Já Li #217 - Lua de Sangue, de N. K. Jemesin

 

Meu primeiro contato com N. K. Jemesin não foi o melhor, e aí resolvi dar uma segunda chance à autora. No post de hoje, falaremos de "Lua de Sangue".

Aqui no Perplexidade e Silêncio também temos este post de N. K. Jemesin: A estranheza de ler um livro em segunda pessoa

Publicado em 2012, "Lua de Sangue" acontece na cidade de Gujaareh, onde a paz é mantida através do controle da vida e morte dos corruptos pelos Coletores, que tomam a alma das pessoas enquanto elas dormem. A energia retirada dos sonhos pelos Coletores pode ser convertida em cura de problemas de saúde pela ação dos Compartilhadores. Todos eles servem à Deusa Hananja e são administrados pelo governo Hetawa, mas seus costumes não são bem aceitos em outras partes do continente.

Ehiru, um dos Coletores mais experientes, comete um erro durante coleta de alma, o que lhe causa grande sofrimento. Nijiri, seu pupilo, ainda muito inexperiente na arte da coleta, precisa ajudá-lo, mesmo sem saber como. Paralelamente a isso, temos a história do Príncipe do país e de Sunandi, uma embaixadora de um país vizinho, que busca quem foi o assassino de seu mentor. Nesta busca, Sunandi descobre uma grande corrupção em Hetawa, e Ehiru é enviado para coletá-la (matá-la) antes que ela exponha tudo o que sabe. 

Tive muita dificuldade em me concentrar na leitura, e quase desisti do livro várias vezes. Meu principal problema foi a tonelada de palavras, nomes e lugares que Jemesin inventou para esta história, todas elas impenetráveis, na minha opinião. O universo mágico dela, para mim, foi um grande muro que, por mais que eu tentasse escalar, não conseguia e, quando eu estava quase decifrando o que Jemesin criou, ela subia ainda mais o muro. Muito desanimador, e ouso dizer arrogante da parte da autora. As palavras e os nomes da história me soavam prepotentes, quase como se Jemesin não quisesse que o leitor realmente entrasse na sua obra. Senti preguiça várias e várias vezes.

Como consequência do que menciono acima, não me vinculei a nenhum personagem. Até que eu entendesse o que eram os Coletores, quem era Hetawa (uma pessoa? um lugar? uma entidade abstrata?), Gujaareh (uma vila? o país? uma nova palavra para "mundo?), Ehiru e Nijiri eram apenas mais dois nomes que eu não entendia em parágrafos intermináveis. Quando finalmente me situei no universo mágico da autora - lá pelos 64% de leitura, segundo o Kindle - o arco de Ehiru já tinha avançado e eu não me importava mais com nada, tamanho o ranço com a obra.

E aí faço uma reflexão, comparando com o excelente livro de Ishiguro "Klara e o Sol". Existe uma linha tênue entre não subestimar o leitor e permiti-lo desvendar a obra, o que Ishiguro faz com perfeição, e não fornecer absolutamente nenhuma explicação ao leitor, abandonando-o, que é o que Jemesin fez.

Além disso, a narrativa carece de profundidade. Teoricamente, temos um enredo interessante, de um Príncipe que, para combater a corrupção de seu país, adota práticas religiosas que o tornam a pessoa mais corrupta que já existiu. Ehiru, que deveria ser o guardião das almas, se perdendo cada vez mais em si mesmo, ao passo que, Sunandi atua como agente dupla. Teríamos um livro incrível, não fosse a preocupação de Jemesin em criar palavras que não existem, ao invés de realmente dedicar tempo e espaço para as personagens brilharem.
Sunandi é um desperdício de personagem, com potencial para ser a protagonista. Uma pena.
A consequência direta e imediata desta falta de desenvolvimento dos personagens é o tédio. Como leitora, não me conectei a nada e a ninguém, e terminei a leitura mais por um desafio pessoal de "até onde eu aguento" do que por qualquer mérito da obra.

E, por fim, mesmo o conceito mágico de coletar a alma das pessoas pelos sonhos parece requentada. Sei que Jemesin se inspirou na cultura egípcia mas fiquei com a sensação de que faltou alguma coisa para transformar esta inspiração em algo mais original. Eu só conseguia pensar que um livro bom mesmo sobre coleta de almas é o Ceifador, de Neal Shusterman. Esse sim vale a leitura.

Um dos livros de fantasia mais desinteressantes que já li, e não recomendo a leitura.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 1/5

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