O narrador deste livro é um dos mais curiosos que já li, e "Enclausurado", de Ian McEwan, certamente vale a análise na resenha de hoje.
Aqui no Perplexidade e Silêncio, já tivemos a comparação entre livro e filme da obra "Reparação".
Aqui no Perplexidade e Silêncio, já tivemos a comparação entre livro e filme da obra "Reparação".
"Enclausurado" é um romance escrito por Ian McEwan, narrado em primeira pessoa pelo feto, que está dentro do ventre da mãe, Trudy.
Trudy é casada com John, um poeta fracassado que a importuna constantemente recitando poesias que ela não tem o menor interesse de ouvir. Já separados, Trudy tem um caso com Claude, irmão de John. Juntos, Claude e Trudy planejam assassinar John para poderem ficar juntos e herdar sua propriedade.
Enquanto a trama principal se desenrola, o feto-narrador acompanha os eventos e conversas que ocorrem fora do útero e ele percebe que Claude não deseja que ele viva, pois percebe que a mãe jamais o menciona como parte dos planos futuros. O feto não sabe se será morto assim que nascer, ou se será abandonado pelo casal, o que gera muitas especulações a respeito do futuro.
O feto-narrador também percebe que Claude não tem a intenção de continuar com Trudy, pois tudo o que ele quer é o dinheiro das propriedades do falecido irmão. Trudy lida com a culpa pelo assassinato de John, enquanto a frieza de Claude surpreende o feto-narrador.
O feto-narrador também percebe que Claude não tem a intenção de continuar com Trudy, pois tudo o que ele quer é o dinheiro das propriedades do falecido irmão. Trudy lida com a culpa pelo assassinato de John, enquanto a frieza de Claude surpreende o feto-narrador.
É lógico que a leitura deste livro exige de nós uma certa abstração, já que o feto-narrador "vê" coisas que ele obviamente não veria de dentro do útero, e sabe de detalhes que ele não teria acesso. Isto posto, é uma leitura ótima. O feto-narrador tem uma personalidade marcante e é um excelente ponto-de-vista para um enredo que, de outra maneira, não seria exatamente original.
O enredo tem também um pouco de suspense policial, pois acompanhamos o planejamento e a execução de um assassinato.
À medida que a história avança, o leitor é confrontado com questões morais, existenciais e políticas. O feto-narrador questiona sua própria existência, a ética do assassinato planejado e a natureza da vida em sociedade. Através de um estilo de escrita eloquente e provocador, Ian McEwan explora temas como liberdade, amor, conspiração e poder.
Em geral, e contrariando minhas vagas lembranças de McEwan (tive que puxar na memória "Reparação"), o tom geral é otimista. Embora a história seja trágica, ainda assim a mensagem que emerge do texto é que contar histórias sobre tragédias é a nossa melhor esperança de lidar com elas. Afinal, não há nada que o feto-narrador possa fazer para agir sobre ou influenciar os eventos; o que ele pode fazer é pensar sobre eles, analisá-los, falar sobre eles, brincar com palavras e ideias e conceitos.
É uma leitura que recomendo.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5
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