Se você é tímido (a), gosta de silêncio e de ficar sozinho (a) e não entende a necessidade humana de interação social, este post é para você. Sou bastante introvertida e, inclusive, já escrevi um artigo sobre isso, que pode ser lido aqui. A idéia deste post surgiu por causa do artigo que a Nina Spim me mandou recentemente, que nos fez pensar quais seriam nossas escolhas de livros para pessoas como eu, você e a Nina: introvertidos.
"As Horas", de Michael Cunningham
Este livro é um dos meus preferidos e, por isso, sempre falo dele por aqui. Ele já foi Sugestão de Leitura e também apareceu em uma Galeria de Fotos.
"As Horas" conta a estória de três mulheres: Virginia Woolf, Laura Brown e Clarisse Vaughn.
Ao escrever sobre Virgínia Woolf (minha musa), Cunningham imaginou como teria sido seu último dia de vida, em Oxford, no final do século 19, quando Woolf cometeu suicídio.
Laura Brown é uma dona de casa nos anos 50, tem um filho pequeno e marido. Ela se sente na obrigação de cuidar do seu marido, pois ele foi soldado na Guerra e sofreu bastante. No entanto, ela não quer cuidar da casa, nem do filho, pois ela começou a se questionar se aquele era o papel que ela queria desempenhar pelo resto da vida. O questionamento começa porque ela lê “Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf.
Clarisse Vaughn é editora e escritora em Nova York e gosta de receber pessoas em sua casa e oferecer festas, exatamente como a personagem Mrs. Dalloway. Aliás, este é seu apelido. Ao deparar-se com a doença terminal de seu melhor amigo, toda a angústia e melancolia que Clarisse escondia atrás das festas vem à tona, e ela começa a remoer o passado.
A narrativa é bastante introspectiva, recheada dos fluxos de consciência que permeiam as três personagens a relatando suas angústias, sentimentos e pensamentos. É um livro sobre a libertação feminina, sobre encontrar sua própria essência e sobre as tentativas de sermos felizes. É sensível, subjetivo e muito poético.
Para quem ficar interessado na obra, escrevi um artigo chamado "O delicado universo feminino em As Horas, de Michael Cunningham" que pode ser lido aqui.
E para quem se interessou também pela obra "Mrs. Dalloway", de Virgínia Woolf, falei sobre ela aqui e aqui.
"Água Viva", de Clarice Lispector
Este livro da Clarice, publicado em 1973, é conhecido como uma "poesia em forma de prosa". Foi meu primeiro contato com a escritora, quando eu tinha apenas 17 anos, e posso dizer que, depois da leitura dele, nunca mais fui a mesma. O estilo da Clarice e desta narrativa me nortearam desde então, tanto na minha forma de escrever como, principalmente, de ver o mundo.
O enredo não tem acontecimentos, conflitos, ação ou personagens: trata-se de um estudo sobre a vida, chamada por Clarice de "it" - aquele "algo mais", o "quê", o "ziriguidum" que nos faz seguir em frente quando todo o resto desmorona.
Clarice também ressignifica palavras ("ser não é verbo de ligação, é verbo intransitivo"), cria termos, abusa de metáforas e reflexões. Descreve flores de um jeito que só ela é capaz. Fala que a real alegria da vida é "mansa e verde".
O fluxo de consciência da escritora é profundo, complexo e intrincado. É um livro para se ler com calma e muita concentração, pois é preciso se permitir perder-se em meio aos pensamentos dela, sem medo de esquecer de si mesmo.
"Memória da Água", de Emmi Itäranta
Falei sobre este livro aqui, no Desafio Livros pelo Mundo: Finlândia, e achei que ele seria uma ótima escolha para este Guia pois a protagonista, Noria, representa a introversão de um jeito delicado e sensível.
Em um futuro distópico, a água salgada inundou todos os continentes do planeta e, com isso, poucos trechos de terra ainda existem. Tais trechos compõem o império de Nova Qiann. A economia desta sociedade é baseada na água potável, cada vez mais difícil de ser encontrada. A água é regulada pelos militares para a população, tornando-se a moeda corrente do império. Quando alguém encontra e se utiliza de uma fonte de água potável sem a autorização dos militares, esta pessoa (ou família) é acusada de cometer o "crime da água" e são sentenciados à morte por execução.
No livro, conta-se a estória de Noria, filha de um mestre do chá reconhecido e tradicional do império. Os mestres do chá são profissionais muito respeitados na sociedade, pois possuem uma tradição de milênios na arte de cuidar das águas e de manipular a água com veneração. Eles também são responsáveis por zelar pelas nascentes de água, que tornaram-se fontes de riqueza para os militares em Nova Qiann.
Noria vive sozinha e dedica-se a manter seu segredo a salvo, uma vez que seu pai deixa para ela uma fonte de água potável escondida em uma caverna, atrás de sua casa. Como ela está cometendo um "crime da água", ela precisa se isolar do resto da comunidade e, por isso, o livro é focado em narrar seus sentimentos, pensamentos e descreve a forma - linda - com a qual Noria lida com o mundo.
Bônus: além destes três livros que destaquei neste post, há também outras indicações espalhadas pelo Perplexidade e Silêncio que podem inspirar as almas introvertidas. Os links estão aqui embaixo para quem quiser xeretar mais um pouco.
Tem alguma sugestão de livros para este Guia? Deixe aí nos comentários! (:
4 Comments
Fiquei bastante curiosa com o primeiro e com o terceiro. Sobre o segundo, eu não consigo explicar, mas tenho muita birra com a Clarice. A única coisa que li dela foi a tradução de Entrevista com o Vampiro, mas por algum motivo a sugestão do nome dela já me deixa meio "meh".
ResponderExcluirTambém nunca li nada de Virginia Woolf, mas, diferente da Clarice, aqui não foi por falta de vontade, muito pelo contrário.
Sentimentaligrafia
O problema com a Clarice foi que, depois que criaram as redes sociais, banalizou demais trabalho dela, e aí dá birra mesmo. Na época que comecei a lê-la, eram outros tempos, não se falava dela, não havia redes sociais, etc. Mas não deixe isso te desanimar não, ela é linda linda !
ExcluirAmei esse guia <3
ResponderExcluirEu sou uma pessoa bastante introvertida e também gosto de livros reflexivos, que focam mais no interior do personagem do que nos acontecimentos exteriores. Acho que é por conta da nossa identificação com essa maneira de ver o mundo, né?!
E curiosamente esses dias estava buscando por aí livros para ler, vi "Memória da Água" e me interessei. Agora meu interesse aumentou mais ainda!
Também fiquei bem curiosa com o primeiro.
Até agora não li nada da Clarice, mas preciso mudar isso. Tenho um certo receio dos livros dela não serem o tipo de livro pra mim. Mas só lendo pra descobrir.
Beijos!
Li tantas resenhas negativas sobre o "Memória da Água" que, quando li, fiquei me perguntando onde as pessoas estavam com a cabeça! rs É um livro tão bonito, tão delicado, vale muito a leitura!
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