Já Li #130 - Me Encontre, de André Aciman

 


Uma das histórias de amor mais bonitas que já li foi escrita por André Aciman. Por isso, corri empolgada para ler a continuação do romance entre Oliver e Elio, quinze anos depois dos eventos de "Me Chame Pelo Seu Nome".  Em "Me Encontre", imaginei reviver todas as sensações do volume anterior (e do filme), mas será que valeu a pena?
Nota: a foto linda que ilustra a capa deste post foi tirada do Poltrona Nerd.

Vou partir do princípio que você já está familiarizado(a) com o romance de Aciman. Caso não esteja, sugiro que você comece por este post: O livro ou filme? | Me Chame Pelo Seu Nome, de André Aciman

Publicado em 2019, "Me Encontre" é dividido em três partes, todas elas narradas em primeira pessoa, a partir de personagens distintos.
Na primeira (e maior) parte, o protagonista é Samuel, pai de Elio. Samuel foi um personagem muito querido no primeiro livro (e no filme), sobretudo pela forma carinhosa e respeitosa que lidou com o relacionamento entre Elio e Oliver, dando a entender que, ele mesmo, ainda não tinha encontrado seu amor verdadeiro.
Samuel viaja a Roma para passar um fim-de-semana com Elio, que trabalha como pianista na cidade. No trem, partindo de Florença, Samuel começa a conversar com uma garota chamada Miranda, por quem se apaixona instantaneamente, apesar da diferença de idade entre eles (uns vinte anos, pelo menos).
Na segunda parte, reencontramos Elio, agora morando em Paris e onde conhece um homem também muito mais velho com quem tem um relacionamento intenso, porém curto. Este relacionamento faz Elio perceber que não deixou de pensar em Oliver um dia sequer desde o verão que passaram juntos nos anos 80.
E, na terceira parte (e a menor de todas), vemos que Oliver, casado e com duas filhas, está de mudança dos Estados Unidos onde seu trabalho como professor universitário chegou ao fim. Em sua festa de despedida, ele tenta arranjar um ménage à trois com dois conhecidos, mas desiste e resolve atravessar o oceano para reencontrar Elio.

Essa foi uma das leituras mais decepcionantes da minha vida. Sério.
O primeiro ponto que me incomodou foi a longa e desnecessária história de Samuel. Duvido que alguma pessoa tenha chegado a este livro querendo saber sobre ele. Ninguém se importa com Samuel, queremos ver Elio e Oliver juntos. Mas, em vez disso, André Aciman, em quase metade do livro, nos oferece um romance sem pé nem cabeça entre ele e Miranda. Se este relacionamento fosse interessante, talvez até valesse a pena, mas é ridículo - e não por causa da diferença de idade. Eles se apaixonam em questão de minutos (literalmente) e, dali dias, já estão falando em casamento e filhos. As cenas de sexo entre eles são sofríveis, constrangedoras e eu detestei cada segundo da leitura desta parte.

Pois bem, me mantive lendo esperando por Elio. Não vou negar, tenho um crush enorme por ele (e sim, por causa do Timothée Chalamet). Qual não foi minha decepção quando percebi que Aciman está replicando exatamente o mesmo modelo da primeira parte com Elio. Não sei se foi de propósito, mas Elio também se apaixona instantaneamente por um homem muito mais velho do que ele, e daí em diante os diálogos parecem uma cópia da parte anterior. Baboseiras como "sou muito velho/jovem para você", "achei que nunca mais me sentiria vivo", "você vai se cansar de mim em breve" se repetem. 
Outra coisa que me incomodou muito é que a personalidade de Elio está completamente apagada. Ele não é mais o adolescente inseguro e introspectivo de "MCPSN", mas Aciman não desenvolveu quem Elio se tornou no futuro. É como se o personagem tivesse ficado parado no tempo, como uma caricatura de si mesmo, e eu odiei isso. Não encontrei o brilho, a profundidade e a intensidade do Elio que eu tanto gostei.

E, como se as coisas não pudessem ficar piores, elas ficaram. Se, por um lado, Elio não foi desenvolvido, Oliver foi mal direcionado. Primeiro porque Aciman não lhe deu tempo suficiente na história para que nos re-apegássemos a ele. E, depois, porque Oliver surge como um cara banal, que não dá a menor atenção para sua esposa em uma festa de despedida organizada por ela, e prefere tentar organizar um ménage entre sua colega de yoga e um cara qualquer. 

À essa altura do livro, eu já tinha desistido do reencontro dos dois. Nada mais fazia sentido e Aciman tinha destruído a magia do romance. E eu sei que vai soar estranho mas, quando eles finalmente se vêem (Oliver larga a esposa e filhas e pega um avião para Florença), a cena dura apenas doze páginas - isso mesmo, só doze - e é super convencional, um almoço em família na casa onde eles passaram o verão. Não tem os diálogos intensos e cheios de mensagens subliminares de antes, não há nenhuma cena de sexo (sim, eu queria pelo menos uma!) e não senti nenhuma conexão entre os dois personagens. E antes que alguém comente, essa falta de emoção não foi de propósito, foi pura preguiça de Aciman.

Que baita decepção. Cheguei a ficar triste, até.
Não perca seu tempo lendo esse livro, não. Se você gosta de Elio e Oliver, fique com as lembranças do filme e de MCPSN.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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