Já Li #170 - Matéria Escura, de Blake Crouch

 

Cheguei nesse livro, Matéria Escura de Blake Crouch, pela promessa de uma boa história de ficção-científica, sobre universos paralelos e possibilidades, e acabei encontrando uma história de amor. E aqui pensarei a respeito se achei isso bom ou ruim.

Se você gosta do tema de viagens entre dimensões paralelas, recomendo ver este post também:
Sugestão de Leitura | Série Firebird, vol. 1: Mil Pedaços de Você, de Claudia Gray
(Aqui no blog tem os outros livros desta série também, é só procurar na busca pelo nome da autora)

"Matéria Escura", publicado em 2016, tem como protagonista Jason Dessen. Jason está tendo uma noite tranquila com sua família - a esposa Daniela e o filho adolescente Charlie - quando resolve sair por 45 minutos, para dar os parabéns a um amigo que está comemorando uma descoberta científica em um bar próximo. Através da breve conversa com esse amigo no bar, ficamos sabendo que Jason deixou sua própria carreira na ciência para se dedicar à família, e que sua esposa, Daniela, também largou uma carreira nas artes para fazer o mesmo. Esse seu amigo não se conforma com as escolhas de Jason, pois as considera um grande desperdício, e Jason resolve ir embora para não brigar com o amigo.
Voltando para casa, ele é sequestrado e levado para um galpão na periferia da cidade de Chicago, onde mora, e é torturado por um homem que o deixa nu e o joga dentro de uma caixa. Depois disso, Jason acorda completamente sem memória, tanto de quem é quanto desses eventos. E, a partir daí, o enredo começa, e o leitor e Jason vão descobrindo o que está acontecendo juntos.

A ficção-científica do livro existe porque Jason descobre que está em uma outra dimensão, mas as pessoas ao seu redor não sabem que ele é um Jason de outro mundo. Nesta dimensão onde ele acorda após o sequestro, Daniela está tendo um relacionamento com o tal amigo do bar, eles não tem filho juntos, e ela é uma artista de enorme sucesso. Além disso, aos poucos Jason descobre que o Jason daquela dimensão (Jason2) dedicou toda sua vida à ciência, e ele inventou a viagem entre dimensões. Quando Jason percebe onde se meteu, ele tenta fugir, mas ameaçam ele de morte, até que ele é salvo pela psicóloga Amanda, que o enfia de volta na caixa e - plim! - eles viajam entre as dimensões para se salvarem.

A forma como Crouch escreve as dimensões é meio clichê, na minha opinião. No livro, a viagem entre as dimensões é representada por um corredor escuro e infinito, cheio de portas idênticas. Não fiquei impressionada com essa descrição.
E tem outra coisa que me incomodou, que é o fato dos personagens terem que beber um líquido para conseguirem viajar, e quando o efeito do líquido acaba, eles ficam presos onde quer que estejam. Crouch tenta trazer uma explicação científica/neurológica sobre como esse líquido funciona, mas eu sinceramente achei que só piora as coisas. 

Amanda e Jason descobrem que as emoções deles afetam o que acontece do outro lado da porta que escolheram. Então, no início, obviamente desesperados e aflitos, eles só encontram tragédias nas dimensões por onde passam - apocalipses, Daniela morrendo de mortes horrorosas, eles quase morrendo numa nevasca colossal, e assim por diante. Gostei dessa explicação das emoções? Nem um pouco. 
Num dado momento, Amanda resolve seguir a vida dela e se cansa das tentativas intermináveis de Jason de "voltar para casa" - ou seja, voltar para sua própria dimensão - e ela some da história sem mais nem menos, o que me deixou bem frustrada. Ela era uma personagem interessante que poderia ter sido mais desenvolvida, mas acho que Crouch não soube o que fazer com ela.

Eu gostei do livro quando ele era sobre a parte de ficção-científica da coisa, e as reflexões filosóficas que vem destas viagens entre dimensões. Gostei de ver as várias versões possíveis de Jason e de Daniela, e de como as essências dos personagens mantinham-se estáveis entre estes mundos, que é a principal pergunta que nos fazemos sobre dimensões paralelas - o que é tão nosso que não muda nunca?. 
O que eu não gostei é que essa essência primordial de Jason é, basicamente, seu amor por Daniela e por Charlie. Quem acompanha o blog há mais tempo sabe que eu não sou romântica e tenho ranço de romances, e aí, num dado momento, eu percebi que esse livro é, antes de mais nada, uma história de amor. E mesmo quando outros 50 (literalmente) Jasons aparecem, todos eles buscam o amor. E, mais que isso, é um amor doentio, porque eles perseguem a Daniela e fazem da vida dela um inferno, é um troço horroroso.

Por isso, por pensar nesse livro como uma ficção-científica e não como um romance, eu não recomendo a leitura.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 2/5

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