacifista sobre o assunto. Guinéu foi uma moeda que existiu de 1663 a 1813 e que era usada no tráfico de escravos, a princípio, e depois entrou no mercado econômico inglês com a equivalência aproximada de 1 libra.
O livro é dividido em três partes, cada uma referente a um guinéu. E, em cada parte, Woolf traz o exemplo real de uma mulher da época que resistiu ao patriarcalismo.
Na primeira parte, Woolf defende que o guinéu - símbolo de investimento do Estado, neste contexto - deve ir para a educação. Naquela época, fazia apenas vinte anos que as mulheres tinham adquirido o direito de votar, através do sufrágio, e dez anos que elas foram autorizadas a trabalhar na Inglaterra. Com isso, Woolf exemplifica que as mulheres não dispunham de condições iguais aos dos homens nem na educação e nem no trabalho, pois os homens ainda as viam como inferiores e subalternas. Mas Woolf ressalta que as mulheres tem uma natureza mais pacífica que a dos homens - talvez por causa da maternidade e seus instintos derivados - e que, ao contrário dos homens, eram incentivadas a cuidar, não a destruir. Woolf defende que homens e mulheres deveriam ser educados para cuidar e construir, desde crianças.
Nesta parte, Woolf traz a figura de Mary Astell. Mary tentou fundar uma escola voltada para as mulheres, na Inglaterra, que as ensinasse profissões tipicamente "masculinas" (marcenaria, contabilidade, construção civil, dentre outras) e que, além disso, as esclarecesse e instruísse, além de apenas alfabetizar. A escola foi proibida de ser fundada pela Igreja.
Na segunda parte, Woolf diz que o segundo guinéu deveria ser destinado ao trabalho. O trabalho engrandece o ser humano e lhe oferece perspectiva e objetivos e, segundo a escritora, deixava as pessoas mais distantes da necessidade de fazer guerra. Afinal, a paz favorece os projetos pessoais e a prosperidade.
O Primeiro Ministro da Inglaterra da época não incentivava que as mulheres trabalhassem pois ele acreditava que as mulheres eram inferiores e não mereciam ter seu próprio dinheiro. Para não deixar dúvidas, Woolf provê todos os dados históricos que comprovam estes fatos. Sophia Jex-Blake, filha de um fazendeiro poderoso da época, foi banida de sua família por querer trabalhar nas fazendas do pai em vez de casar, com aval do Primeiro Ministro. Sophia morreu na miséria e esquecida.
Na terceira e última parte, o guinéu deveria ir para as liberdades individuais e para a cultura. Woolf defendia que, para prevenir a guerra, além da pessoa ter educação e ter um trabalho, ela também deveria ter cultura e liberdade; sem estes últimos, o ser humano jamais seria capaz de compreender o que a guerra tira da sociedade. Nesta parte, ela cita a Sra. Oliphant, uma viúva que, ao herdar a fortuna do marido, resolveu abrir um centro de Cultura na Inglaterra, onde financiaria peças de teatro, artistas locais e escritores. Seu centro foi fechado pelo governo antes mesmo de ser inaugurado, porque ela era mulher e "mulheres não sabem exercer a liberdade", segundo depoimento de um político da época.
Embora a sinopse do livro se concentre na questão de prevenção à guerra, Virgínia, na realidade, fala sobre as discriminações que as mulheres sofriam em sua época. Por isso, acabei gostando da leitura mais do que esperava - embora tenha sentido muita revolta e indignação no decorrer do livro. As notas históricas só serviram para me deixar ainda mais perplexa sobre estas discriminações. Desta forma, é uma leitura que recomendo.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio:
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2 Comments
Oi, Ruh! Já ouvi falar nesse livro dela, mas ainda tô remando com Orlando, que tá parado há tempos na minha estante :/ Fiquei muito interessada em Os três Guinéus, porque gosto muito dos ensaios dela e achei muito inteligente essa divisão que existe no livro. Em parte, acredito que é ficcional, né? Porque ela criar personagens para exemplificar as condutas machistas da época. Com certeza, vou ler quando conseguir <3
ResponderExcluirLove, Nina.
As mulheres que ela menciona ao longo do livro são reais, não ficcionais. Ficcional, talvez, seja somente o interlocutor, mas pesquisei sobre as mulheres e elas realmente existiram. Bjs!
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