A resenha de hoje é carregada de mitologia grega. Em "Circe", Madeline Miller resolve dar voz a uma personagem esquecida da mitologia, uma bruxa que ajuda Odisseu e Penélope.
Madeline Miller é professora de latim e grego. Começou sua carreira paralela de escritora em 2011, depois de passar dez anos trabalhando no manuscrito que reconta a história de Aquiles na Guerra de Tróia.
"Circe", publicado em 2018, é a adaptação de Miller para o mito de Circe, a deusa-ninfa dos feitiços e da bruxaria. Filha do Deus Sol Helios, Circe passa toda sua imortalidade sendo renegada, abandonada e ofendida pelos (inúmeros) membros de sua família, até que é banida para uma ilha, fadada a viver em eterna solidão. Porém, é exatamente neste momento que Circe se descobre e se transforma numa das mais poderosas bruxas da mitologia grega.
Na história original, Hermes a convence a permitir que Odisseu (também chamado de Ulisses) passe por sua ilha sem sofrer nenhum mal. Circe se apaixona por Odisseu e eles tem três filhos, enquanto Penélope, esposa de Odisseu, espera em casa que ele retorne de sua viagem de quase vinte anos de duração.
No livro, Miller se mantém fiel aos principais elementos da mitologia em volta de Circe, Odisseu e Penélope. Para mim, a parte mais interessante de seu trabalho é o profundo desenvolvimento da protagonista. Miller começa nos contando sobre o nascimento, infância e adolescência de Circe, trazendo à tona uma família abusiva e tóxica que moldou a personalidade de Circe em muitos aspectos. Hélios, as ninfas, seu primeiro contato com um mortal, todos os deuses e deusas ao redor de Circe são retratados com muita vivacidade.
Quando Circe ousa enfrentar Hélios, ela é enviada para uma ilha como parte de uma barganha de Hélios com Zeus, ambos retratados como figuras masculinas ridiculamente vaidosas e estúpidas, o que gostei bastante. Na ilha, Circe tem casos amorosos com alguns deuses e mortais, sem nenhum vínculo mais romântico, até que conhece Odisseu. Ele, descrito como uma figura charmosa e atraente, me fez entende porque Penélope o esperou por vinte anos e porque ela perdoou suas traições.
Com Odisseu, Circe aprende a ser mais vulnerável e mais aberta ao mundo, o que achei um momento muito bonito da narrativa, e que Miller escreveu de um jeito excelente, fugindo de clichês e não sendo "melosa" demais.
Também gostei muito quando Circe aprende a se defender dos marinheiros que aportavam em sua ilha apenas para violentá-la e roubá-la. Ela, fingindo hospitalidade, lher servia vinho com uma poção mágica e os transformava em porcos. Este momento do enredo mostra Circe reencontrando sua força e tentando escapar dos estereótipos que sua família lhe impôs.
Quando Circe ousa enfrentar Hélios, ela é enviada para uma ilha como parte de uma barganha de Hélios com Zeus, ambos retratados como figuras masculinas ridiculamente vaidosas e estúpidas, o que gostei bastante. Na ilha, Circe tem casos amorosos com alguns deuses e mortais, sem nenhum vínculo mais romântico, até que conhece Odisseu. Ele, descrito como uma figura charmosa e atraente, me fez entende porque Penélope o esperou por vinte anos e porque ela perdoou suas traições.
Com Odisseu, Circe aprende a ser mais vulnerável e mais aberta ao mundo, o que achei um momento muito bonito da narrativa, e que Miller escreveu de um jeito excelente, fugindo de clichês e não sendo "melosa" demais.
Também gostei muito quando Circe aprende a se defender dos marinheiros que aportavam em sua ilha apenas para violentá-la e roubá-la. Ela, fingindo hospitalidade, lher servia vinho com uma poção mágica e os transformava em porcos. Este momento do enredo mostra Circe reencontrando sua força e tentando escapar dos estereótipos que sua família lhe impôs.
Os elementos fantásticos também foram muito bem posicionados ao longo do livro. Por exemplo, quando Miller descreve as aparições de Hélios, o Sol, há sempre a solenidade que é devida a um Deus como ele. O mesmo vale para as criaturas míticas e os demais deuses apresentados ao longo do enredo.
Percebi duas modificações que Miller fez em relação à história original de Circe. (Talvez existam outras, mas estas foram as que notei).
Uma delas é que Circe, na mitologia, tem três filhos com Odisseu e, no livro, ela tem somente um, Telégono.
Outra diferença é que ela se apaixona pelo filho de Odisseu com Penélope (Telêmaco) e Penélope se apaixona por Telégono. No livro de Miller, essas paixões ficam implícitas, mas não é possível dizer com certeza de algo aconteceu ou não.
Também gostei muito do final, quando Circe finalmente confronta a imortalidade de ser uma deusa. Achei um toque muito poético de Miller e, também, um desfecho inesperado. Achei condizente com a profundidade da personalidade de Circe.
Felizmente, não tive a mesma decepção de "A Odisséia de Penélope" de Margaret Atwood. Atwood escreveu a mesma história, mas do ponto-de-vista de Penélope. No entanto, seu livro careceu de emoção e ação, e também me soou superficial e apressado. Diferente de "Circe", onde me conectei instantaneamente à personagem desenvolvida por Miller, e que trouxe uma narração completa e detalhada que prendeu minha atenção do começo ao fim. Assim, o livro de Miller é definitivamente uma leitura que eu recomendo.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio:
Avaliação do Perplexidade e Silêncio:
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