Virgínia Woolf era inglesa, nascida em 1882. Ela suicidou-se em 1941, depois de anos lutando contra profundas crises de angústia. Ela foi afastada, pelo seu médico, da cidade de Londres, e ele recomendou que ela fosse morar no interior da Inglaterra. Lá, o tédio e isolamento da cidade agravaram a situação de Virgínia, e então ela entrou em um rio com pedras nos bolsos, provocando seu próprio afogamento. Antes disso, deixou um bilhete ao seu marido:
"Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso das suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer a você é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos. V."
"Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso das suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer a você é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos. V."
Ela, filha de escritor e casada com um editor, começou cedo a transformar seus sentimentos em palavras. Antes de morrer, deixou uma obra extensa e coerente, escrevendo com muita sensibilidade, existencialismo e poesia. Suas estórias são marcadas por cenas do cotidiano das mulheres de sua época, mas o que difere Virgínia de outros escritores de sua geração (e da atual também) é o foco aos sentimentos e pensamentos sutis e crescentes das personagens, que mascaram angústias e crises densas e difíceis sob um verniz de civilidade e normalidade.
Além disso, Virgínia Woolf era a escritora preferida de Clarice Lispector, e a semelhança na escrita de ambas é evidente.
Por que escolhi este livro?
Mrs. Dalloway é sua obra mais popular, inspirando, inclusive, um filme belíssimo chamado "As Horas". No filme, Nicole Kidman interpreta Virginia Woolf de um jeito brilhante e apurado - a cena do suicídio é a mais linda que já vi.
Escrito em 1925, Mrs. Dalloway poderia ser uma personagem completamente atual. Clarissa Dalloway é dona-de-casa, mãe e esposa, aparentando ser uma mulher satisfeita com sua vida. Ao longo do livro, em situações do dia-a-dia (um diálogo com o filho, um jantar com o marido, uma conversa com a vizinha, a ida a uma loja comprar saias), Clarissa narra seus pensamentos e sentimentos, demonstrando uma angústia crescente e secreta que, eventualmente, acaba tornando-se exposta aos outros, pois acaba se tornando muito intensa para ser controlada. Para lidar com sua angústia, Clarissa cria uma persona, a anfitriã, e promove festas e encontros em sua casa para preencher o vazio que sente.
2 Comments
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirDemorou um pouquinho, mas finalmente consegui ler seu texto sobre Mrs. Dalloway. Uma experiência que fica na gente, né? Sei que é um livro que preciso reler no futuro porque há tantas camadas a explorar. Também gosto muito do filme "As Horas" e fui conferir a obra inspirada no livro da Virginia e gostei bastante também. Parabéns pelo texto e pelo blog. Vou voltar amiúde.
ResponderExcluir