Sugestão de Leitura | Floresta Sombria, de Cixin Liu


A Sugestão de Leitura de hoje é uma obra de ficção-científica de altíssimo nível. "Floresta Sombria", do chinês Cixin Liu, merece sua atenção.

"Floresta Sombria" é o segundo volume da trilogia "Remembrance of Earth's Past". Caso você queira ler sobre o primeiro livro, "O Problema dos Três Corpos", acesse este post. Além disso, a trilogia se enquadra no gênero hard sci-fi, ou seja, é uma obra com foco na veracidade das informações científicas e suas hipóteses, tendo uma maior consistência e um maior embasamento do que as obras soft sci-fi. Se você se interessa pelo assunto, recomendo navegar por este link: Os 13+ Tipos de Ficção-Científica.

Publicado em 2008, "Floresta Sombria" prossegue com a premissa básica de que toda civilização está predestinada a um ciclo de começo-meio-fim e, desta forma, a Humanidade se aproxima de seu inevitável fim. No prólogo do livro, somos apresentados a Luo Ji, que virá a ser o maior protagonista da estória. Ele conhece Ye Wenjie, a protagonista do livro anterior, que lhe dá dicas de como realizar um estudo adequado das civilizações, sejam elas terrestres ou extraterrestres, pois todas as civilizações do Universo estão sujeitas às mesmas leis - e esta é a segunda premissa da obra. 

No final do primeiro volume da trilogia, o leitor se depara com o conceito dos sófons. Os sófons são pequenas partículas de Inteligência Artifical alienígena que vigiam tudo o que a Humanidade faz e, por isso, descobrem todas as evoluções tecnológicas e todos os planos para impedir que Trissolaris invada a Terra. Os sófons também permitem comunicação entre os trissolarianos e alguns seres humanos, mas ambos não conseguem entender as nuances e os comportamentos uns dos outros, o que resulta em frustração e falta de entendimento. Assim, a data da invasão da Terra se aproxima e ninguém sabe como impedir o fim da Humanidade.

Diante deste obstáculos, criam-se as Barreiras. As Barreiras são quatro pessoas escolhidas para bolarem um plano de salvação da Humanidade. Porém, elas não podem compartilhar seus objetivos ou estratégias, pois os sófons ficariam sabendo. As Barreiras precisam dissimular, mentir, enganar e fingir para desviar a atenção dos trissolarianos e, ainda assim, conseguirem executar seus planos. Luo Ji é eleito uma Barreira e sua falta de capacitação é visível, afinal, as outras três Barreiras são militares, engenheiros e neurocientistas, enquanto Luo Ji é uma pessoa comum. Como ponto negativo, foi um pouco óbvio que todas as Barreiras iriam falhar, deixando Luo Ji como "última esperança da Terra". 

Depois, um longo período de tempo passa - 200 anos - e vemos uma especulação de como seria a Terra no futuro. Esta foi a parte mais legal do livro, na minha opinião, pois Cixin Liu explora quais teriam sido as guerras destes 200 anos, quais mudanças tecnológicas teríamos (ou não), como a política e a geografia da Terra estaria reorganizada, entre outros aspectos. Para mim, o livro podia ter ido direto para esta parte, pulando a plot das Barreiras. 

Senti falta de representatividade neste volume. No primeiro livro da trilogia, tínhamos a astrofísica Ye Wenjie como uma ótima personagem feminina. Aqui, só temos personagens masculinos como relevantes para a trama e são todos, mais ou menos, iguais. Isso é uma coisa que não canso de me desanimar em obras de ficção-científica, ainda mais hoje em dia. Temos o ótimo exemplo de "Aniquilação" de Jeff VanderMeer que, espero, comece a mudar este panorama chato, monótono e meio machista. 

Um dos pontos importantes que o livro traz à tona é a questão da dificuldade de comunicação, seja entre pessoas num relacionamento, entre povos de uma mesma civilização ou entre civilizações completamente distintas. De forma geral, Cixin Liu mostra que grande parte dos desafios enfrentados pela Humanidade são derivadas destas dificuldades de comunicação que, uma vez solucionadas, permitem que os conflitos sejam resolvidos de forma favorável para todos. 

Uma das coisas que gosto na escrita de Cixin Liu é que ele inclui emoções e sentimentos na ficção-científica, que costuma ser um gênero sem lirismos ou, como costumo dizer, seco e objetivo. Cixin Liu traz uma subplot de amor bonita (embora um tantinho misógina, mas vou deixar passar esta problematização) e, mesmo a Humanidade estando prestes a ser exterminada, terminamos o livro com uma sensação de esperança e de paz. Embora o enredo tenha ficado um pouco bagunçado por causa das Barreiras, de forma geral, é uma ótima ponte para o final da trilogia, que estou muito ansiosa para ler.

Bônus 1: Há duas referências diretas a obras de ficção-científica neste livro e, ambas, foram resenhadas aqui no Perplexidade e Silêncio. São elas:

Bônus 2: Encontrei esta ótima resenha sobre o livro (em inglês), em duas versões (com e sem spoilers). Vale a leitura.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

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