Já Li #65 - Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés


Conheci este livro através do Instagram da Emma Watson e, como ela é boa em recomendar livros empoderadores, coloquei-o na minha lista de leitura. Hoje, a resenha é sobre "Mulheres que Correm com os Lobos" de Clarissa Pinkola Estés.

Clarissa Pinkola Estés é psicanalista Jungiana. Jung é mais conhecido do grande público como o analista de sonhos e o criador do conceito de "inconsciente coletivo" mas, claro, ele propunha uma teoria mais complexa e profunda sobre o entendimento da psique humana. Estudando etnias e tribos, Clarissa juntou as teorias jungianas com seus próprios estudos antropológicos, lhe rendendo uma série de livros, incluindo "Mulheres que Correm com os Lobos". Por isso, antes de mais nada, o leitor não deve esperar um romance, pois este livro é mais um estudo do que uma narrativa.

Originalmente publicado em 1992, "Mulheres que Correm com os Lobos", o livro ficou 145 semanas consecutivas na lista de best-sellers do The New York Times. Grande parte do sucesso do livro deve-se ao fato de Clarissa ter reunidos contos, fábulas e mitos de diversas tribos ao redor do mundo, perpetuando culturas normalmente esquecidas do grande público.

A premissa de todo o livro - e o fio condutor dos contos selecionados pela autora - é a noção de que a mulher foi domesticada por séculos de patriarcalismo, perdendo sua essência mais selvagem e primária, a que ela chama de Loba. Tal essência, reprimida por casamentos, leis, governos e costumes, acabaram por deixar as mulheres deprimidas, frígidas e confusas, sentindo um vazio que nada preenche. Algo como a sensação de Mrs. Dalloway de Virgínia Woolf

A idéia de Clarissa é que as mulheres devem reconectar-se com a Loba, uma identidade há muito perdida onde as mulheres eram mais guerreiras e donas de si. Para justificar sua teoria, Clarissa faz conexões com lendas tribais antigas e de como, nelas, a mulher tinha um papel dominante, configurando seu próprio destino e sendo mais "visceral". Não é difícil perceber a diferença do papel das mulheres comparando-o com as estórias romantizadas da Disney, por exemplo. Logo no início do livro, Clarissa convence o leitor - e sobretudo as leitoras - de que, realmente, há algo errado.

É este apelo emocional e apaixonado que conquistou tantos admiradores da obra. Clarissa não se preocupa com estilística ou com a narrativa: ela quer transmitir a paixão dela pelo tema e quer provocar raiva, indignação e movimento. Por isso, espere bastante repetição de termos e argumentos, bem como um tom de conversa ao longo do livro todo, além de alguns eventuais clichês (perdoáveis, em todo o caso).

Os contos que Clarissa traz são, na minha opinião, a parte mais interessante do livro. Primeiro, gosto muito de conhecer a cultura de outros lugares e nada melhor que a tradição oral para transmitir os valores de uma comunidade. Segundo, porque são estórias autênticas e diferentes do que estamos acostumados a ler/ouvir, o que parece "acordar" o cérebro para novas narrativas. E, por fim, os contos e lendas exemplificam de forma muito clara como a essência da mulher e sua identidade principal era diferente séculos atrás. 

Meu único problema com a leitura foi a forma de escrever de Clarissa. Não gostei de seu estilo exagerado - embora entenda o apelo - e também me incomodou a falta de estrutura do livro. Logo na primeira página, ela concede o insight da obra, e as outras mais de 500 páginas são apenas uma repetição deste insight. Por isso, a leitura foi se tornando muito cansativa para mim e eu quase desisti da leitura várias vezes.

Em relação à mensagem que Clarissa transmite, só posso pensar que faz sentido porque ela fica em você, leitora, quando acaba o livro. Como se você tivesse redescoberto algum pedacinho seu lá no fundo de um armário, todo empoeirado e sujo mas, ainda assim, valioso.  

Com tudo isso, só recomendo a leitura para pessoas que gostem do estilo soul searching. Do contrário, a obra não será aproveitada em seu potencial.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

8 Comments

  1. Olha só... serei julgada como herege, talvez, mas achei, como vc, leitura que cansa. Repetitiva, entremeada de Jung para leigos, com um toque de autoajuda mística ou sei lá... enfim. Neste sellers são assim... ame-os ou deixe-os.

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    1. Estou lendo e já quase abandonei várias vezes, repetitivo, muito auto ajuda , tomara que melhore rsrsrs

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  2. gente que ainda escreve "estoria“ não merece crédito algum.

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    1. "Empregava-se a forma estória quando a intenção era se referir às narrativas populares ou tradicionais não verdadeiras, ou seja, ficcionais. Já a palavra história era utilizada em outro contexto, quando a intenção era se referir à História como ciência, ou seja, a história factual, baseada em acontecimentos reais."
      Antes de sair comentando de forma negativa, e não construtiva, sugiro se informar.
      Abraço, Rúbia

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  3. Talvez o comentário foi referente a grafia da palavra estória?

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  4. Estava à procura de comparações entre as edições 1992 e 2018 para decidir qual comprar...e eis que encontro essa resenha!!! Faz todo sentido ser pautada em Jung. Fiquei confusa e em dúvida se devo adquirir. Realmente, só lendo para tirar as próprias conclusões. Torcer para a edição mais recente ter sido revista.
    Muito boa análise!

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  5. Oi apenas um adendo. Não existe Psicanalista Junguiana, o correto seria Analista Junguiana. Psicanálise é outra vertente, e é diferente da abordagem Junguiana.

    Abraços

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