Já Li #87 - Objetos Sólidos, de Virgínia Woolf


O post de hoje é um retorno às minhas origens, já que falar sobre Virgínia Woolf é uma ótima oportunidade de eu me reconectar com minha essência introspectiva. Falarei sobre um grande achado de sebo, a coletânea de contos "Objetos Sólidos", que reúne os contos que deram origem a Mrs. Dalloway.

"Objetos Sólidos" foi a primeira compilação de todos os contos escritos por Virgínia Woolf ao longo de sua carreira. São 45 contos, dos quais 16 nunca tinham sido publicados antes.

Para os fãs da escritora, uma coisa muito legal dessa coletânea é que ela foi organizada em ordem cronológica e, por isso, é possível perceber a evolução da escrita de Virgínia Woolf ao longo do tempo. O primeiro conto dela é de 1906 e chama-se "Phyllis e Rosamond", que mais parece um manifesto feminista sobre os esteréotipos das mulheres naquela época (o que é ótimo), mas que apresenta pouco de seu característico fluxo de consciência. O último conto, de 1941, é "Estação de águas", curto e cheio de subtexto, praticamente abstrato, como uma pérola de seu estilo único.

Separei meus contos preferidos para esta resenha. O que eles tem em comum é que são os contos que inspirariam Virgínia Woolf a escrever a obra-prima "Mrs. Dalloway". Virgínia logo resolveu aprofundar a ampliar o universo dos contos abaixo, vendo o grande potencial que eles encerravam.

Mrs. Dalloway em Bond Street
Este conto é leitura obrigatória para quem gosta do livro. Ele apresenta Mrs. Dalloway saindo para comprar luvas, muito similar à cena inicial do livro, quando ela sai para comprar flores para a próxima festa que será anfitriã. Mrs. Dalloway passa perto do Big Ben, observando as pessoas ao seu redor e tentando entender suas vidas e suas essências, mesmo sem conhecê-las. Rapidamente ela chega às suas próprias reflexões do que os outros - a sociedade, seu marido, seus amigos - consideram ser uma "mulher de classe" e ela percebe que até se encaixa neste padrão, mas a muito custo. Enfim, Mrs. Dalloway chega à loja de luvas, mas mal se lembra o que foi fazer lá. A adorável Mrs. Dalloway surge aí, uma personagem tão cheia de camadas que estou até hoje descobrindo mais sobre ela.

A apresentação
A protagonista deste conto é Lily Everit, uma das convidadas em uma das festas de Mrs. Dalloway. Lily logo registra a personalidade acolhedora e simpática de sua anfitriã, mas se sente forçada a socializar com os outros convidados, o que não deseja fazer. Mrs. Dalloway apresenta Lily a Bob Brinsley, um rapaz que gosta de poesia como ela. Porém, logo nos primeiros minutos de conversa, Lily logo percebe que Bob não faz parte de seu mundo, mas não consegue encontrar uma forma de se livrar daquela conversa sem parecer mal educada ou sem ofendê-lo. A situação fica insustentável quando Bob duvida que Lily tenha escrito um ensaio ("uma mulher escrevendo um ensaio? Isso é uma espécie de piada?") enquanto mata uma mosca e arranca suas asas.

Juntos e separados
Em outro conto cujo cenário é uma festa de Mrs. Dalloway, quando esta apresenta o Mr. Serle a Miss Anning. Miss Anning, com 40 anos, se sente mal por ainda ser uma "solteirona" e, numa espécia de obrigação moral, se propõe a encontrar alguma graça, algum encanto, no entediante Mr. Serle. Eles tentam engatilhar uma conversa sobre Canterbury, mas ambos permanecem atrás de seus muros, sem demonstrar seus reais sentimentos e nem expressar seus verdadeiros pensamentos ao outro, num conto que se torna angustiante pela inércia das personagens.

Os demais contos da coletânea seguem uma linha de estilo similar e acredito que seja uma obra que os fãs apreciarão mais do que os outros leitores. O estilo de Virgínia Woolf é muito subliminar, por isso, pode desapontar quem espera por ação ou explicações/descrições detalhadas do que está acontecendo. Eu, claro, devorei cada um e adorei conhecer as origens da minha querida Mrs. Dalloway.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

Aqui no Perplexidade e Silêncio tem mais 26 posts sobre livros da Virgínia Woolf. Coloque o nome dela na busca e divirta-se! (:

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