Sugestão de Leitura | Trilogia Shiva, vol 1: Os Imortais de Meluha, de Amish Tripathi


Sempre fui fascinada pela cultura indiana e suas filosofias de vida. Por isso, quando vi uma trilogia fantástica dedicada a Shiva fiquei, ao mesmo tempo, curiosa e temerosa de que a obra pudesse desrespeitar as bases religiosas indianas. Foi com cautela que comecei a leitura da Trilogia Shiva e aqui, neste post, está minha opinião sobre o livro.

Amish Tripathi é o escritor indiano que detém o recorde de vendas mais rápidas de seu país. Ele largou sua carreira de quatorze anos na área de Finanças para dedicar-se à escrita. 

A premissa do enredo é contar a história do homem que, posteriormente, transformou-se na grande Divindade do Hinduísmo. Shiva, portanto, na estória, é um guerreiro tibetano destemido, inovador e espirituoso, que se vê como um estrangeiro nas terras da Índia. Seus modos e, principalmente, seu temperamento são vistos como diferentes e incompreensíveis, e o próprio Shiva tem dificuldades de adaptar-se aos costumes indianos.

Daksha é o Imperador de Meluha, um reino tido como a personificação da perfeição. Suas leis, economia, politica e higiene são idílicos e, por isso, Meluha é considerado o Império mais próspero e rico de toda a Índia. Daksha tem o objetivo de converter todos os indianos aos preceitos de Meluha, que é dominada pela doutrina dos Suryavanshi. Os Suryavanshi vivem pautados na ética, na moral e na noção de que todas as pessoas são iguais e, por isso, merecem ter exatamente as mesmas condições de vida. Daksha acredita que a forma de vida dos meluhianos é superior a todas as outras e, por isso, quer expandir seus domínios e levar a "iluminação" para todo o continente. Com isso, ele chega até a tribo tibetana de Shiva, os Gunas, e leva todos os habitantes desta tribo para Meluha, para mostrar-lhes a superioridade dos Suryavanshi.

Shiva e sua tribo são levados a Devagiri, capital de Meluha. Lá, eles são cuidados por uma equipe extremamente eficaz de médicos, que ministram a todos eles uma poção. Esta poção cura todas as doenças e enfermidades dos habitantes de Guna e, no caso de Shiva, lhe proporciona uma garganta azul. Os meluhianos ficam transtornados quando vêem a garganta azul de Shiva pois, para eles, trata-se da profecia do Neelkanth. Esta profecia diz que, quem quer que fique com a garganta azul depois de tomar o Somras (a poção), é o enviado divino que salvará os Suryavanshi de seus inimigos, os Chandravanshis. Imediatamente, Shiva é levado ao Imperador Daksha que, exultante, quer proclamar aos quatro ventos que o Salvador chegou.

Porém, Shiva não se sente bem com o papel recém-adquirido de Neelkanth. Neste aspecto, Shiva se enquadra como um herói relutante (veja "Os Sete Tipos de Heróis" aqui). Ele ainda não compreende inteiramente qual é o conflito que existe entre os Suryavanshi e os Chandravanshis e, por isso, não se sente confortável lutando uma guerra que ele nem sequer entende. Shiva também fica incomodado com a deferência com a qual é tratado, uma vez que não se julga merecedor dela.

Quem, aos poucos, provoca mudanças em Shiva é Sati, filha do Imperador Daksha. Sati é uma personagem feminina interessante: ela é muito corajosa, luta ao lado do exército, é generosa e praticante ferrenha dos preceitos dos Suryavanshi. Ao contrário dos clichês em estórias do gênero, Sati não se apaixona imediatamente por Shiva e prefere manter-se afastada e isolada. Com o tempo, Shiva descobre que Sati é uma vikarma, ou seja, os meluhianos acreditam que ela está contaminada por um karma ruim, uma vez que deu à luz um filho morto no mesmo dia que seu marido morreu e, por isso, ela não pode tocar ninguém. Os Suryavanshi acreditam que o karma ruim é contagioso e isolam os vikarma da sociedade.

Shiva fica indignado com esta lei meluhiana e, com isso, começa a perceber algumas falhas no sistema deles, considerado infalível e perfeito. Motivado pelo desejo de salvar Sati, Shiva decide declarar guerra aos Chandravanshis. 

O enredo do livro é muito interessante e Amish Tripathi construiu Shiva como uma ótima personagem. Ele tem muito carisma (e ouso dizer que é um tanto sexy) devido ao seu humor sarcástico, sua forma irônica de enxergar o mundo  e sua relutância em tornar-se um Salvador. É fácil perceber como Shiva é tido como o Neelkanth, pois sua personalidade é única. As personagens coadjuvantes também são muito interessantes, pois percebe-se que Amish se preocupou em desenhá-las de forma complexa. 

A narrativa tem várias cenas de ação e de luta, também muito bem escritas por Amish. As cenas servem, predominantemente, para mostrar a força e a astúcia de Shiva e de Sati, mas também funcionam bem para fazer a estória avançar.

Gostei bastante da obra, principalmente do desfecho. Há um plot twist bem legal na parte final da estória, que me deixou motivada a ler os próximos volumes da Trilogia.

Outra obra da literatura indiana que já passou pelo blog foi "O Deus das Pequenas Coisas", de Arundhati Roy. Para saber mais sobre este livro, clique aqui.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

1 Comments

  1. O livro distorce a historia do mito de Shiva e Parvati. Parvati ou Sati não teve outro marido. Como são além de almas gêmeas, também deuses, a relação é extremante sagrada. E ambos nasceram um para o outro.

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