Já Li #216 - Os Sete Enforcados, de Leonid Andreiev

 


Fernando Sabino organizou, pela Editora Rocco, uma coleção intitulada "Novelas Imortais", reúne histórias mais curtas e menos conhecidas de escritores clássicos e, neste post, falaremos de "Os Sete Enforcados" de Leonid Andreiev.

Nascido em 1871 na Rússia, Andreiev escrevia contos e peças de teatro da chamada Era de Prata, ou Belle Époque, que é a era que marcou o início da participação das mulheres na literatura e também uma maior abertura de temas.

Em "Os Sete Enforcados", encontramos sete personagens diferentes, todos eles condenados à forca por seus crimes. Temos um grupo de cinco amigos, que planejou um atentado ao governo vigente, e dois assassinos. Andreiev não entra em detalhes e nem no mérito se suas condenações foram justas ou não, tampouco nos fornece muitos detalhes sobre a história de vida de cada um. O grande tema do livro é, afinal de contas, a morte em si, e Andreiev explora como cada pessoa lida com a iminência de sua própria morte.

Temos uma personagem que recebe a notícia da morte com alegria, pois sua visão religiosa do mundo acredita que a morte é um conceito humano, e não uma realidade universal e, por isso, passa as horas que antecedem seu enforcamento pensando no que virá a seguir.
Em outro personagem, este uma mulher, sua maior preocupação é como seus amigos estão lidando com a condenação. Ela gostaria de estar liberta para poder passar de cela em cela, lhes oferecendo o acolhimento que necessitam, e mal pensa em si mesma, mal registra seus próprios sentimentos em relação ao enforcamento iminente.
Há quem não queira encontrar sua família para uma despedida, pois o encontro só acentua o distanciamento entre eles, tornando a experiência ainda pior. 
Há quem se exercite e tente imprimir uma rotina ao encarceramento, como que tentando manter a sanidade frente ao que vem a seguir. E há quem se abandone de vez, completamente, permitindo que a loucura enfim chegue e fique, como um mecanismo de defesa da realidade.

A narrativa é escrita ao maior estilo da literatura russa, ou seja, violento, cru, sóbrio, pesado e escuro. Não há alívio de nenhum tipo ao longo do enredo, tampouco há acontecimentos muito grandiosos. O que acontece, acontece dentro dos personagens, e somente no final do livro eles se encontram e interagem com o mundo externo, cada um a seu modo. Esse estilo de escrita pode afastar alguns leitores.

Eu fiquei perturbada e angustiada com a leitura, porque fiquei imaginando como eu mesma reagiria à mesma situação - ou seja, Andreiev conseguiu de mim seu objetivo, que é justamente provocar essa reflexão. Quando nos deparamos com tantas reações diferentes ao mesmo evento, é inevitável que pensemos como nós reagiríamos a tudo isso. E o mais curioso, para mim, é pensar que a morte é a única certeza que temos, mas pensar sobre isso nos levaria à loucura. Por isso, preferimos deixar esse pensamento de lado mas, com enforcamento iminente ou não, a morte espera a todos de igual maneira. É um livro denso, pouco agradável, e que tem seu valor artístico.

Recomendo, mas não para todos.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 2/5

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