Já Li #111 - Enraizados, de Naomi Novik


A resenha de hoje é um livro de fantasia que estava ansiosa para ler faz tempo. A promessa de "Enraizados", escrito por Naomi Novik, é a de entregar um conto-de-fadas diferente e assustador. Mais de quatrocentas páginas depois, aqui vai minha opinião sobre a jornada de Agnieska.

Naomi Novik, filha de mãe polonesa e pai lituano, nasceu já nos Estados Unidos e estudou Ciências da Computação antes de se tornar escritora. É fácil perceber diversas referências às suas origens em "Enraizados" como, por exemplo, a bruxa Baba Yaga, uma figura folclórica da região que habita as profundezas das florestas; a tradicional música Sto Lat, usada na estória como a melodia de um feitiço; e o nome da protagonista, que é o mesmo nome de um dos contos-de-fada mais conhecidos da Polônia entitulado "Agnieska Piece of Sky" escrito por Natalia Gałczynska.

No reino de Polnya, a cada dez anos, uma menina é raptada pelo mago do Rei, apelidado de Dragão. Enclausurados numa torre antiga, ninguém sabe o que acontece entre o Dragão e a sua escolhida mas todos sabem que, ao fim dos dez anos, as garotas tornaram-se mulheres e decidem viajar pelo mundo, insatisfeitas com a vida provinciana na vila onde moravam.
Na vila de Dvernik, uma das nove que compõem o reino, todos acreditam que o Dragão vai escolher Kasia, a menina mais bonita e mais inteligente da região. Ao longo de toda a sua vida, Kasia foi treinada e educada para isso, e todos ficam muito surpresos quando Agnieska, uma menina "normal e sem atrativos" é escolhida em seu lugar.
Na torre, Agnieska, aos poucos, aprende sobre magia, mas seu jeito desatento e bagunçado irrita o Dragão, que não cansa de chamá-la de idiota e inútil.

Um dia, Agnieszka nota um pedido de assistência vindo de sua aldeia. Desafiando o Dragão, ela escapa da torre e volta para Dvernik, onde descobre que os lobos da floresta infectaram o gado e alguns homens. Agnieszka usa magia para ajudar a destruir o gado. O Dragão chega e consegue salvá-la, mas não antes de ser ferido. Agnieszka consegue salvar a vida do Dragão depois que ela intui um feitiço de um caderno que o Dragão anteriormente acreditava ser inútil. Reconhecendo que os poderes de Agnieszka diferem dos seus, o Dragão relutantemente permite que Agnieszka ensine a si mesma uma magia mais intuitiva. 
Depois de descobrir seu próprio poder, Agnieska é alertada de que Kasia foi capturada pelos andarilhos, criaturas malignas da Floresta, e sua amiga foi presa à uma árvore-coração, onde terá sua alma extraída. Agnieska corre para salvá-la e, com a ajuda do Dragão, limpa Kasia de toda a corrupção da Floresta.
Até esta parte do livro, eu estava gostando muito do enredo. O contraste entre o método racional do Dragão e a magia espontânea de Agnieska estava sendo muito interessante de ler, pois os estilos complementares de ambos trouxe cenas bem desenvolvidas. No entanto, a partir do momento que Kasia é salva da corrupção, Novik começa a cometer uma série de erros.

1) Agnieska aprende magia rápido demais, e tudo que ela tenta, funciona. Eu não consegui me conectar em nada com ela. Novik deveria ter percebido que estava escrevendo uma Mary Sue, ou seja, uma personagem que é especial apenas "porque é", sem nenhum tipo de desenvolvimento, explicação ou evolução que construa/justifique seu papel na narrativa. 

2) Várias subplots vão surgindo ao longo da trama, todas elas meio mal acabadas (ou mal começadas). Há a menção aos Magnatas, que nunca se estabelecem na narrativa e não deveriam nem ter sido mencionados; há os outros magos do reino, que são mal aproveitados e parecem todos mais ou menos a mesma pessoa; há o príncipe Marek e a saga de resgate à sua mãe, uma plot interessante que ficou apagada em meio aos demais elementos; há o arco da própria Agnieska; há Kasia, que é quase um enfeite do meio para o final do livro, sendo que no começo tinha destaque; há o pai desaparecido de Agnieska que é citado em algum momento do livro para depois ser completamente esquecido. E essas são as tramas que eu consegui lembrar, porque existem outras no meio de toda essa bagunça.

3) O estilo de escrita de Novik é cansativo. Definitivamente ela se esqueceu da regrinha básica de escrita "Show, don't tell". As descrições são intermináveis, milhares de verbos no gerúndio, cenas de ação sem suspense e diálogos pobres. Me vi entediada em vários momentos da leitura.

4) Mas a cereja (podre) do bolo é o relacionamento entre Agnieska e Dragão. Ele é um completo babaca, tremendamente abusivo e não há nenhuma - nenhuma! - química entre os dois. De repente, nos deparamos com uma cena de sexo que destoa completamente do tom do restante do livro, entre duas pessoas que não tem absolutamente nenhuma conexão e, pior, depois de todos os abusos que o Dragão infligiu à protagonista. Ridículo, para dizer o mínimo.

Para ninguém dizer que fui injusta, ressalto alguns pontos positivos da estória.
A Floresta criada por Novik é assustadora e fascinante ao mesmo tempo. Por mim, o livro todo deveria ter acontecido dentro da Floresta, com foco nas árvores-coração e nas árvores-essência, dois conceitos mágicos que gostei muito. Quando Agnieska fica presa numa árvore e vê "o outro lado" foi ótimo, e este deveria ter sido o foco de todo o livro. Uma coisa meio "Alice no País das Maravilhas" mas mais terrível e podre. 
As criaturas da Floresta também são intrigantes. Senti medo, sobretudo, do louva-deus, e gostaria de entender melhor quem eram os andarilhos.

Mas, de forma geral, não foi uma leitura que me agradou e, por isso, não recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

0 Comments