Sugestão de Leitura | Uma Vida Pequena, de Hanya Yanagihara



Essa sugestão de leitura é por sua conta e risco, porque já aviso que "Uma Vida Pequena" de Hanya Yanagihara é o livro mais triste que já li na minha vida. 

Hanya Yanagihara é uma escritora americana, nascida no Havaí, e começou escrevendo relatos de viagem - o que transparece em "Uma Vida Pequena", quando os personagens viajam pelo mundo. Aos poucos, ela foi deixando de escrever para revistas e focou sua carreira como escritora de romances.

"Uma Vida Pequena" foi publicado em 2015, e é uma narrativa cronológica que conta com alguns flashbacks ao longo dos capítulos. As perspectivas de narração mudam ao longo da progressão da história e são, geralmente, em terceira pessoa - com exceção do personagem Harold, que tem três ou quatro trechos ao longo do livro que são narrados em primeira pessoa (o que é bastante confuso).

Durante o início do romance, temos uma perspectiva onisciente de terceira pessoa que narra os pensamentos de Jude, Willem, JB e Malcolm, colegas d faculdade. À medida que a história gradualmente muda seu foco para Jude, sua perspectiva se molda progressivamente inteiramente em torno das interações de cada personagem com Jude e das experiências do próprio Jude. 

O romance se concentra na vida de quatro amigos: Jude St. Francis, um gênio, deficiente físico, com um passado misterioso; Willem Ragnarsson, um homem gentil e bonito que aspira ser ator; Malcolm Irvine, um arquiteto que trabalha em um escritório de prestígio; e Jean-Baptiste "JB" Marion, um pintor perspicaz que quer fazer nome no mundo da arte. 
O enredo segue suas vidas e seus relacionamentos ao longo do tempo, e como eles vão mudando sob a influência do sucesso, riqueza, vício e orgulho. O foco principal do romance é o enigmático advogado Jude. Ele sofre de uma lesão na coluna que o deixa com uma dor insuportável e com uma deficiência fisica, e ninguém sabe o que aconteceu com ele. Aos poucos, os amigos também percebem que Jude tem sérios problemas para relacionar-se e para funcionar em sociedade, culminando com uma séria tentativa de suicídio de Jude.

E aí que começa o livro mais triste que você lerá na sua vida. 
No decorrer da história, Malcolm mal aparece, JB tem um momento maior de foco (quando luta para vencer o vício em drogas), mas os protagonistas são Willem e Jude. O personagem de Willem basicamente existe para dar corpo e desenvolvimento à Jude, que é a real estrela da obra. Mas gente, nunca vi um escritor maltratar tanto um personagem como Hanya faz com Jude. 

Aos poucos, descobrimos que o passado de Jude envolve abandono dos pais, abuso sexual por parte dos monges que o criaram, depois um dos monges o sequestra e o prostitui dos onze aos quinze anos de idade, aí o monge é preso e ele cai nas mãos de um psiquiatra que o atropela (de propósito), que é quando Jude adquire sua deficiência física. 
Não acaba aqui. Depois, já adulto, quando ele finalmente decide voltar a se relacionar, ele escolhe um moço que o espanca quase até a morte, depois ele tenta cometer suicídio, sua doença só piora e - para não dar spoilers, só digo que tudo isso ainda não é nem metade do que acontece com ele.
É uma história exaustiva. Eu fiquei cansada com tantas desgraças e tragédias. Hanya não alivia, não dá tempo ao leitor de respirar, não se preocupa se você tem pena de Jude ou não. Ela decidiu que faria o leitor chorar e se angustiar, a todo custo.

E, mesmo assim, esse livro veio parar na sessão Sugestão de Leitura, porque a forma como Hanya escreve é sensacional. Cada frase dela parece lapidada, uma escolha de palavras certeira, e uma capacidade de desvendar as profundezas do ser humano que eu vi poucas vezes na literatura. O livro é tão devastador que ele fica em você muito depois de finalizada a leitura. 
Mas acho que o que mais me impressionou foi a capacidade de Hanya de escrever meus maiores medos em uma história. E também de acessar segredos e partes podres, que todos nós temos. E é daí que recomendo essa leitura - só não me odeie depois.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5

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