Sugestão de Leitura | Noite e Dia, de Virginia Woolf

Quem segue o Instagram do Perplexidade e Silêncio viu que, tempos atrás, comprei em um sebo este livro, "Noite e Dia", da Virgínia Woolf. Sempre que leio algo dela já sei que ficarei inspirada, melancólica e com vontade de contar para o mundo todo sobre ela. E, desta vez, não foi diferente.

Para quem ainda não começou a ler Virgínia Woolf, este livro é uma boa opção. Aqui, ela ainda não adquiriu completamente o estilo rebuscado e introspectivo que a deixaria conhecida, mas já apresenta as características essenciais de suas obras (fluxos de consciência, descrições de pensamentos e sentimentos, pouca ação e muita reflexão, etc). Por isso, "Noite e Dia" é considerado o livro mais simples dela mas, acreditem, nada relacionado à Virgínia é simples - e isso é um elogio.
O livro tem quatro personagens principais: Katherine Hilbery, Mary Datchet, Ralph Denham e William Rodney. Os destinos destas personagens estão entrelaçados por causa dos círculos sociais nos quais eles convivem, predominantemente por causa da família de Katherine. Sua família, rica e aristocrática, tem uma herança de escritores famosos e poetas, atraindo a atenção de intelectuais (como William Rodney) e aspirantes à ascensão social (Ralph Denham).
Em um primeiro nível, "Noite e Dia" é um romance sobre o amor e o único livro de Virgínia Woolf que chega perto de falar sobre este tema. Em muitos trechos, me lembrou Jane Austen, por causa das dinâmicas familiares, relacionamentos e papéis a serem desempenhados numa determinada sociedade. Nestes termos, o relacionamento entre Katherine e Ralph me lembrou Elizabeth e Darcy.
Em um segundo nível, como sempre acontece nas obras de Virgínia Woolf, ela discute a identidade da mulher. Katherine e Mary são extremamente diferentes e, ao mesmo tempo, compartilham da mesma visão de mundo. 
Katherine, filha única, vinda de berço aristocrático como mencionei, não precisa trabalhar e passa seus dias tentando elaborar uma complicada biografia de seus antepassados, ao lado de sua mãe. Ela é fechada e "esquisita", e ninguém a compreende inteiramente. Com o tempo, ela fica entediada e começa a refletir que deveria ser uma engenheira ou qualquer profissão que lidasse com números. Agora, lembre-se: este livro foi publicado no início de 1900, quando era impensável que uma mulher quisesse outra coisa além de ser mãe e esposa e, além disso, era mais impensável ainda que uma mulher quisesse ter uma profissão "de homens". Para deixar ainda mais revolucionário, Katherine quer lidar com números em uma família conhecida por suas palavras.
Mary é de família humilde e simples e tem vários irmãos e irmãs. Mora em um apartamento que precisa alugar, de tempos em tempos, para completar sua renda. Trabalha em um escritório que luta pelos direitos das mulheres de votar. Katherine inveja que Mary tenha um trabalho e Mary vê nele sua motivação para continuar viva.
Perto do fim, achei que a trama ficou um pouco arrastada mas, na conclusão da estória, percebi que as páginas que eu julgava terem sido desnecessárias eram, na realidade, a essência para entender os acontecimentos posteriores. Portanto, é um livro para se ler com calma e com espírito vitoriano-Jane-Austeniano.
O livro vale, na minha opinião, por causa de Katherine e Mary. Nunca gostei muito de estórias de amor, para ser sincera, então o que realmente me fisgou neste livro são as reflexões e sentimentos confusos que ambas tem ao longo do enredo, principalmente quando precisam tomar decisões que a sociedade e a família esperam que elas tomem - como casar e ter filhos, por exemplo. Além disso, ver a relação entre as duas - que não é de amizade - é bem interessante.
E Virgínia Woolf, minha musa, é sempre - sempre! - inspiradora. Aqui no Perplexidade e Silêncio tem vários posts sobre ela, coloque ali na busca e divirta-se!

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