Sugestão de Leitura | Pequenos Incêndios por Toda a Parte, de Celeste Ng


"Pequenos Incêndios por Toda a Parte" foi uma grata surpresa de Celeste Ng. O romance mistura dramas familiares, conflitos e reflexões sobre a maternidade e desafios da adolescência, de um jeito sensível e gostoso de ler, como explico na resenha de hoje.

Celeste Ng é a primeira geração de sua família a nascer nos Estados Unidos, pois seus pais imigraram de Hong Kong nos anos 60. Seu pai era físico e sua mãe, química, mas desde a escola Celeste se interessou por jornalismo e literatura. 

A estória de "Pequenos Incêndios por Toda a Parte" se passa em Shaker Heights, uma cidade planejada que realmente existe em Ohio. Celeste morou nesta cidade com a família a partir dos dez anos de idade. Shaker Heights é quase uma personagem na trama e por isso vale uma menção honrosa. Só é possível compreender o contexto em que as personagens estão inseridas quando entende-se como funciona Shaker Heights. A cidade foi construída para ser perfeita e as famílias  passam por um processo de aprovação da comunidade para poderem se mudar para lá. Até a decoração das casas precisa seguir um rígido manual determinado pela comunidade.

O livro começa mostrando que a casa da família Richardson pegou fogo em um incêndio, aparentemente, criminoso. Vários pequenos focos de incêndio foram espalhados pelos quartos - o que dá nome ao livro - e a família suspeita da caçula Izzy. Izzy é o contrário do que as famílias de Shaker Heights consideram como adequado: ela demonstra emoções, entra em conflitos na escola, defende os injustiçados e gosta de ficar sozinha. Assim, a culpa naturalmente recai nela, principalmente depois que a família percebe que ela fugiu de casa.
Mas o nome do livro também pode ser uma analogia aos conflitos familiares que vão pipocando ao longo do enredo, mostrando que a família Richardson está longe da perfeição que a comunidade lhe atribui.

 O livro, narrado em terceira pessoa, tem diversos flashbacks, o que pode incomodar o leitor que goste de narrativas lineares. Os flashbacks simplesmente aparecem, sem nenhuma introdução ou separação feita na diagramação, por isso, é preciso ficar atento. Desta forma, logo após mostrar a cena do incêndio, a estória volta um ano atrás, mostrando como tudo começou.

A matriarca da família Richardson, Elena, alugou um imóvel para Mia Warren e sua filha adolescente Pearl. Mia é fotógrafa e nunca fica mais de seis meses no mesmo lugar, num estilo de vida itinerante e boêmio completamente diferente dos Richardson. Elena, no entanto, se afeiçoa a Mia e ao aspecto limpo e organizado de suas novas locatárias. As Warren não possuem pertences e logo se estabelecem em um colchão encontrado na rua. Com pena da vida difícil que as Warren leva, Elena contrata Mia como sua faxineira/cozinheira.

Os Richardson tem quatro filhos: Trip, Lexie, Izzy e Moody. Moody rapidamente se apaixona por Pearl, uma menina tímida e distante muito diferente das garotas autoconfiantes e ambiciosas de Shaker Heights. É ele quem introduz Pearl ao restante dos irmãos, que a aceitam de braços abertos. Pearl se apaixona por Trip, Lexie engravida do namorado Brian e Izzy se apega Mia como se ela fosse sua própria mãe. Mas tudo isso é só a ponta do iceberg.

A trama ganha uma plot paralela com Bebe, uma chinesa amiga de Mia. A família McCollough, melhores amigos da família Richardson, estão no processo de adoção de uma garotinha chinesa rebatizada de Mirabelle. Mia percebe que Mirabelle é, na realidade, a filha abandonada por Bebe, e a disputa pela criança logo ganha o foco da estória. Em paralelo, Elena começa a chafurdar o passado de Mia, querendo descobrir quem ela é realmente e o que vem escondendo de su família.

Conforme fui lendo o livro, ele me pareceu com potencial para ser transformado numa série ao estilo de "Big Little Lies" (e, aparentemente, o livro será mesmo adaptado para uma série). Há diversos elementos de suspense, assim como muito drama, intriga, desentendimentos e falhas de comunicação. Além disso, aos poucos, as personagens mostram suas verdadeiras personalidades e ninguém é o que parece ser. 

Foi uma leitura que devorei em três dias e que me deixou querendo mais. Por isso, sem dúvida, é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 



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