Desafio Livros pelo Mundo | África do Sul: Iluminadas, de Lauren Beukes


O Desafio Livros pelo Mundo tem o objetivo de disseminar a literatura de países fora do eixo EUA-Inglaterra. Aqui no Perplexidade e Silêncio já passaram 22 países e o de hoje é a África do Sul, representado por Lauren Beukes com o livro "Iluminadas".


Lauren Beukes, nascida em Johannesburg, estudou Escrita Criativa e escreveu como freelancer para jornais por mais de dez anos. Depois, começou a se aventurar com contos e escreveu seu primeiro romance em 2008.

Quem acompanha o blog sabe que adoro o tema de viagem no tempo e foi por causa disso que cheguei a "Iluminadas". Publicado em 2013, é o primeiro livro de Lauren Beukes que não é ambientado na África do Sul e, sim, em Chicago.

A estória começa na época da Grande Depressão, no começo dos anos 30. Harper Curtis, além de viajante do tempo, também é serial killer. Ele encontra a chave para uma casa que é um portal para as viagens no tempo e, com isso, ele vai e volta no passado e no futuro, conhecendo suas vítimas quando elas eram crianças e avisando-as de que voltará para matá-las. Ele também deixa objetos com as suas vítimas e, quando retorna, os pega de volta, fechando um círculo.
Além disso, como Harper pode ir e voltar no tempo, ele comete os crimes perfeitos, pois ninguém nunca é capaz de encontrá-lo tampouco de descobrir pistas.

Harper escolhe suas vítimas quando sente que uma menina é iluminada, em comparação com as outras. Assim, nos capítulos que são escritos no ponto-de-vista dele, aparecem suas vítimas e o enredo conta como ele as conheceu no passado e porque elas "brilhavam". Depois, Lauren narra como ele as encontrou no futuro, quando retornou para matá-las. No começo, senti dificuldade de gravar quem era quem na estória mas, depois de um certo tempo, comecei a entender a estrutura narrativa do livro e a leitura passou a fluir melhor.

Mas, claro, irá aparecer na estória alguém que irá descobrir o segredo de Harper. Trata-se de Kirby Mazrachi. Harper tenta assassiná-la mas Kirby não morre de imediato e vai para o hospital. Ele se passa por um tio da garota para visitá-la e, ao chegar no quarto do hospital, sua mãe diz que Kirby morreu, o que era mentira. Assim, ele dá o "círculo" por encerrado e esquece a garota. Quando ele vai para o futuro, Kirby o vê e o reconhece e começa a caçá-lo.

Kirby é uma personagem interessante. Uma adolescente dos anos 80, ela começa a escrever como freelancer para um jornal decadente de Chicago, apenas como pretexto para ficar longe de sua mãe drogada e depressiva. Ela se torna a estagiária de Dan, que escreve sobre Esportes, o que é tedioso e frustrante para ambos. Na redação do jornal, ela se depara com um crime que a lembra de sua própria tentativa de assassinato e, a partir disso, Kirby fica obcecada por encontrar o serial killer.

Achei a combinação de thriller com ficção-científica muito boa. Lauren Beukes conseguiu segurar bem as duas pontas, fazendo as correlações necessárias e sustentando ambos os gêneros. Foi uma leitura interessante pois, ora eu estava curiosa para saber como os crimes se desenrolariam, ora ficava fascinada com as viagens no tempo. A parte de investigação criminal, feita por Kirby e Dan, teve alguns altos e baixos mas, no geral, me agradou e prendeu minha atenção. 

No entanto, tive algumas ressalvas ao longo da leitura.
Primeiro, não gostei da forma como Lauren Beukes organizou a estrutura do livro. As idas e vindas no tempo, em alguns momentos, ficaram confusas, pois a escritora tentava juntar muitos elementos que ficaram dispersos ao longo de diversos capítulos. Estes elementos deveriam ter sido mais concentrados e em menor quantidade. Por exemplo: Harper deixa vários objetos nas cenas do crime e, normalmente, são objetos do futuro que ele leva para o passado, como uma fita cassete num crime dos anos 40 ou uma figurinha de beisebol de um jogador que nem era nascido. Estes objetos somados ao grande número de vítimas deixou o enredo poluído.
E a segunda ressalva é o relacionamento amoroso entre Kirby e Dan. Achei uma evolução denescessária de ambas as personagens, que poderiam ter seguido caminhos mais originais e convincentes. Dan é pouco construído ao longo da trama e é difícil comprar que Kirby se apaixona por ele.

Mas, mesmo assim, de forma geral, gostei da leitura. Lauren Beukes foi corajosa ao unir dois gêneros literários tão distintos e é um livro que recomendo.


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