A resenha de hoje é dedicada a uma das obras mais marcantes da ficção-científica, "Seveneves" de Neal Stephenson. Fazia bastante tempo que eu estava na expectativa de ler esse livro, será que a espera valeu a pena?
Neal Stephenson, além de escritor, trabalha em uma empresa desenvolvendo naves espaciais e participa de uma start-up que tem um projeto de criar "olhos virtuais" para cegos. Sim, ele provavelmente tem um QI maior do que o meu e o seu juntos, mas isso significa que ele entrega uma boa narrativa? Ainda tenho minhas dúvidas.
A exemplo de "O Problema dos Três Corpos" e "Floresta Sombria" de Cixin Liu, "Seveneves" é categorizado como hard sci-fi, ou seja, são estórias do gênero que se preocupam com a veracidade de todos os detalhes científicos que aparecem na trama.
Isso atrelado ao trabalho de Neal com naves espaciais já antecipa o que o leitor deve esperar deste livro: longas - loooooooongas - descrições de cada componente, peça, mecanismo e sistema de cada uma das naves que fazem parte do enredo, e elas são muitas. E aqui é a minha primeira crítica ao livro.
No caso das obras de Cixin Liu, embora ele colocasse até fórmulas de física no meio da narrativa, esta tinha fluidez e sustentava um certo mistério, me deixando intrigada pelo que viria a seguir. Já em "Seveneves", as descrições das naves eram chatíssimas, apareciam fora de contexto e interrompiam o ritmo da leitura. Num livro extenso como este, foi algo muito cansativo e tedioso.
A premissa do livro é que um Agente desconhecido do Universo fragmentou a Lua em sete pedaços, evento este que foi assistido por toda a Humanidade. Logo ficou claro que este acidente traria diversas consequências para a Terra, culminando em uma chuva de meteoros que trouxe explosões em cadeia, incendiando toda a raça humana. Os seres humanos sabem exatamente quantos dias terão de vida e, enquanto tentam viver suas vidas da melhor forma possível, os governos se unem para criar uma colônia espacial que tem a missão de preservar a raça humana depois que a Terra explodir.
Minha segunda crítica à estória é como esse enredo ótimo foi mal aproveitado. Neal se focou quase inteiramente na tecnologia desta missão, mas quase nada nas emoções e pensamentos de suas personagens diante desse imenso cataclisma. Havia tanto potencial ali, mas Neal deliberadamente resolveu dar apenas algumas pinceladas superficiais.
O livro é dividido em três partes. A primeira narra os acontecimentos que mencionei no parágrafo acima. Já a segunda parte é reservada às dinâmicas de relacionamento entre os ocupantes da missão espacial, que assistiram do espaço sideral toda a Humanidade morrer queimada. Novamente, Neal ignora as emoções das personagens diante disso e segue adiante com sua narração quase puramente técnica sobre as dificuldades de fazer uma missão espacial com 1200 pessoas funcionar.
O final da segunda parte me deu esperanças de que o livro se tornaria uma "sugestão de leitura". Depois de episódios de canibalismo, a missão é reduzida a apenas sete mulheres, e elas tornam-se as Sete Evas - ou Seven Eves, no inglês, que dão nome ao livro. Elas encontram uma forma de se reproduzir (que eu não entendi e, portanto, não vou nem tentar explicar) e a partir delas surge toda a nova civilização da raça humana. Elas debatem se devem ou não melhorar geneticamente seus filhos, quais atributos de si mesmas querem manter ou deletar do DNA, o que é aceitável e o que não é numa sociedade. É uma discussão tão rica e tão interessante que eu retomei na hora minha atenção. Mas, adivinhem o que aconteceu? Neal, mais uma vez, não explorou nada disso como poderia e rapidamente cortou a narrativa para algum aspecto tecnológico e maçante.
Assim, neste ponto da leitura, estava determinada a terminar o livro por pura teimosia, mas já estava decepcionada. Na terceira parte, a linha do tempo vai cinco mil anos para o futuro e mostra como a Humanidade ficou depois das Sete Evas. Cada uma das Evas gerou um planeta com leis e traços de personalidade próprios.
Quase trinta personagens aparecem ao longo da narrativa, mas não me afeiçoei a nenhum. Neal não permite isso. As personagens se assemelham a coadjuvantes, quando a protagonista é a tecnologia. Isso pode agradar alguns fãs de sci-fi, mas a mim não convenceu. Por isso, se alguém morria ou continuava vivo, não fazia a menor diferença e o livro, de forma geral, não me despertou nenhuma emoção além de tédio.
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