Sugestão de Leitura | Cadê Você, Bernadette?, de Maria Semple


Acho que o melhor jeito de expressar o quanto gostei deste livro é dizer que eu o devorei em três dias. Com uma protagonista excêntrica e apaixonante, mal pude esperar para descobrir onde Bernadette estava.

Maria Semple é mais conhecida por seus trabalhos como roteirista de seriados, entre eles Beverly Hills 90210, Mad About You e Saturday Night Live. Talvez o público mais jovem nunca tenha assistido a Mad About You mas eu, como boa trintona que sou, adorava a série, que passava na tevê nos anos 90. Por isso, fiquei muito animada de ler seus livros.

Publicado em 2012, "Cadê Você, Bernadette?" é um romance sobre uma arquiteta que tem agorafobia chamada Bernadette. Para quem não sabe, agorafobia é um transtorno de ansiedade em que alguém sente que as pessoas e os lugares lhe oferecem risco de vida e, desta forma, o(a) agorafóbico(a) evita sair de casa, assim como também evita relacionamentos interpessoais.
Assim, Bernadette contrata uma assistente pessoal virtual, Manjula, que mora na Índia e auxilia Bernadette com todas as atividades do dia-a-dia: marcar consultas médicas para a família, fazer compras, resolver problemas com o banco, providenciar remédios na farmácia, e assim por diante.
Sua filha, Bee, atinge as melhores notas na escola e diz que, como recompensa, gostaria de viajar com os pais para a Antártida. Bernadette não gosta muito da idéia desta viagem, mas coloca Manjula para trabalhar, pedindo para a assistente organizar as pendências da viagem.
Bernadette é casada com Elgin, um gênio milionário da tecnologia, um Steven Jobs ou um Bill Gates do mundo corporativo, e ele coordena o projeto mais revolucionário da Microsoft. 

O primeiro ponto forte deste livro é a maneira como Maria Semple construiu a narrativa, usando de uma estrutura bastante criativa. Nós, leitores, sabemos da história através de cartas, mensagens, bilhetes, faxes, e-mails e relatórios. Não há apenas um narrador, e sim, vários, cada um contando a história através de sua perspectiva. Achei muito legal ter que "juntar os pedaços" das informações e, a partir deste quebra-cabeça, entender o que está acontecendo. Esta estrutura só é interrompida com eventuais narrações de Bee.

Outro aspecto muito positivo deste livro é a própria Bernadette. Ela é uma personagem bastante complexa e as suas camadas são mostradas aos poucos na narrativa. Aos poucos descobrimos que Bernadette foi uma arquiteta muito conceituada e vanguardista mas que, aparentemente, sofreu de depressão pós-parto e foi, aos poucos, se abandonando. Ao longo do livro, ela tenta resgatar sua identidade, o que só acontece quando ela desaparece.
Também gostei muito de Elgin. Ele é um homem/marido cheio de falhas mas, ainda assim, conseguimos enxergar o amor que ele sente pela família por trás de seus erros. Achei ele uma personagem muito verdadeira.

Além disso, Maria Semple, a príncipio, parecia fazer uma crítica à elite de Seatlle, representada de forma sarcástica pelas outras mães da escola onde Bee estuda. Estas mães, apelidadas por Bernadette de moscas, a criticam pelo seu jeito excêntrico e antissocial. As tais moscas representam uma burguesia preconceituosa e superficial, pelo menos no início da leitura. Aos poucos, assim como Bernadette apresenta suas camadas mais profundas, as moscas também o fazem, e percebemos que, na realidade, elas eram tão humanas e frágeis quanto a protagonista, desconstruindo o estereótipo.

Para mim, foi uma leitura deliciosa. Fiquei muito entretetida na trama e me vinculei rapidamente a todos os personagens. É uma leitura que recomendo!

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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