Já Li #213 - Johnny Panic e a Bíblia dos Sonhos, de Sylvia Plath

 

O tema desta resenha é a coletânea inédita de Sylvia Plath, com contos escritos ao longo de um período de quatorze anos, intitulado "Johnny Panic e a Bíblia dos Sonhos".

Aqui no Perplexidade e Silêncio temos outros posts sobre a escritora, caso seja do seu interesse:
O que ler de Sylvia Plath?
O que aprendi sobre ser escritora com Sylvia Plath

Esta coletânea de contos reúne obras de Plath de diversas épocas e nos mostra sua evolução como escritora. Inclusive, por muitas vezes, me perguntei se ela gostaria que estes contos tivessem sido publicados, pois em alguns deles vemos uma certa falta de refinamento que, no final das contas, é legal de ler. Separei para este post os contos que mais gostei.

Johnny Panic e a Bíblia dos Sonhos: conto que dá origem ao livro é, realmente, um dos melhores, talvez por ser o último escrito (em ordem cronológica). Nele, a protagonista é obcecada em registrar seus sonhos em um diário ao mesmo tempo em que sente muito medo do mundo ao seu redor. Aos poucos, sua sanidade mental vai ficando comprometida, pois ela começa a misturar os sonhos com a realidade, ao mesmo tempo que o medo generalizado vai tomando conta de sua personalidade. O processo de desintegração de sua racionalidade foi muito bem escrito por Plath.

O dia em que o Sr. Prescott morreu: conto que fala sobre morte e luto, através da perspectiva da protagonista, que vai contra a vontade ao funeral do Sr. Prescott. Suas reflexões sobre a vida e sobre a maneira como lidamos com a morte me tocou bastante.

A caixinha de desejos (1957): conto que aborda a frustração da protagonista em não ter pensamentos criativos, lúdicos ou fantasiosos, e sua cobrança interna por ver o mundo de um jeito cru demais. Em paralelo, seu marido é imaginativo e espontâneo, o que causa uma crise conjugal. Ela evita dormir pois não sonha, e a falta de sonhos a incomoda demais. No fim, ela decide tomar remédios para induzir um sono com sonhos, e acaba falecendo de overdose. Muito bem escrito, um dos meus preferidos.

O domingo dos Minton: aqui Plath brinca um pouquinho com o surrealismo, e achei que talvez ela pudesse ter explorado mais esse aspecto na sua escrita. O conto fala sobre o relacionamento de dois irmãos que, já idosos, se detestam mas moram juntos, e tentam resgatar as memórias do passado.

Dia de sucesso: em uma época que as mulheres eram donas-de-casa e apenas os homens trabalhavam, uma esposa fica extremamente enciumada quando o marido, escritor, consegue um grande contrato com uma editora, e precisa passar muito tempo com sua agente, uma "ruiva muito bonita". Este conto tem uma energia Virginia Woolf muito interessante.

De forma geral, o livro me soou experimental. Houve contos que pareciam brincadeiras de Plath, quase como se fossem ensaios para suas obras principais, o que, para algumas pessoas, pode soar ruim. No meu caso, eu gostei pois sempre fico curiosa para saber a jornada dos escritores que eu gosto, como eles começaram e no que evoluíram. 
Alguns contos eu não gostei e não terminei de ler, mas isso é esperado de qualquer coleção. O ponto positivo desta antologia é a forma como ela reflete o domínio de Plath das palavras e das emoções, e a sua capacidade de traduzi-las em imagens claras e vívidas. Também gosto da forma como ela vê a natureza do ser humano, sendo capaz de desenvolver suas camadas mais profundas em poucas páginas.

É uma leitura que recomendo para quem gosta deste estilo de contos, sabendo que pode ser um livro que não agrade a todos.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 3/5

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